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BASQUETE
Tornozelos quebrados
MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE
Há vários caminhos para
um time superar a defesa
adversária. Pode confundi-la com
corta-luzes, atordoá-la com tiros
de longa distância, surpreendê-la
com a rápida transição para o
ataque ou, o básico, desmontá-la
na base da porrada.
Parece simples? Não é.
Quanto mais competitivo o jogo, mais sofisticada deve ser a
execução desses recursos. Os
"picks" requerem sincronia, os arremessos precisam cair, o contra-ataque necessita de foco, a pancada tem ser bem dada.
E, a despeito de treinos e ensaios
exaustivos, existem momentos
em que nenhuma das armas funciona, em que o time empaca e
ponto final -muitas vezes, por
mérito da marcação.
Por isso, não importa a tática,
haverá sempre demanda na quadra pelo improviso, pelo drible.
As finais da WNBA, recém-encerradas, foram um ótimo exemplo. Jogos feios, trancados, só resolvidos quando duas atletas provaram-se capazes de driblar.
Vale ressaltar que não me refiro
à imagem do drible do futebol, associada à desmoralização do oponente. Tampouco à tradução do
inglês "dribble", que quer dizer o
fundamento do bate-bola.
Trata-se, sim, do talento para,
do nada, conceber a cesta. E essa
capacidade têm de sobra Sheryl
Swoopes, 29, e Cynthia Cooper,
37, estrelas do Houston, tetracampeão norte-americano.
A primeira, voraz, dribla sempre em direção à tabela, sustentada pela explosão do movimento
de pernas (o chamado "first
step"). A segunda, mágica, como
um daqueles ratinhos espertos de
labirinto de laboratório, domina
a arte da aceleração e desaceleração durante o bate-bola.
Não é exagero creditar às duas
o sucesso texano -o esquema
ofensivo do time se sustenta na
auto-suficiência delas, ao espacejar (alienar) suas companheiras.
Assim como não é exagero afirmar que a falta de uma Swoopes,
de uma Cooper, é o principal problema da seleção brasileira que
estará nos Jogos de Sydney.
Ao contrário do que se poderia
esperar, uma vez que este é o país
do "jeitinho" e do "suingue", o time olímpico não sabe driblar.
Tanto que o técnico Antonio
Carlos Barbosa, passados quase
quatro meses de treinos, ainda
não definiu o quinteto titular.
Nem Helen, a principal armadora, nem Adriana, a principal arremessadora, têm cacoete e repertório para se virar sozinhas diante de uma defesa apertada.
Havia uma torcida para que Janeth suprisse essa carência. A ala
brasileira, afinal, passou as duas
últimas temporadas na WNBA
atuando na armação, aprimorando a condução de bola.
Mas a ducha de água fria veio
nas mesmas partidas que consagraram Swoopes e Cooper. Ficou
claro que Janeth continua atuando melhor perto da cesta, de costas para a tabela, criando arremessos em situações de "post-up".
E que ainda é incapaz de quebrar
tornozelos, de se aventurar no
mano-a-mano no perímetro.
Contra o New York, registrou
mais violações (8) do que assistências (5) e cestas (5).
Barbosa estuda uma saída arriscada, com Claudinha e Helen
compartilhando a armação. A
tentativa não entusiasma, mas
faz sentido. Cruze os dedos.
Drible 1
A TV traz nesta semana uma
chance espetacular para checar o trabalho de Barbosa. As
brasileiras pegam às 17h30 de
sábado, na ESPN Brasil, nada
menos do que a seleção norte-americana, favoritíssima
ao ouro em Sydney.
Drible 2
Para quem não se recorda,
trata-se de uma reedição da
última final olímpica.
Drible 3
Se para os fãs é imperdível,
temo que o amistoso seja
traumático para as meninas.
As americanas estão voando,
como ficou evidente no massacre sobre as canadenses (90
x 51), sábado. E as brasileiras
não sabem quem começa em
quadra...
Drible 4
E, às 23h, a ESPN International exibe jogo do "Dream
Team". Lá se vai o sábado...
E-mail melk@uol.com.br
www.uol.com.br/folha/pensata
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