São Paulo, domingo, 30 de março de 2008

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TOSTÃO

Evoluções e involuções


O Brasil, sob o comando de Dunga, continua mais eficiente na defesa que no ataque. São os novos tempos

TEMPOS ATRÁS , havia um consenso de que o Brasil não tinha excepcionais zagueiros e goleiros. Isso já era. Juan, Lúcio, Rogério Ceni e Júlio César estão entre os melhores de suas posições no mundo.
Um dos motivos da evolução dos goleiros foram os especializados e eficientes treinamentos. Os zagueiros e os goleiros ficaram também mais protegidos, já que os técnicos atuais se preocupam mais com o sistema defensivo.
Em compensação, sumiram os craques no meio-campo, meias armadores que atuavam de uma intermediária à outra e que ainda participavam da marcação, como Didi, Gérson, Rivellino, Ademir da Guia, Dirceu Lopes e outros.
Não entram nessa avaliação os atuais meias ofensivos ou meias de ligação ou meias-atacantes, como Kaká, Ronaldinho, Robinho, Alex, Diego, Valdivia, Thiago Neves, Conca e outros.
Esses são parecidos, mas não têm as mesmas características, funções, nem atuam nas posições dos antigos meias armadores.
Desapareceram também os volantes clássicos, elegantes e talentosos, que iniciavam as jogadas na sua intermediária com ótimos passes, como Dino Sani, Zito, Clodoaldo, Zé Carlos (Cruzeiro). Falcão e Toninho Cerezo, dois craques, tinham características de volantes e de meias armadores.
Essas mudanças aconteceram porque o meio-de-campo foi dividido entre os volantes, que quase só jogam do meio para trás, e os meias ofensivos, que quase só atuam do meio para a frente.
Existe hoje uma tentativa de recuperar certas coisas que foram abandonadas pelos "professores", com o apoio de muitos comentaristas modernos e científicos.
Alguns técnicos, como Luxemburgo, costumam escalar, com sucesso, meias habilidosos na função de volantes. Alex Ferguson, treinador do Manchester United, fez o mesmo com Anderson.
Na verdade, Anderson atua pelo meio, em uma linha de quatro armadores. Ele não joga como um típico volante brasileiro.
A recuperação de alguns conceitos ainda é tímida no Brasil.
Os três volantes titulares da seleção brasileira (Gilberto Silva, Josué e Júlio Baptista) são armadores comuns, com pouco talento. As outras opções estão mais ou menos no mesmo nível.
Todas as principais seleções da Europa possuem volantes melhores que os do Brasil, como Xavi, Fábregas, Makelele, Vieira, Gerrard, Lampard, Ballack e Pirlo.
Uma das razões é que na Europa os volantes são mais armadores, e os laterais, mais defensores. No Brasil, é o contrário. É possível utilizar, alternadamente, as duas possibilidades em um mesmo jogo. O Palmeiras tem feito isso.
A esperança do Brasil são os jovens volantes com idade olímpica (Anderson, Hernanes e Lucas). Eles já atuam em grandes times e podem evoluir bastante nos próximos anos. Por isso, os três, mais Pato e Marcelo, já deveriam também participar da seleção principal nas eliminatórias. Além de volantes, falta um ótimo lateral-esquerdo.
Dunga e a maioria dos treinadores demoram uma eternidade para perceber o óbvio ou para tomar decisões que saem da mesmice.


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