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FUTEBOL
Conversa com os leitores
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
Ao ler minha coluna do último domingo, um leitor concluiu que prefiro ver uma equipe
jogar bonito e perder, a atuar feio
e ganhar.
Nunca disse isso. Gostaria de ser
apenas um visionário, um romântico, mas não consigo me
afastar da realidade. A paixão e a
razão são essenciais na vida.
Fui um atleta profissional e sei
como é triste perder, mesmo jogando bem. Nenhum jogador e time entram em campo para dar
espetáculo, e sim para vencer.
Os excepcionais ganham e dão
show. A questão principal não é
de postura tática, e sim de qualidade técnica.
Há muitas maneiras de ganhar.
A vitória vai depender da qualidade e características dos jogadores, do adversário, do momento,
do tipo de campeonato, da postura tática e de muitos outros fatores conhecidos e desconhecidos.
A seleção de 94 venceu com justiça e eficiência. Do seu jeito.
Um jovem leitor questionou minha opinião sobre o Denílson e as
diferenças entre habilidade, técnica e criatividade.
No início da carreira do Denílson, pensei que ele seria um dos
melhores jogadores do mundo.
Enganei-me. Denílson é um bom
jogador, espetacular driblador e
extremamente habilidoso. Mas
tem pouca técnica. Não passa,
cruza, cabeceia, nem finaliza com
precisão. Dribla excessivamente
no momento e lugar errados. Banaliza o drible. Não surpreende.
Fica fácil marcá-lo.
A técnica não é somente um
conjunto de fundamentos básicos. É também atenção, disciplina, garra, equilíbrio emocional e
capacidade de se adaptar às características dos companheiros.
O futebol é um esporte coletivo.
Os grandes craques só brilham intensamente se forem amparados
por um bom conjunto.
Antes, a habilidade no futebol
brasileiro fazia a diferença. Hoje,
não faz mais. Muito mais importante do que retornar ao futebol
moleque é melhorar a técnica e a
capacidade de competir.
Em todos os esportes, em todas
as épocas, os atletas excepcionais
foram habilidosos, técnicos e criativos. Se Garrincha jogasse hoje,
brilharia da mesma forma. Se Denílson atuasse nos anos 60, não
seria craque, como sugere o leitor.
A criatividade é a capacidade de
inventar, imaginar e adivinhar
(divinare). Daí, divino, sinônimo
de Ademir da Guia.
""Quem acumula muita informação, perde o condão de adivinhar" (Manoel de Barros).
Outro leitor diz que não adianta falar sobre técnica, tática e
qualidade dos jogadores e que o
problema é a bagunça fora de
campo. Não é só isso.
As mudanças fora de campo são
inevitáveis e urgentes.
É preciso acabar com a política
de troca de favores, clientelismo e
coronelismo, que assolam o futebol e o país. As mudanças já começaram lentamente e não têm
retorno. A queda do Ricardo Teixeira e de presidentes de federações é questão de tempo. Alguns
dirigentes de clubes perceberam o
momento. São eles que vão agilizar essa transformação.
Espero que as mudanças não sejam apenas de nomes.
Enquanto isso não acontece, é
preciso que o Felipão convoque os
melhores e corrija os defeitos táticos. Seu grande erro tem sido privilegiar atletas que conhece. Ele se
sente mais seguro. É uma visão
provinciana. Seleção não é clube.
Depois da queda do Leão e de
Luxemburgo, a imprensa e o público pediram a definição de um
elenco e time. Foi o que o Felipão
quis fazer. Mas não convocou os
melhores. Ficou ainda pior. Teve
de mudar de idéia.
""E quem são os melhores?", perguntam-me vários leitores. Comentarista precavido não se expõe e não escala sua seleção. É
muito perigoso. Vou arriscar, baseando-me num esquema ofensivo e com três zagueiros.
Os 19 convocados: Marcos, Rogério, Cafu, Roberto Carlos, Vampeta (como armador e ala), Serginho, Antônio Carlos, Juan, Lúcio,
Marinho (Grêmio), Mauro Silva
(zagueiro e volante), Emerson,
Juninho Pernambucano, Djalminha, Rivaldo, Romário, França,
Marcelinho Paraíba e Edílson.
Deixaria duas vagas para os Ronaldos e uma para o leitor.
Como o torcedor exige a escalação do time, vamos lá: Marcos,
Juan, Antônio Carlos e Marinho
ou Mauro Silva (dependendo da
partida, poderia se transformar
num volante); Cafu, Vampeta e
Roberto Carlos; Juninho Pernambucano, Rivaldo, Romário e Edílson (até o retorno do Ronaldo).
É apenas mais uma opinião.
Não tenho a pretensão de ser dono da verdade.
Essa, tem várias faces e ainda
muda a cada instante.
E-mail
tostao.folha@uol.com.br
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