|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FUTEBOL
Robinho eterniza a Lei de Gérson
MÁRIO MAGALHÃES
COLUNISTA DA FOLHA
Não custa sublinhar, logo
de cara: Robinho não é nenhum vilão do esporte, muito pelo contrário; é legítimo seu desejo
de jogar no Real Madrid; seria
anacrônico, na era do futebol como negócio transnacional, exigir-lhe amor à camisa -ama-se
quem paga, eis a regra do jogo.
Ressalva feita, a constatação:
Robinho protagoniza a mais triste novela em curso no futebol brasileiro. Ele ilumina, em campo,
um país eclipsado pela desilusão
com esperanças cultivadas por
um quarto de século. Fora dele,
comporta-se no estilo "esqueçam
o que eu escrevi".
Robinho assinou um contrato
pelo qual se comprometeu a defender o Santos até janeiro de
2008. Não custa pouco ao clube.
Dos seus cofres saem mais de R$
200 mil mensais para o gênio imberbe. Para ir embora antes do
prazo, um novo patrão deve desembolsar US$ 50 milhões.
Ninguém obrigou Robinho a assinar o contrato. Não se conhecem atrasos de pagamento. O jogador abandonou o Santos em
decisão unilateral. Diz que a cabeça está na velha agremiação
monarquista madrilena. Onde
estava na celebração do contrato?
Robinho chantageia ao não
comparecer nem aos treinos. Deixou a equipe na mão. Alardeia a
idéia de recorrer à Justiça trabalhista com o argumento: quer trabalhar, e o clube o impede. Ora,
tudo o que o Santos quer é que
Robinho jogue. Foi ele que decidiu não cumprir o que prometeu.
Que não quer trabalhar. Nunca
recusou salário, que se saiba. Do
contrato, fatura o que é bom e, como não dá para esconder, descumpre o que ruim lhe parece.
O trabalhador tem direito de
decidir a quem vender sua força
de trabalho. Robinho vendeu-a
ao Santos por tempo determinado. É falsa a assertiva de que nessa contenda o atleta é a parte
mais fraca. Robinho opera para o
mais forte, o Real Madrid. O Santos só tem um trunfo: o contrato
que firmou e honra.
Que não se diga que Robinho,
por jovem, seja ingênuo, pois de
ingenuidade nada há no jogo que
ele faz.
Um jornalista argentino escreveu um artigo no "Lance!",
afirmando que Robinho age como profissional. Então tá: ser profissional é fazer só o que se considera bom para si, ignorar o próprio garrancho e, pior, a própria
palavra.
A mensagem involuntária de
Robinho é que, se for para se dar
bem, vale tudo. A velha Lei de
Gérson: faça como eu, leve vantagem você também. Cedo ou tarde,
vai vencer na Espanha. Para sair
antes de 2008, basta o Real pagar
ao Santos o valor estipulado no
contrato em vigor.
O lamentável não é Robinho
querer partir, mas apelar para o
jogo baixo. Não se deve minimizar seu gesto.
No Brasil, a tolerância com pequenas transgressões éticas e delitos menores deu no que deu. A
condição de craque não é prerrogativa para a negação de escrúpulos. Robinho não é vilão, é um
herói do futebol. Tomara, mas tomara mesmo, que não seja um
Macunaíma.
Apito indigente
Heber Roberto Lopes aparenta
ter emagrecido. Mas continua
longe dos lances. Se o que Mascherano fez anteontem não foi
pênalti, o que seria? O pênalti
contra o Cruzeiro foi invenção:
o goleiro Fábio tocou na bola
antes de se chocar com Tevez.
O Corinthians, em boa forma,
aproveitou os erros do árbitro
para chegar aos 4 a 3.
Colheita
Com um pouco de capricho, o
Furacão faria dez gols. Com Eurico Miranda é assim: em se
plantando, tudo dá. Seu Vasco
colhe (2 a 7) o que ele semeou.
Valeu
Morreu Jair Rosa Pinto. Glória
eterna aos mais injustiçados
brasileiros: os bravos vice-campeões de 50!
E-mail
mario.magalhaes@uol.com.br
Texto Anterior: Boxe - Eduardo Ohata: Guerra na cabine telefônica Próximo Texto: Futebol: Com medo, Palmeiras puxa freio de mão Índice
|