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São Paulo, terça-feira, 29 de julho de 2003

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Brasil testa hegemonia em "refugo" continental


Enquanto argentinos sobressaem na Libertadores, times do país dominam torneios de segundo escalão da Conmebol, como a Copa Sul-Americana, que começa amanhã para seis brasileiros


ALEC DUARTE
DA REPORTAGEM LOCAL

O futebol pentacampeão do mundo chancela amanhã, com um ano de atraso, a nona tentativa da Confederação Sul-Americana de emplacar um torneio alternativo à Taça Libertadores -disputada de forma contínua desde 1960 e, até hoje, seu único interclubes levado a sério.
Criada em 2002, a Copa Sul-Americana terá 12 brasileiros em sua segunda edição, que começa amanhã para seis deles: Corinthians, Atlético-MG, São Paulo, Grêmio, Palmeiras e São Caetano. Jogarão também Santos, Cruzeiro, Flamengo, Inter, Fluminense e Vasco. Os 12 disputam seletiva.
Não houve brasileiros no ano de estréia. Os clubes alegaram falta de datas. Pior para eles: se a Libertadores ainda é um ambiente hostil à terra de Pelé, o mesmo não se pode dizer dos torneios-tampão concebidos pela Conmebol.
Das 39 taças em jogo desde 1988 -ano em que começou a proliferação de campeonatos irrelevantes-, o Brasil conquistou 19. Quem mais se aproxima é a Argentina, que tem 15 triunfos.
A situação é inversa na Libertadores, na qual os argentinos ostentam 20 troféus, contra 11 dos brasileiros. A diferença de títulos já foi maior, mas diminuiu nos últimos 15 anos, quando o Brasil ganhou seis vezes o torneio.
A pequena durabilidade comprova a desimportância dos campeonatos criados pela Conmebol. Sete entre nove deles hoje descansam na lata de lixo da história.
Incentivada pelos interesses da TV, a entidade deu asas à imaginação e bolou todo tipo de disputa. O sonho sempre foi claro: estabelecer, como a "prima rica" Uefa, uma segunda competição de prestígio internacional. Em vão.
Em 2003, houve um esboço de reação: a Recopa, que hibernou por cinco anos, ressurgiu e confrontou San Lorenzo (ARG) e Olímpia (PAR), com vitória deste. O jogo foi nos EUA, e a disputa deve ir até 2007, sempre no país, para explorar o potencial latino.
Só que o longo prazo depõe contra a maior fragilidade desses campeonatos: a provisoriedade. Nesse terreno, nos demos bem como ninguém. Final sem brasileiros nessas competições foi uma raridade: o país foi a 30 delas.

Reservas campeões
Apesar de uma rara chance de ganhar um título internacional (ainda que inexpressivo), os torneios-tampão sempre foram considerados inconvenientes pelos clubes por apertar o calendário.
Não raro times reservas foram escalados, enquanto os titulares jogavam competições nacionais.
Mesmo assim, o Brasil acostumou-se a levar a melhor. Como em 94, quando o "Expressinho" do São Paulo ganhou a Copa Conmebol com uma goleada de 6 a 1 sobre o Peñarol na partida de ida.
Times que nunca venceram a Libertadores -como Atlético-MG e Botafogo- também puderam gritar "é campeão" nesses torneios. Até o modesto CSA, de Alagoas, foi finalista um dia.
Enquanto isso, envolvidas no Nacional, as potências argentinas nunca deram muita bola para as novidades sem-graça. Com exceção do Boca Juniors, com quatro conquistas, o resto divide migalhas. Os inexpressivos Lanús, Rosário Central e Talleres já levantaram taças continentais, mas nem por isso se tornaram famosos.
A fúria criativa da Conmebol provocou redundâncias no meio do caminho. O maior exemplo é a Copa Masters da Supercopa, em 92 e 94. O torneio reuniu os vencedores da Supercopa, que por sua vez já confrontava apenas campeões da Libertadores. Ou seja: era uma copa dentro de outra.
Em 98, a Conmebol superou limites geopolíticos e sugeriu aglutinar outro bloco, o Merconorte, que ganhou um torneio entre países excluídos da Copa Mercosul -outro parque de diversões dos brasileiros, que decidiram as quatro edições e ganharam três.
A Merconorte não vingou. Mas é a única que nunca viu um brasileiro campeão: disputada simultaneamente à Mercosul, nunca teve representantes do país.


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