São Paulo, domingo, 30 de janeiro de 2011

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Troca de inquilinos

Palco de greves históricas lideradas por Lula há 30 anos, estádio de São Bernardo se torna uma das prioridades de prefeitura petista

RODRIGO MATTOS
DE SÃO PAULO

Um camarote de pouco mais de 10 m2, com visão para o campo inteiro, está pronto para abrigar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na reinauguração oficial do Estádio 1º de Maio, no jogo entre São Bernardo e Corinthians, hoje, às 19h30.
Não há luxo. As cadeiras serão plásticas. Durante a semana passada, havia obras e barro no acesso ao local.
Ainda assim, Lula assistirá ao jogo de hoje em uma posição mais confortável do que em cima de mesas afundadas no gramado fofo da mesma arena, onde o então presidente do sindicato dos metalúrgicos se equilibrava para discursar em greves das décadas de 1970 e 1980.
O movimento reuniu milhares -relatos giram entre 60 mil e 100 mil pessoas- no estádio da Vila Euclides, depois renomeado em homenagem ao Dia do Trabalho.
Combatidas pela ditadura, as reuniões ocorriam às vezes ameaçadas por helicópteros com soldados armados com metralhadoras. Mas firmaram um núcleo para a posterior fundação do Partido dos Trabalhadores (PT).
É justamente uma administração petista, chefiada por um dos membros daquelas mobilizações, que dá nova cara ao histórico estádio.
Sob o comando do prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho, ex-presidente do sindicato dos metalúrgicos, são investidos R$ 11,5 milhões na arena. Um prédio com 17 camarotes e 12 cabines de rádio foi construído, refletores foram instalados e as arquibancadas foram reformadas.
Tudo isso para permitir que o São Bernardo atue em casa em sua primeira participação na elite do Paulista.
O clube do ABC virou uma das prioridades na gestão de Marinho. Segundo o prefeito, a população, por meio do orçamento participativo, pediu investimentos no time.
"[São Bernardo] Nunca vai deixar de ser a terra da mobilização pela democracia. Mas temos que construir novas referências, como o vôlei, o futebol", disse o petista. "A gente se sente representado pelo clube. É nossa aposta."
O orçamento do ano passado mostra um investimento de R$ 24 milhões em "desporto e lazer". Parte foi destinada às obras do estádio. É quase o dobro dos R$ 13 milhões gastos em "trabalho".
O clube de futebol não recebe dinheiro da prefeitura.
Mas Marinho viabilizou sua organização e financiamento ao assumir o cargo, incrementando o projeto do antecessor e opositor Willian Dib, atualmente no PSDB.
O petista participou de reuniões para pedir patrocínios e indicou o empresário Luiz Fernando Teixeira para presidir o São Bernardo.
Seu apoio proporcionou a chegada de empresas fortes, como o banco BMG e a empresa de ônibus SBC Trans.
"Temos uma receita enxuta, menor que a de clubes como o Santo André. Mas não dá prejuízo", disse Teixeira, que se recusa a revelar os números do balanço do time.
As escolinhas do São Bernardo têm participação da prefeitura. São 33 núcleos em terrenos municipais que atendem a 6.000 crianças e adolescentes -o clube banca os custos com os treinos.
Os dois primeiros jogos do time neste Paulista tiveram média de público de 9.742 pagantes, próxima às dos grandes do Estado.
A identificação da torcida com o São Bernardo conta com a ajuda financeira de empresas -privadas, segundo o clube. As companhias compraram 8.927 bilhetes na última partida, de um total de 9.360. E distribuíram as entradas aos funcionários.
A expectativa é de estádio lotado diante do Corinthians -a capacidade saltou de 13 mil para 16 mil com as obras.
O número está longe do visto nas greves de 30 anos atrás. Mas a prefeitura vislumbra uma expansão da arena se o time mantiver o desempenho. Há estudo para aumentar as arquibancadas.
É uma ironia que, agora, São Bernardo busque reunir multidões em torno do futebol. Antes das primeiras greves, Lula acalentava companheiros com a chance de reunir um público de jogo de futebol para falar de salários.
"Em um jogo do Corinthians, em 1978, ele [Lula] me disse: "Se nós tivéssemos um estádio lotado desse jeito, seria um marco'", contou o deputado federal Devanir Ribeiro (PT-SP), então secretário do sindicato.
Hoje, as placas de homenagem no estádio serão para políticos: Lula e Marinho.
Se ainda não há 100 mil pessoas para ver o São Bernardo, os helicópteros voltaram. Na quinta-feira, um deles desceu no campo. Pousou com Édson Asarías, advogado, cartola e um dos três donos do clube do ABC.


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