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São Paulo, domingo, 29 de junho de 2003

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No Brinco de Ouro, Guarani x São Paulo é a primeira partida da elite a ser regida por um trio de mulheres

Arbitragem passa batom para apitar em Campinas

MARÍLIA RUIZ
DA REPORTAGEM LOCAL

Futebol é coisa para homem. Menos em Campinas, que hoje verá a estréia de um trio feminino de arbitragem no comando de um jogo da Série A do Brasileiro.
Sílvia Regina Oliveira Carvalho, 39, Ana Paula de Oliveira, 24, e Aline Lambert, 26, vão ditar as regras da partida Guarani x São Paulo. Por ironia do acaso, no estádio Brinco de Ouro da Princesa.
Será a primeira vez de Sílvia e Aline em Nacionais. Ana Paula, que ficou conhecida depois de se destacar nas finais do Paulista-03, já havia sido escalada neste Brasileiro. Juntas, as três, que são filiadas à Federação Paulista, só apitaram jogos amistosos. O último, na "festa" promovida por Michael Schumacher, na Vila Belmiro, antes do GP Brasil de F-1.
A iniciativa de montar um trio feminino para figurar no sorteio da CBF foi de Armando Marques, presidente da Comissão de Arbitragem. O dirigente não fez alarde em relação à novidade. Espera que elas virem notícia pelas "qualidades morais, técnicas e físicas que têm, não pelo fato de serem mulheres". Mas não escondeu temer por eventuais reações.
"Não tem essa de homem ou mulher. O problema da mulher no futebol brasileiro passou e continua passando pelo preconceito e pela discriminação. Nós somos eternamente machistas", declarou Marques, que, apesar disso, informou estar preparando um trio feminino também para figurar nos sorteios da Série B.
Sílvia, Ana Paula e Aline desdenham o preconceito. Receberam a notícia da convocação para o jogo com entusiasmo e esperam não frustrar os espectadores, que vão julgar o trabalho delas ao vivo e a cores. Duas redes de TV, com tira-teima e tudo mais, mostram a partida ao vivo para São Paulo.
Para ajudar, além da concentração no jogo, "em primeiro lugar", elas não dispensam a nécessaire: batom, esmalte, brinco, perfume e espelho. "Não faço nada demais. Uso esmalte, jóia, perfume e retoco a maquiagem, bem suave, no intervalo. Como se estivesse indo para o banco", diz Aline, cuja atividade principal é a de bancária.
"Faço a unha e arrumo o cabelo. Como qualquer mulher. Mas, em campo, não é isso que está em jogo. Há 20 anos, quando me formei na escola da árbitros, existia preconceito. Hoje não. Sinto-me privilegiada", afirma Sílvia, uma das quatro brasileiras que ostentam o escudo da Fifa no uniforme.
Por causa da beleza, Ana Paula já foi tentada a desvirtuar-se da carreira no futebol. Depois de se destacar no Paulista, foi convidada para posar nua por duas revistas masculinas. Declinou dos convites porque prefere aparecer com a bandeira na mão. Quer chegar a uma Copa do Mundo.


Colaborou Sérgio Rangel, da Sucursal do Rio


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