São Paulo, quarta-feira, 29 de setembro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FUTEBOL

Ninguém é dono da verdade

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Nas equipes que jogam com dois zagueiros e dois laterais, há várias maneiras de se organizar o meio-campo e o ataque. A mais comum, utilizada pela maioria dos times da Europa, é o tradicional 4-4-2 com dois volantes, um armador de cada lado formando outra linha de quatro e mais dois atacantes. Esse esquema começou em 1966, com a conquista do Mundial pela seleção inglesa, e foi o usado pelo Brasil na Copa de 1994.
A mais comum variação é formar uma linha de três armadores e mais um meia ofensivo na ligação com os dois atacantes. Assim atuam a maioria dos times brasileiros, a seleção e algumas equipes da Europa, como o Milan. Se os três atletas do meio-campo forem mais marcadores do que apoiadores a equipe fica mais defensiva, como acontece muitas vezes com a seleção brasileira.
Anos atrás, os times brasileiros jogavam com dois volantes e dois meias ofensivos perto dos dois atacantes. Como os meias não marcavam, ficavam só dois no meio-campo para proteger os defensores. Hoje, raras equipes jogam assim, como o Fluminense com os meias Roger e Ramon e mais dois atacantes (Edmundo e Alex ou Romário).
O Corinthians, quando era dirigido pelo técnico Parreira, atuava com uma linha de três no meio-campo e três atacantes, sendo dois pelas pontas e um centroavante. Os pontas também marcavam os laterais. Os holandeses sempre jogaram dessa forma.
O Barcelona, que tem hoje uma das melhores equipes da Europa, atua num esquema bastante ofensivo, com apenas um volante (Edmilson), dois armadores (Xavi e Deco) que estão mais perto do ataque do que da defesa e mais uma linha de três atacantes. Os dois pelos lados não são pontas, e sim atacantes. Não há um centroavante fixo. Os três da frente se alternam no passe e na finalização. A mesma tática tem o Santos quando Vanderlei Luxemburgo coloca Basílio ao lado de Robinho e Deivid.
No Barcelona, Ronaldinho Gaúcho é um atacante pelo meio. Ele recua um pouco para receber a bola, e os dois atacantes pelos lados (Giuly ou Larsson pela direita e Eto'o pela esquerda) entram em diagonal para o meio. Desse jeito, mais perto da área, Ronaldinho é muito mais decisivo e extraordinário do que quando atua no meio-campo. Às vezes, ele troca de posição com Eto'o.
Essa maneira de atacar do Barcelona lembra a do Bangu, sensação do Estadual do Rio nos anos 60. Os atacantes Bianchini e Parada recuavam e lançavam nas costas dos zagueiros os pontas Paulo Borges e Mateus, que entravam em diagonal.
Se o técnico do Barcelona (Rijkaard) fosse treinador da seleção brasileira, trocaria Edu ou Zé Roberto por um atacante. Parreira nunca cometeria essa ou qualquer outra "loucura". Essa é a sua deficiência.
Um grande número de pessoas sonha com essa formação. Eu também, mas como opção. Não sou tão "louco" quanto o Rijkaard nem tão racional quanto o Parreira. Sou um louco racional. "Sou o que penso. Mas penso ser tantas coisas." (Fernando Pessoa)
Há várias maneiras de armar corretamente uma equipe. Parreira e nenhum técnico ou crítico são donos da verdade.
Tudo é discutível.
Porém muito mais importante do que a tática são os craques e o que não é dito nem visto pelos treinadores e comentaristas.

Contra-ataque
O contra-ataque é uma das palavras mais ditas no futebol e está geralmente associada ao defensivismo. Não é bem assim. Basta tomar a bola para iniciar o contra-ataque. Isso poderá acontecer na defesa, no meio-de-campo ou no ataque.
O contra-ataque é a melhor maneira de chegar ao gol, quando é feito com velocidade e inteligência, pois, no momento do desarme, a defesa do outro time costuma estar desprotegida e mal posicionada.
Quanto mais próximo do gol do rival começar o contra-ataque, maior é a eficiência. A maioria dos times, principalmente os pequenos, prefere recuar bastante, atrair para o seu campo o adversário e contra-atacar. Às vezes dá certo, mas o mais comum é favorecer o time que pressiona.
Outras equipes adotam uma solução intermediaria e mais segura, tentando tomar a bola no meio-campo para contra-atacar, como faz muito bem o Atlético-PR com os velozes e hábeis Dagoberto, Fernandinho e Jádson.

E-mail
tostao.folha@uol.com.br


Texto Anterior: Tênis - Régis Andaku: O mundo deles e o nosso
Próximo Texto: Futebol: Palmeiras pega pior hóspede na pior hora
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.