São Paulo, domingo, 29 de julho de 2001

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FUTEBOL

Conversa com os leitores

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Ao ler minha coluna do último domingo, um leitor concluiu que prefiro ver uma equipe jogar bonito e perder, a atuar feio e ganhar.
Nunca disse isso. Gostaria de ser apenas um visionário, um romântico, mas não consigo me afastar da realidade. A paixão e a razão são essenciais na vida.
Fui um atleta profissional e sei como é triste perder, mesmo jogando bem. Nenhum jogador e time entram em campo para dar espetáculo, e sim para vencer.
Os excepcionais ganham e dão show. A questão principal não é de postura tática, e sim de qualidade técnica.
Há muitas maneiras de ganhar. A vitória vai depender da qualidade e características dos jogadores, do adversário, do momento, do tipo de campeonato, da postura tática e de muitos outros fatores conhecidos e desconhecidos.
A seleção de 94 venceu com justiça e eficiência. Do seu jeito.
Um jovem leitor questionou minha opinião sobre o Denílson e as diferenças entre habilidade, técnica e criatividade.
No início da carreira do Denílson, pensei que ele seria um dos melhores jogadores do mundo. Enganei-me. Denílson é um bom jogador, espetacular driblador e extremamente habilidoso. Mas tem pouca técnica. Não passa, cruza, cabeceia, nem finaliza com precisão. Dribla excessivamente no momento e lugar errados. Banaliza o drible. Não surpreende. Fica fácil marcá-lo.
A técnica não é somente um conjunto de fundamentos básicos. É também atenção, disciplina, garra, equilíbrio emocional e capacidade de se adaptar às características dos companheiros.
O futebol é um esporte coletivo. Os grandes craques só brilham intensamente se forem amparados por um bom conjunto.
Antes, a habilidade no futebol brasileiro fazia a diferença. Hoje, não faz mais. Muito mais importante do que retornar ao futebol moleque é melhorar a técnica e a capacidade de competir.
Em todos os esportes, em todas as épocas, os atletas excepcionais foram habilidosos, técnicos e criativos. Se Garrincha jogasse hoje, brilharia da mesma forma. Se Denílson atuasse nos anos 60, não seria craque, como sugere o leitor. A criatividade é a capacidade de inventar, imaginar e adivinhar (divinare). Daí, divino, sinônimo de Ademir da Guia.
""Quem acumula muita informação, perde o condão de adivinhar" (Manoel de Barros).
Outro leitor diz que não adianta falar sobre técnica, tática e qualidade dos jogadores e que o problema é a bagunça fora de campo. Não é só isso.
As mudanças fora de campo são inevitáveis e urgentes.
É preciso acabar com a política de troca de favores, clientelismo e coronelismo, que assolam o futebol e o país. As mudanças já começaram lentamente e não têm retorno. A queda do Ricardo Teixeira e de presidentes de federações é questão de tempo. Alguns dirigentes de clubes perceberam o momento. São eles que vão agilizar essa transformação.
Espero que as mudanças não sejam apenas de nomes.
Enquanto isso não acontece, é preciso que o Felipão convoque os melhores e corrija os defeitos táticos. Seu grande erro tem sido privilegiar atletas que conhece. Ele se sente mais seguro. É uma visão provinciana. Seleção não é clube.
Depois da queda do Leão e de Luxemburgo, a imprensa e o público pediram a definição de um elenco e time. Foi o que o Felipão quis fazer. Mas não convocou os melhores. Ficou ainda pior. Teve de mudar de idéia.
""E quem são os melhores?", perguntam-me vários leitores. Comentarista precavido não se expõe e não escala sua seleção. É muito perigoso. Vou arriscar, baseando-me num esquema ofensivo e com três zagueiros.
Os 19 convocados: Marcos, Rogério, Cafu, Roberto Carlos, Vampeta (como armador e ala), Serginho, Antônio Carlos, Juan, Lúcio, Marinho (Grêmio), Mauro Silva (zagueiro e volante), Emerson, Juninho Pernambucano, Djalminha, Rivaldo, Romário, França, Marcelinho Paraíba e Edílson. Deixaria duas vagas para os Ronaldos e uma para o leitor.
Como o torcedor exige a escalação do time, vamos lá: Marcos, Juan, Antônio Carlos e Marinho ou Mauro Silva (dependendo da partida, poderia se transformar num volante); Cafu, Vampeta e Roberto Carlos; Juninho Pernambucano, Rivaldo, Romário e Edílson (até o retorno do Ronaldo).
É apenas mais uma opinião. Não tenho a pretensão de ser dono da verdade.
Essa, tem várias faces e ainda muda a cada instante.

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tostao.folha@uol.com.br



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