São Paulo, quinta-feira, 30 de maio de 2002

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ECONOMIA

Coréia colhe benefícios com a 1ª Copa dividida, e Japão vê torneio como gota d'água

Mundial escancara recessão japonesa e disparada coreana

JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
ENVIADO ESPECIAL A YOKOHAMA

ROBERTO DIAS
ENVIADO ESPECIAL A SEUL

De um lado, uma economia em ascensão vigorosa, recuperada após o tombo que levou há cinco anos e que tem no Mundial um mar de oportunidades para alcançar benefícios indiretos.
Do outro, o segundo país mais importante do mundo no quesito dinheiro, vivendo tristes tempos e absorvendo ao máximo a gota d'água que o torneio significa para o tamanho de sua economia.
Difícil imaginar um roteiro mais cruel para a primeira Copa disputada em dois países.
Se a Coréia do Sul já empilha os benefícios que terá por receber os jogos, o Japão está à caça de um bom motivo, qualquer um, para comemorar em meio a uma recessão que não acaba nunca.
Pela primeira vez em ao menos 20 anos, a Copa desembarca num país que chega ao ano do torneio em recessão -o que, numa das definições mais utilizadas, significa ao menos dois trimestres consecutivos de encolhimento da economia (veja quadro ao lado).
Não será neste ano que o Japão sairá do atoleiro, diz a OECD, organização dos países mais ricos do mundo, que prevê 0,7% de encolhimento em sua produção.
Um quadro que se reflete em uma taxa de desemprego superior a 5%, alta para os padrões japoneses, uma bolsa de valores cada vez mais descapitalizada e milhares de sem-teto pelos parques das principais cidades do país.
As contas já estão feitas, pelo menos as do Instituto Dentsu, organização japonesa que estimou o impacto do Mundial no país.
A Copa vai girar cerca de US$ 25 bilhões na economia local, caso a seleção, como na última Copa, não vá além da primeira fase. Se o time alcançar as oitavas, o total aumenta em US$ 1 bilhão.
De um certo ponto de vista -se observado do alto da segunda maior economia do mundo-, é pouco. Afinal, corresponde apenas a 0,8% da produção interna.
Tem mais, afirma Tetsuji Yamada, professor da Universidade de Nova Jersey: "O efeito estimulante da Copa será temporário. A situação da frágil economia japonesa requer uma política diferente, reformando o mercado financeiro, os impostos e o governo".
De outro ponto de vista -o do fundo do poço-, porém, é possível arregimentar argumentos para algum entusiasmo com a organização da Copa do Mundo.
Pesquisa feita pelos dois comitês organizadores do Mundial indica que foram criados 420 mil empregos temporários no Japão.
Por outro lado, o início deste ano viu expansão no consumo da ordem de 0,8%. Do qual estima-se que 0,2% esteve relacionado ao Mundial, entre vendas de produtos oficiais e ingressos.
"Além do crescimento do consumo geral e do turismo, a Copa tem um impacto que fomenta economias locais, em lugares pequenos", diz Abe Shigeyuki, professor da Universidade de Kyoto.
Não fosse isso, de qualquer forma, restaria ao país o consolo do impacto psicológico de receber um Mundial -há um levantamento que sustenta que, nos últimos 20 anos, os países organizadores receberam um empurrão médio de 0,3% em suas economias com a competição.
A exceção ficou para os EUA, em 1994, por causa da relação desproporcional entre o baixo apego dos norte-americanos ao futebol e o tamanho gigantesco de sua produção, a maior do mundo.
Uma situação que poderia ser de alguma forma comparada à do Japão, um mamute econômico, que não tem o futebol como primeiro esporte. Mas um país que gastou US$ 2,9 bilhões em estádios para a Copa e atravessa uma das mais séries crises de sua história não pode se dar ao luxo de dispensar qualquer empurrão.



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