São Paulo, sexta-feira, 29 de setembro de 2000

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VÔLEI
Sem brigas ou provocações, Cuba repete 96 e tira o Brasil da decisão

Marcelo Ruschel/POA Press
Jogadoras da seleção brasileira de vôlei lamentam a derrota para Cuba, que tirou do Brasil a chance de disputar a medalha de ouro



Arqui-rivais, que na Olimpíada de Atlanta terminaram a partida em pancadaria, desta vez não trocaram farpas, mas a escrita se manteve, e cubanas vão tentar tri olímpico em Sydney


JOSÉ ALAN DIAS
ENVIADO ESPECIAL A SYDNEY

Não houve brigas, nem mesmo provocações. Pelo contrário, as rivais até se cumprimentaram terminada a partida. Mas, como há quatro anos, Cuba venceu por 3 sets a 2 e tirou o Brasil da final feminina do vôlei na Olimpíada.
Em uma hora e 44 minutos, a seleção bicampeã olímpica superou as brasileiras, com parciais de 27/ 29, 25/19, 21/25, 25/19 e 15/9, classificando-se para a disputa do inédito tricampeonato.
Ao Brasil caberá tentar repetir o resultado de Atlanta-96, quando conquistou o bronze. A decisão dessa medalha acontecerá na noite de hoje, a partir das 22h30 (de Brasília), contra os EUA. Duas horas mais tarde, Cuba disputará o título contra a Rússia -sobre quem a seleção feminina brasileira levou o bronze, a primeira medalha de sua história, em 1996.
Com somente três remanescentes do grupo de Atlanta (Leila, Fofão e Virna), o Brasil cumpria ao lado da Rússia a melhor campanha nestes Jogos. Em seis partidas, perdera um set. Cuba chegou à semifinal com uma derrota (para as russas) e cinco sets contra. Exceto por três jogadoras, o grupo cubano era o mesmo que havia triunfado na Olimpíada passada.
Nem com tal retrospecto evitaram que as brasileiras dominassem o primeiro set, dominassem outra vez até a metade da segunda parcial -que viriam a perder, como perderiam o quarto set.
Mais tarde o técnico da seleção, Bernardinho, admitiu que não conseguiu corrigir uma falha que custou dez pontos seguidos em apenas um set da partida.
Ao contrário de outros derrotados, não procurou explicações de cunho emocional para o fato.
"É uma desilusão mais uma vez não chegarmos à final da Olimpíada. Perdemos para a melhor seleção dos anos 90. Do ponto de vista técnico, as centrais (Janina e Walewska) não funcionaram. Do ponto de vista tático, o maior erro foi meu. Tentar e não ter conseguido consertar uma passagem em que Cuba sempre faz pontos", declarou Bernardinho.
Referia-se aos sete pontos anotados individualmente por Janina e Walewska, enquanto apenas Regla Torres, similar cubana, fez 22 pontos. Virna, a maior pontuadora da seleção, obteve 19.
Seu pecado ficou à mostra no segundo set: Marlenis Costa estava no saque e mirava Virna. Sacou dez vezes, sete deles praticamente sobre o corpo de Virna, tirando do ataque a principal jogadora brasileira. Restavam duas opções, fatalmente marcadas pelo bloqueio. Foi assim que Cuba passou de 9 a 16 para 18 a 16 em não mais que cinco minutos.
De nada adiantaram dois pedidos de tempo e duas substituições feitas por Bernardinho. "Sabíamos que elas iriam fazer pontos por ali, porque a Costa é excelente sacadora e tenta anular a Virna. Como as outras não conseguiam virar, Cuba acumulava pontos."
"Foi uma partida equilibrada, vencemos porque pensamos no momento em que precisávamos pensar. Cuba chega a mais uma final, e queremos que vocês torçam por nós. Somos a América", disse Mireya Luis, 36, considerada a maior jogadora da história e que ontem entrou em quadra uma única vez, uma quase homenagem em sua última Olimpíada.
Ao contrário da final do Pan de 1999, em Winnipeg, em que o Brasil venceu (3 a 2), Mireya não comemorou antecipadamente no banco de reservas. Já finalista, fez elogios às brasileiras. "Todas as brigas (a maior delas na semifinal de Atlanta) são coisas do passado. As brasileiras são gente muito boa", disse Mireya.
"É muito triste chegar tão perto e mais uma vez ficar fora da final", disse a atacante Virna.
"Nós lutamos. Não vamos ficar procurando álibis. Precisamos continuar trabalhando para diminuir a distância que nos separa de Cuba", disse Bernardinho.
"Este grupo não tem o mesmo talento da outra geração (de Ana Moser e Fernanda Venturini). Ninguém trabalhou mais do que elas para chegar onde chegaram."


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