São Paulo, domingo, 29 de outubro de 2006

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TOSTÃO

Quase tudo na mesma


Passei 20 dias de férias na França e, tanto no futebol como na política, há muito pouca coisa de diferente


PASSEI 20 DIAS na França, país de primeiro mundo e de avançada tecnologia, e raramente escutei o barulho de um celular. Foi só chegar ao Brasil para ouvir no banheiro do aeroporto uma briga pelo telefone e várias pessoas conversando ao mesmo tempo pelo celular. Brasileiro adora celular e internet.
Em compensação, aspirei na França muito mais fumaça de cigarro nos bares e nas ruas do que no Brasil. Os jovens franceses não tiram o cigarro da boca e ignoram quem está ao seu lado. Eles adoram repetir a pose reflexiva e pensativa dos intelectuais franceses. Parece até que descobriram o sentido da vida.
Como milhares de pessoas já disseram -não sei quem foi o primeiro-, o ser humano não deu muito certo, em qualquer lugar. Chega de filosofias de botequim e vamos ao futebol.
A primeira coisa que li ao chegar foi a tabela de classificação do Brasileiro. Sem contar os jogos de ontem, pouco mudou. O São Paulo administra há muito tempo a sua vantagem. Internacional, Grêmio e Santos continuam nos primeiros lugares, e Vasco e Paraná lutam pela quinta vaga para a Taça Libertadores.
O Fluminense não pára de cair pelas tabelas. Cruzeiro e, principalmente, Fluminense estavam melhores quando eram dirigidos, respectivamente, pelo Paulo César Gusmão e pelo Oswaldo de Oliveira. Os dois trocaram de lugar. São treinadores opostos. Paulo César grita demais na lateral do campo e atrapalha os jogadores. Oswaldo parece um filósofo lendo "O Ser e o Nada" enquanto assiste ao jogo.
Na turma de baixo, Santa Cruz, Fortaleza e São Caetano não perderam os seus lugares. A Ponte Preta faz tudo para ficar com a quarta vaga, mas está sempre pressionada por um dos grandes. Fluminense e Palmeiras parecem ter saudades da segunda divisão. Na Série B, o Atlético-MG disparou, é o líder e já está quase certo na primeira divisão. O Galo ainda ironiza o grande rival ao dizer que só ele terá em Minas o titulo de campeão da segunda divisão.
No futebol internacional, Juninho Pernambucano continua exuberante no Lyon. Outra boa novidade são as ótimas atuações do Robinho no Real Madrid. Parece que agora vai.
Já Ronaldinho Gaúcho e Barcelona, mesmo após darem show nos últimos dois anos, estão sendo bastante criticados por causa de duas derrotas seguidas, fora de casa, para os fortes times do Chelsea e do Real Madrid. Os "idiotas da objetividade", como dizia Nelson Rodrigues, voltaram a dizer que o futebol bonito e ofensivo são incompatíveis com a eficiência.
Após 20 dias de férias sem ver, escutar e ler sobre futebol, assisti ao clássico entre Corinthians e Palmeiras na quarta-feira. Nada mudou. Houve muita correria, garra, faltas, violência, reclamações e pouquíssimo futebol. Como sempre, disseram que clássico e futebol moderno são assim mesmo. Isso não me convence nem me engana. Quero ver um bom futebol, como fizeram Vasco e Flamengo na quinta-feira. Há jogadores razoáveis para isso.
Na política, quase tudo continua na mesma. A única mudança foi o aumento da diferença a favor do Lula. Vou anular o voto. Não optarei pelo provável menos ruim nem quero ser cúmplice dessa enganação. Se eleitos, os dois farão a mesma coisa: arrumar dinheiro para pagar os juros da dívida pública. Como aconteceu nos últimos governos, não vai sobrar nada para diminuir os graves problemas sociais.
Qual é a solução? Não sei. Não consigo nem entender as próprias razões e os mistérios do futebol, quanto mais as (e os) da política e da economia.

tostao.folha@uol.com.br


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