São Paulo, domingo, 29 de julho de 2001

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FUTEBOL

Explicações para o inexplicável

RODRIGO BUENO
DA REPORTAGEM LOCAL

O que dizer após uma derrota da seleção brasileira, mesmo que ruim, para Honduras?
Durante a semana, as explicações para o momento trágico por que passa o futebol brasileiro tomaram conta da imprensa nacional e da internacional. Quase todas as explicações, é verdade, tiveram algum efeito, em maior ou menor grau, no fiasco épico do Brasil. Mesmo assim o que ocorreu em Manizales continua sem explicação, pois é inexplicável.
Não há um calendário decente no futebol do país. Perfeito, mas, a grosso modo, isso é uma coisa que nunca existiu aqui mesmo.
Há muito escândalo envolvendo dirigentes, denúncias de corrupção nas entidades que dirigem o esporte nacional. Certo, mas é algo que infelizmente vem acompanhando o futebol brasileiro (a diferença é que agora temos CPI).
Os técnicos do país não são tão bem preparados taticamente nem se preocupam muito com a forma que jogam os adversários. Com raras exceções, isso está correto, mas nos quase cem anos de futebol no Brasil sempre foi assim.
Os jogadores ficam muito ligados no dinheiro. Verdade, mas desde a década de 30 o profissionalismo está associado ao futebol (apesar das cifras bem menores).
Honduras, assim como uma série de outros países, está com o futebol mais desenvolvido. Justo, mas nem Honduras nem dezenas de seleções ascendentes têm nível para ganhar do Brasil (ainda). Há uma crise técnica no futebol brasileiro, uma vez que não existem mais tantos jogadores bons como antigamente. De fato a safra não é nada boa, mas o Brasil já entrou em campo com equipes medianas e venceu sem problemas seleções do terceiro escalão.
A televisão e a imprensa, de uma forma geral, atrapalham a equipe. Sem dúvida nenhuma um contato atribulado com a mídia pode resultar em transtornos para um time, mas os profissionais ligados à seleção estão bastante acostumados com a situação.
Há uma pressão, seja de patrocinadores, seja de torcedores, seja de quem for, sobre a seleção brasileira. Certamente tem, especialmente quando o rival é desqualificado, mas isso não nivela dois times de forças tão diferentes.
Poderia lembrar aqui mais uma dúzia de explicações para o drama que vive o futebol nacional, mas nada vai explicar a eliminação da seleção brasileira da Copa América na Colômbia.
A derrota do Brasil para Honduras foi uma surpresa que o futebol não via fazia tempo. Parte da imprensa estrangeira ridicularizou a seleção tetracampeã mundial. Outra parte decretou o fim do futebol brasileiro. A imprensa nacional fez as duas coisas.
Agora, a possibilidade de não ir à Copa pela primeira vez na história é real. Para o especialista ou para o torcedor sem informação, para o brasileiro ou para o mundo todo, é óbvio que um time que perde para Honduras é sério candidato a não ir para o Mundial.
O planeta está em estado de alerta. Ricardo Teixeira, Scolari, Nike, AmBev, atletas, imprensa, torcida, Fifa, Sul-Americana...
A situação é crítica, mas o futebol é uma área em que o inexplicável encontra bastante espaço.
O limite entre o inferno e o céu, entre bola na trave e gol no ângulo, é mínimo. Faltam só 12 jogos para o penta do Brasil (Chile e Venezuela, em casa, são dois desses). Alguém apostaria todo seu dinheiro que a seleção brasileira não será campeã da Copa-2002?

Panamá
Para quem gosta de história ou para quem precisa desesperadamente de um efeito motivador para a seleção, fica registrado que o Panamá já ajudou a levantar o futebol brasileiro no seu momento mais triste. O único confronto entre brasileiros e panamenhos aconteceu em abril de 1952, nos Jogos Pan-Americanos. O Brasil ficou quase dois anos sem jogar após a derrota na final da Copa de 50 para o Uruguai. No terceiro jogo da curta história do Pan-Americano, torneio que foi a única experiência de fusão entre a Sul-Americana e a Concacaf, a seleção, com Djalma Santos, Nilton Santos e Didi, goleou por 5 a 0 o Panamá e arrancou para o título.

Europa
Os campeonatos europeus começaram para valer neste fim de semana com a abertura do Alemão e do Francês. Na próxima semana, após seguidas colunas sobre o futebol na América, tratarei dos já tradicionais palpites (e desculpas) no início da temporada.
E-mail rbueno@folhasp.com.br



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