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ECONOMIA
Coréia colhe benefícios com a 1ª Copa dividida, e Japão vê torneio como gota d'água
Mundial escancara recessão japonesa e disparada coreana
JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
ENVIADO ESPECIAL A YOKOHAMA
ROBERTO DIAS
ENVIADO ESPECIAL A SEUL
De um lado, uma economia em
ascensão vigorosa, recuperada
após o tombo que levou há cinco
anos e que tem no Mundial um
mar de oportunidades para alcançar benefícios indiretos.
Do outro, o segundo país mais
importante do mundo no quesito
dinheiro, vivendo tristes tempos e
absorvendo ao máximo a gota
d'água que o torneio significa para o tamanho de sua economia.
Difícil imaginar um roteiro
mais cruel para a primeira Copa
disputada em dois países.
Se a Coréia do Sul já empilha os
benefícios que terá por receber os
jogos, o Japão está à caça de um
bom motivo, qualquer um, para
comemorar em meio a uma recessão que não acaba nunca.
Pela primeira vez em ao menos
20 anos, a Copa desembarca num
país que chega ao ano do torneio
em recessão -o que, numa das
definições mais utilizadas, significa ao menos dois trimestres consecutivos de encolhimento da
economia (veja quadro ao lado).
Não será neste ano que o Japão
sairá do atoleiro, diz a OECD, organização dos países mais ricos
do mundo, que prevê 0,7% de encolhimento em sua produção.
Um quadro que se reflete em
uma taxa de desemprego superior
a 5%, alta para os padrões japoneses, uma bolsa de valores cada vez
mais descapitalizada e milhares
de sem-teto pelos parques das
principais cidades do país.
As contas já estão feitas, pelo
menos as do Instituto Dentsu, organização japonesa que estimou o
impacto do Mundial no país.
A Copa vai girar cerca de US$ 25
bilhões na economia local, caso a
seleção, como na última Copa,
não vá além da primeira fase. Se o
time alcançar as oitavas, o total
aumenta em US$ 1 bilhão.
De um certo ponto de vista -se
observado do alto da segunda
maior economia do mundo-, é
pouco. Afinal, corresponde apenas a 0,8% da produção interna.
Tem mais, afirma Tetsuji Yamada, professor da Universidade de
Nova Jersey: "O efeito estimulante
da Copa será temporário. A situação da frágil economia japonesa
requer uma política diferente, reformando o mercado financeiro,
os impostos e o governo".
De outro ponto de vista -o do
fundo do poço-, porém, é possível arregimentar argumentos para algum entusiasmo com a organização da Copa do Mundo.
Pesquisa feita pelos dois comitês organizadores do Mundial indica que foram criados 420 mil
empregos temporários no Japão.
Por outro lado, o início deste
ano viu expansão no consumo da
ordem de 0,8%. Do qual estima-se
que 0,2% esteve relacionado ao
Mundial, entre vendas de produtos oficiais e ingressos.
"Além do crescimento do consumo geral e do turismo, a Copa
tem um impacto que fomenta
economias locais, em lugares pequenos", diz Abe Shigeyuki, professor da Universidade de Kyoto.
Não fosse isso, de qualquer forma, restaria ao país o consolo do
impacto psicológico de receber
um Mundial -há um levantamento que sustenta que, nos últimos 20 anos, os países organizadores receberam um empurrão
médio de 0,3% em suas economias com a competição.
A exceção ficou para os EUA,
em 1994, por causa da relação desproporcional entre o baixo apego
dos norte-americanos ao futebol e
o tamanho gigantesco de sua produção, a maior do mundo.
Uma situação que poderia ser
de alguma forma comparada à do
Japão, um mamute econômico,
que não tem o futebol como primeiro esporte. Mas um país que
gastou US$ 2,9 bilhões em estádios para a Copa e atravessa uma
das mais séries crises de sua história não pode se dar ao luxo de dispensar qualquer empurrão.
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