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Etíope põe pátria das corridas de rua na berlinda
Kenenisa Bekele tenta hoje 6º título em Mundial de cross
country e pode ultrapassar astros quenianos em conquistas
Atleta esmigalhou domínio
do Quênia em corridas na
terra e na grama e suas
vitórias até motivaram
federação a alterar evento
ADALBERTO LEISTER FILHO
DA REPORTAGEM LOCAL
Assim como o Brasil reivindica o status de pátria do futebol,
o Quênia evoca o direito de ser
a nação das corridas longas.
Porém, nos últimos anos, o
país assiste ao domínio do etíope Kenenisa Bekele num evento em que tem tradição: o Mundial de cross country (corrida
na terra e na grama), que será
disputado hoje, em Edimburgo.
Discípulo de Haile Gebrselassie, 34, recordista da maratona, Bekele, 25, acumula um
feito atrás de outro no evento.
O etíope é pentacampeão do
Mundial (2002 a 2006), feito só
atingido por dois quenianos:
Paul Tergat e John Ngugi.
Em 2007, Bekele tentou superá-los na casa do inimigo, em
Mombasa. Mas sucumbiu diante do calor e da umidade. Mesmo assim, o Quênia não retomou a coroa -a vitória foi com
Zersenay Tadesse, da Eritréia.
"Quero ser novamente o número um do cross country e bater Zersenay neste ano. E quero
ser o primeiro atleta com mais
vitórias do que Ngugi e Tergat",
disse Bekele à Folha, demonstrando autoconfiança pouco
comum a atletas de seu país.
Ele sabe que pode cumprir a
promessa. Afinal, foram seus
constantes triunfos nas duas
provas do Mundial de cross
country (4 km e 12 km) um dos
motivos que levaram a Iaaf
(entidade que comanda o atletismo) a cancelar a corrida curta, criada para dar chance a outros países figurarem no pódio.
Antes de influenciar a alteração do formato de um Mundial,
Bekele enfrentou dificuldades.
Segundo de seis filhos de um
plantador de cevada, ele nasceu
em 1982, em Bekoji. A cidade
sofreu os efeitos devastadores
da fome durante sua infância.
"Comecei no atletismo na escola. Meu professor foi quem
me descobriu. Havia uma competição na vizinhança e venci.
Comecei a acreditar que poderia me tornar um bom atleta."
Para seguir adiante nas pistas, teve que transpor novos
obstáculos. Um deles foi seguir
para Adis Abeba, capital do
país, em busca de melhores
condições de treino.
"As principais dificuldades?
A vida, em geral, foi muito difícil. Como atleta iniciante, não
tinha boas condições de alimentação, material esportivo e
locais para treinar", rememora.
E foi no Mundial de cross
country que seu nome começou a aparecer. Em 2001, venceu a prova júnior (8 km). Nas
pistas, destacou-se com os recordes dos 5.000 m e 10.000 m.
Nos Jogos de Atenas-04, levou o ouro na segunda distância. Nos 5.000 m, finalizou como vice-campeão, após travar
duelo empolgante com o marroquino Hicham El Guerrouj.
Sua estratégia tem sido quase imbatível. Bekele se mantém
no primeiro pelotão durante
toda a prova. E, na última volta,
realiza um sprint surpreendente, deixando todos para trás.
Foi assim no Mundial de
Osaka, em 2007, quando correu os últimos 400 m em 55s90
para levar o tri nos 10.000 m.
Na maior parte dos recordes
superou Gebrselassie. Mas, ao
contrário do mentor, que desistiu da Olimpíada devido à
poluição, quer lutar por novo
ouro. "Claro que isso [poluição]
prejudica. Mas os 10.000 m são
menos problemáticos. Fiz um
bom programa de treinamento
para me ajustar às circunstâncias mais difíceis de Pequim."
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