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FUTEBOL
Brito, o homem do apito
JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA
Prriiii !
Adoro o som desse apito
novo. É mais agudo que o velho.
O centroavante está caído no
chão, mas aposto que não foi nada. O cara se contorce à beça, só
para ver se eu dou vermelho pro
zagueiro. Já o zagueiro aponta a
bola e diz que nem tocou no centroavante. É sempre igual. Vou
andar bem devagar até os dois, tipo o Paulo César de Oliveira.
Aquele gosta de chamar a atenção. Mas tá certo. Este momento é
nosso mesmo. A gente é que é a estrela quando apita uma falta.
Acho até que vou dar um amarelo pro zagueiro. A falta não foi
para tanto, mas esse zagueiro é
mesmo um folgado. No outro lance, disse que eu precisava de óculos. Será que eu preciso mesmo?
Agora ele vai ver. Amarelo! Levantei o braço bem rápido, tipo o
Armando Marques. E fiz cara de
mau, tipo o Godoy. Agora é só
anotar o número do zagueiro e...
Caramba!, o cara já tinha amarelo. Se tem coisa que eu odeio é expulsar jogador do time da casa,
mas agora não tem jeito. Vermelho! O cara vem protestar, mas eu
grito com ele, tipo o Gaciba. A
gente sempre tem que parecer que
tem certeza. Que tem autoridade.
O Gaciba erra com a maior autoridade. Um dia ele ainda vai ser
juiz de televisão. Isso é que é bom.
Um dia eu queria ser que nem o
Arnaldo César Coelho. Esse tem
tanta autoridade que nem depois
do replay diz que errou. Mas aí
vou ter que pintar o cabelo, que
eu já tô com uns fios brancos. Essa
Segundona é fogo! Ops, a bola
quase me acertou. Quem sabe no
ano que vem eu subo pra primeira? Pelo menos eu capricho nos
meus relatórios. E no uniforme.
Minha mãe sempre deixa eles
bem passados. Preciso mandar
um presente pro Armando Marques. Que dia mesmo ele faz aniversário? Opa, o meia do time visitante fez uma falta por trás.
Priiii!
Pronto, dei um cartão vermelho
e agora está tudo igual de novo.
Se um time fica com dez ganha
fácil. A gente tem que deixar as
coisas equilibradas. Tem regra escrita e regra não escrita. A torcida
gostou. O jogo começou de novo.
E esse lance, foi falta ou não? Droga, eu estava distraído! No que será que eu estava pensando? E
agora, o que eu faço? Dou amarelo pro atacante ou marco pênalti?
E se esse lance pode passar na tevê? Os comentaristas vão pegar
no meu pé. Ser comentarista é
moleza. Com câmera lenta, ninguém erra. Queria ver era eles
aqui. Vou dar pênalti.
Priiii!
Olha só como a torcida gostou.
Parece até que eu marquei um
gol. Vamos ver a cobrança. Putz,
o goleiro defendeu. Ele se adiantou um pouco, mas foi só um pouco. E não vou mandar cobrar de
novo, não. Gosto de empate. De
empate e de anunciar o tempo extra. Eu estico bem os dedos em cima do short. Vi um italiano fazendo isso uma vez. Vou dar só
um minuto. Esse minuto é o que
demora mais. Pronto, acabou.
Nenhum repórter vem me entrevistar. Paciência. O que será que a
minha mãe preparou pro jantar?
Hoje até que ela não foi muito
xingada.
Nogueira de lei
Para quem gosta de livros de
crônicas esportivas, saiu o novo
livro de Armando Nogueira, "A
ginga e o jogo" (R$ 28,90, 200
páginas). Armando escreve
desde a Copa de 50. Poucos, ou
nenhum, viram tantos craques,
times, jogos e decisões como
ele. Seu estilo é um tanto romântico, quase poético. Armando Nogueira pertence à dinastia de Mário Filho e Nelson
Rodrigues, à dinastia dos que
vêem o futebol através das lentes da emoção. É o tipo de cronista para quem vale menos o
gol que o drible, e menos o drible que o gesto.
Hai-cai
E segue aí um pio hai-cai sobre
zagueiros, desta vez enviado
pelo leitor Dirceu da Silva: "O
beque evangélico/quebra pernas/com ar angélico".
E-mail torero@uol.com.br
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