São Paulo, sexta-feira, 29 de julho de 2005

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FUTEBOL

Robinho eterniza a Lei de Gérson

MÁRIO MAGALHÃES
COLUNISTA DA FOLHA

Não custa sublinhar, logo de cara: Robinho não é nenhum vilão do esporte, muito pelo contrário; é legítimo seu desejo de jogar no Real Madrid; seria anacrônico, na era do futebol como negócio transnacional, exigir-lhe amor à camisa -ama-se quem paga, eis a regra do jogo.
Ressalva feita, a constatação: Robinho protagoniza a mais triste novela em curso no futebol brasileiro. Ele ilumina, em campo, um país eclipsado pela desilusão com esperanças cultivadas por um quarto de século. Fora dele, comporta-se no estilo "esqueçam o que eu escrevi".
Robinho assinou um contrato pelo qual se comprometeu a defender o Santos até janeiro de 2008. Não custa pouco ao clube. Dos seus cofres saem mais de R$ 200 mil mensais para o gênio imberbe. Para ir embora antes do prazo, um novo patrão deve desembolsar US$ 50 milhões.
Ninguém obrigou Robinho a assinar o contrato. Não se conhecem atrasos de pagamento. O jogador abandonou o Santos em decisão unilateral. Diz que a cabeça está na velha agremiação monarquista madrilena. Onde estava na celebração do contrato?
Robinho chantageia ao não comparecer nem aos treinos. Deixou a equipe na mão. Alardeia a idéia de recorrer à Justiça trabalhista com o argumento: quer trabalhar, e o clube o impede. Ora, tudo o que o Santos quer é que Robinho jogue. Foi ele que decidiu não cumprir o que prometeu. Que não quer trabalhar. Nunca recusou salário, que se saiba. Do contrato, fatura o que é bom e, como não dá para esconder, descumpre o que ruim lhe parece.
O trabalhador tem direito de decidir a quem vender sua força de trabalho. Robinho vendeu-a ao Santos por tempo determinado. É falsa a assertiva de que nessa contenda o atleta é a parte mais fraca. Robinho opera para o mais forte, o Real Madrid. O Santos só tem um trunfo: o contrato que firmou e honra.
Que não se diga que Robinho, por jovem, seja ingênuo, pois de ingenuidade nada há no jogo que ele faz.
Um jornalista argentino escreveu um artigo no "Lance!", afirmando que Robinho age como profissional. Então tá: ser profissional é fazer só o que se considera bom para si, ignorar o próprio garrancho e, pior, a própria palavra.
A mensagem involuntária de Robinho é que, se for para se dar bem, vale tudo. A velha Lei de Gérson: faça como eu, leve vantagem você também. Cedo ou tarde, vai vencer na Espanha. Para sair antes de 2008, basta o Real pagar ao Santos o valor estipulado no contrato em vigor.
O lamentável não é Robinho querer partir, mas apelar para o jogo baixo. Não se deve minimizar seu gesto.
No Brasil, a tolerância com pequenas transgressões éticas e delitos menores deu no que deu. A condição de craque não é prerrogativa para a negação de escrúpulos. Robinho não é vilão, é um herói do futebol. Tomara, mas tomara mesmo, que não seja um Macunaíma.

Apito indigente
Heber Roberto Lopes aparenta ter emagrecido. Mas continua longe dos lances. Se o que Mascherano fez anteontem não foi pênalti, o que seria? O pênalti contra o Cruzeiro foi invenção: o goleiro Fábio tocou na bola antes de se chocar com Tevez. O Corinthians, em boa forma, aproveitou os erros do árbitro para chegar aos 4 a 3.

Colheita
Com um pouco de capricho, o Furacão faria dez gols. Com Eurico Miranda é assim: em se plantando, tudo dá. Seu Vasco colhe (2 a 7) o que ele semeou.

Valeu
Morreu Jair Rosa Pinto. Glória eterna aos mais injustiçados brasileiros: os bravos vice-campeões de 50!

E-mail mario.magalhaes@uol.com.br


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