São Paulo, quinta-feira, 30 de maio de 2002

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POLÍTICA

Dirigente ganha novo mandato e diz que enxugará os gastos da Fifa nos próximos anos

Blatter se reelege e, mais forte, promete arrocho

DO ENVIADO A SEUL

Joseph Blatter ganhou ontem mais quatro anos de mandato à frente da Fifa e alargou sua base de apoio dentro da entidade, como mostram os números de sua vitória sobre Issa Hayatou.
Mas tem agora pela frente o desafio de sangrar o orçamento da entidade sem comprometer os programas de desenvolvimento ao esporte que foram fundamentais para sua reeleição.
A urna não deixou dúvidas quanto à hegemonia política do suíço entre as federações.
Ele obteve 139 votos contra 56 do rival. Conseguiu, assim, mais de dois terços dos votos válidos, o necessário para chegar à vitória no primeiro turno, algo que não conseguira há quatro anos, quando foi eleito pela primeira vez.
"Foi triste, mas acabou", disse, em referência à troca de ofensas que marcou o fim da campanha.
A batalha que o espera agora é com a calculadora. Os orçamentos aprovados ontem, pouco antes do pleito, mostram preocupação com o futuro do caixa da Fifa.
Planeja-se, por exemplo, gastar em 2005, ano final de preparação para a Copa, 40% a menos do que no ano passado. Segundo estimativa apresentada no Congresso de ontem, a economia da Fifa nos próximos quatro anos terá de ser superior a US$ 600 milhões.
A batalha está no começo. Momentos antes de passar pelo crivo das urnas, Blatter recebeu da Costa Rica um pedido público de dinheiro. "Temos de controlar os orçamentos", respondeu.
Muitas federações estão preocupadas com a manutenção dos repasses que recebem hoje. O novo presidente da Fifa se limitou a garantir que tem "certeza de que 2003 e 2004 está coberto".
Pelo orçamento, os projetos de desenvolvimento do futebol serão apresentados à nova realidade da entidade. Em nenhum dos próximos quatro anos o programa terá os US$ 116 milhões que lhe foram destinados em 2001.
A discussão é sobre como a Fifa pode continuar investindo no desenvolvimento do esporte diante da necessidade de tirar o pé do acelerador do caixa. E, entre o calor da campanha e o alívio da vitória, a diferença de tom foi clara.
Num dos momentos acalorados do debate de seis horas ontem, o americano Chuck Blazer, do Comitê Executivo da Fifa, subiu à tribuna para defender Blatter e afirmou: "Se fôssemos uma companhia, não estaríamos obrigados a gastar dinheiro no desenvolvimento do esporte".
Reeleito, o suíço disse algo que vai quase no sentido oposto, para pavor das federações: "Nós precisamos ser uma companhia comercial [pela lei suíça, a Fifa é hoje uma associação". E uma companhia comercial tem de ter um mecanismo de autocontrole. É o passo mais importante que tomaremos nos próximos meses".
Após uma campanha desgastante, seu sucesso nessa nova empreitada será fundamental para conservar o apoio que demonstrou ter ontem -embora ele diga que não pretende continuar no poder. "Não é minha intenção cumprir seis mandatos, como o doutor João Havelange", declarou Blatter, 66. (ROBERTO DIAS)



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