São Paulo, domingo, 30 de março de 2008

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Etíope põe pátria das corridas de rua na berlinda

Kenenisa Bekele tenta hoje 6º título em Mundial de cross country e pode ultrapassar astros quenianos em conquistas

Atleta esmigalhou domínio do Quênia em corridas na terra e na grama e suas vitórias até motivaram federação a alterar evento

ADALBERTO LEISTER FILHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Assim como o Brasil reivindica o status de pátria do futebol, o Quênia evoca o direito de ser a nação das corridas longas.
Porém, nos últimos anos, o país assiste ao domínio do etíope Kenenisa Bekele num evento em que tem tradição: o Mundial de cross country (corrida na terra e na grama), que será disputado hoje, em Edimburgo.
Discípulo de Haile Gebrselassie, 34, recordista da maratona, Bekele, 25, acumula um feito atrás de outro no evento.
O etíope é pentacampeão do Mundial (2002 a 2006), feito só atingido por dois quenianos: Paul Tergat e John Ngugi.
Em 2007, Bekele tentou superá-los na casa do inimigo, em Mombasa. Mas sucumbiu diante do calor e da umidade. Mesmo assim, o Quênia não retomou a coroa -a vitória foi com Zersenay Tadesse, da Eritréia.
"Quero ser novamente o número um do cross country e bater Zersenay neste ano. E quero ser o primeiro atleta com mais vitórias do que Ngugi e Tergat", disse Bekele à Folha, demonstrando autoconfiança pouco comum a atletas de seu país.
Ele sabe que pode cumprir a promessa. Afinal, foram seus constantes triunfos nas duas provas do Mundial de cross country (4 km e 12 km) um dos motivos que levaram a Iaaf (entidade que comanda o atletismo) a cancelar a corrida curta, criada para dar chance a outros países figurarem no pódio.
Antes de influenciar a alteração do formato de um Mundial, Bekele enfrentou dificuldades.
Segundo de seis filhos de um plantador de cevada, ele nasceu em 1982, em Bekoji. A cidade sofreu os efeitos devastadores da fome durante sua infância.
"Comecei no atletismo na escola. Meu professor foi quem me descobriu. Havia uma competição na vizinhança e venci. Comecei a acreditar que poderia me tornar um bom atleta."
Para seguir adiante nas pistas, teve que transpor novos obstáculos. Um deles foi seguir para Adis Abeba, capital do país, em busca de melhores condições de treino.
"As principais dificuldades? A vida, em geral, foi muito difícil. Como atleta iniciante, não tinha boas condições de alimentação, material esportivo e locais para treinar", rememora.
E foi no Mundial de cross country que seu nome começou a aparecer. Em 2001, venceu a prova júnior (8 km). Nas pistas, destacou-se com os recordes dos 5.000 m e 10.000 m.
Nos Jogos de Atenas-04, levou o ouro na segunda distância. Nos 5.000 m, finalizou como vice-campeão, após travar duelo empolgante com o marroquino Hicham El Guerrouj.
Sua estratégia tem sido quase imbatível. Bekele se mantém no primeiro pelotão durante toda a prova. E, na última volta, realiza um sprint surpreendente, deixando todos para trás.
Foi assim no Mundial de Osaka, em 2007, quando correu os últimos 400 m em 55s90 para levar o tri nos 10.000 m.
Na maior parte dos recordes superou Gebrselassie. Mas, ao contrário do mentor, que desistiu da Olimpíada devido à poluição, quer lutar por novo ouro. "Claro que isso [poluição] prejudica. Mas os 10.000 m são menos problemáticos. Fiz um bom programa de treinamento para me ajustar às circunstâncias mais difíceis de Pequim."


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