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FUTEBOL
Difícil de entender
SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA
Os jogadores de futebol em
atividade não tocam muito
no assunto, compreensivelmente,
mas vários ex-jogadores já disseram que o que o treinador fala à
beira do campo não serve para
nada. Por mais que ele se esgoele,
é impossível escutar as suas instruções a 30 metros de distância,
com todo o barulho do estádio.
E se os jogadores escutassem,
entenderiam? Aliás, será que entendem as instruções durante o
treino? Pelo desespero dos técnicos em alguns momentos, pode-se
supor que os jogadores às vezes
fazem o contrário do que lhes foi
pedido a semana inteira.
Quando um time se fecha depois de marcar um gol, é costume
dizer que "o técnico recuou a
equipe". Mas os repórteres de
campo são testemunhas do esforço que alguns técnicos fazem para
empurrar o time para frente enquanto os jogadores tocam a bola
para um lado e para o outro, sem
pressa de atacar novamente. Ou
de quando o "professor" implora:
"Sem falta!", no exato momento
em que seu pupilo levanta o adversário pela canela.
É impressionante como é difícil
se fazer entender. As pessoas
agem muito segundo as suas próprias convicções e impressões anteriores e muitas vezes são impermeáveis a novas informações,
mesmo que tentem (ou finjam)
prestar toda a atenção no que está sendo dito.
Se o jogador estiver convencido
intimamente de que "1 a 0 é um
bom resultado", o técnico precisa
ter um talento especial para tirar
essa idéia do seu inconsciente.
Daí vem o sucesso dos "grandes
motivadores", como alguns técnicos se consagraram (entre eles,
obviamente, o Felipão).
Os comentaristas, de tanto falar, estão especialmente sujeitos
aos mal-entendidos. Em pelo menos duas ocasiões, elogiei alguém,
e alguns leitores reagiram como
se eu tivesse criticado: uma,
quando me diverti com o goleiro
catimbeiro da Inter de Limeira no
Campeonato Paulista (ele azucrinou os jogadores do Palmeiras em
uma cobrança de pênaltis).
Outra foi na semana passada,
quando coloquei entre aspas as
desconfianças que outros têm da
capacidade do Jair Picerni -eu
estava criticando a desconfiança,
não o Jair, mas houve quem quisesse defendê-lo... de mim.
No futebol, as paixões são mais
explosivas, mas eu vivo sendo incompreendida em outros foros
também. Se digo que o atentado
de 11 de setembro causou, em Nova York, um horror inédito para
os americanos, mas semelhante
ao infligido por eles mesmos em
outras partes (Hiroshima, por
exemplo), alguns entendem que
estou defendendo os terroristas.
Não estou! Se digo que sou a favor da descrim... Ah, deixa pra lá.
O próprio Luiz Felipe, que já
disse muitas coisas com as quais
eu não concordo, não quis desmerecer os jogadores de antigamente
ao falar no tempo em que se
amarrava cachorro com linguiça.
Ele apenas disse o que qualquer
um diria: que hoje em dia, é diferente. Em lugar nenhum do mundo há uma safra de jogadores como aquela das nossas seleções
campeãs.
Além disso, alguns países que
não tinham a menor tradição no
futebol criaram seleções razoáveis
-assim como o Brasil passou a
ser um adversário de respeito em
modalidades nas quais antes não
se destacava (alguém aí falou em
Daniele Hypólito?).
Pronto, agora vão entender que
estou defendendo o Felipão em
tudo o que ele diz e faz...
Não estou!
Não deu certo
Sem nenhuma intenção de
ofender ou fazer gracinha,
mas analisando honestamente os fatos: será que o Alencar,
terceiro goleiro do São Paulo,
não deveria tentar jogar em
outra posição?
Credulidade
Será que Pelé acreditava mesmo na idoneidade de Hélio
Viana e finalmente foi convencido pelos "fortes indícios" de que há algo de podre
nos negócios da Pelé Sports?
Instruções
Se os gritos do técnico não
servem para os jogadores, interessam menos ainda aos espectadores. As TVs podiam
nos poupar dos palavrões durante a transmissão.
Bayern campeão
Enquanto a Fifa não consolida o seu Mundial, o interclubes de Tóquio continua com
charme e prestígio.
E-mail: soninha.folha@uol.com.br
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