São Paulo, quarta-feira, 30 de abril de 2008

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"Patriotismo" ameaça Pequim

A cem dias dos Jogos, líderes encaram nacionalismo chinês crescente reativo a críticas estrangeiras

Nos Estados Unidos e na China, cientistas políticos divergem quanto a alegado "desastre das relações públicas" da Olimpíada

DA REPORTAGEM LOCAL

A cem dias da abertura dos Jogos Olímpicos, em 8 de agosto, Pequim encara um novo desafio. Além de tentar blindar o evento de questões políticas no plano internacional, terá que coibir manifestações mais exaltadas do nacionalismo chinês.
Dentro e fora do país de maior população mundial, chineses se manifestam em reação aos protestos que afetaram eventos ligados aos Jogos Olímpicos, como o revezamento da tocha, cuja fase internacional foi encerrada ontem com a passagem pelo Vietnã.
Por exemplo: depois que uma paraatleta chinesa foi acossada em Paris enquanto segurava a tocha, em uma das mais conturbadas passagens do fogo olímpico pelo mundo, houve protestos em frente a lojas da rede de supermercados Carrefour em 12 cidades chinesas.
Anteontem, o "New York Times" relatou que os tradicionalmente calados universitários chineses nos EUA também aumentaram o tom ao debater sobre a questão do Tibete.
A publicação registrou ainda que houve chineses nos EUA que fizeram viagens de outros Estados até Atlanta, na Geórgia, para protestar diante da sede da CNN contra um comentário que julgaram preconceituoso feito por um dos analistas da rede de TV.
"A liderança chinesa tem um grande problema de relações públicas nas mãos", declarou David L. Shambaugh, cientista político e diretor do programa de políticas chinesas da Universidade George Washington.
"O governo e os cidadãos estão envolvidos agora em travar uma guerra de propaganda envolvendo o mundo ocidental e, particularmente, sua mídia", declarou ele, que foi ainda mais enfático. "Essa postura, combinada com o hipernacionalismo chinês, têm os ingredientes de um desastre de relações públicas para os Jogos Olímpicos", concluiu o analista.
Do outro lado do mundo, sua avaliação é contestada.
"Acredito que a imagem da Olimpíada da China ainda é boa", declarou o cientista político Jin Yuanpu, diretor-executivo do Centro Olímpico Humanístico da Universidade Renmin, em Pequim.
"São apenas a mídia e alguns ocidentais que aproveitam a oportunidade para nos atacar. Os chineses estão se esforçando ao máximo para serem bons anfitriões", completou ele.
"Para mim, esses Jogos permanecem como um mistério que pode ir em várias direções", resumiu o historiador olímpico David Wallenchinsky, que cobriu 12 edições do evento e se opôs à escolha de Pequim. "Não acho que os Jogos mudarão a China nem mesmo o controle do Partido Comunista Chinês."


Com agências internacionais


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