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São Paulo, sexta-feira, 30 de maio de 2003

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Para clubes, exposição de dados derrubará mito

DO PAINEL FC
E DA REPORTAGEM LOCAL

A obrigatoriedade da divulgação dos borderôs abre caminho para que os clubes, segundo suas palavras, desmistifiquem a noção de que arrecadam centenas de milhares de reais com os jogos.
Com o detalhamento das despesas que têm ao entrarem em campo, os clubes mostram que muitas de suas partidas são deficitárias.
"Os borderôs provam que não é fácil fazer futebol no Brasil. Para obtermos R$ 25 mil de receitas, precisamos arrecadar mais de R$ 100 mil. Esses R$ 25 mil [de Corinthians x Juventude] muitas vezes não bastam nem para pagar o bicho dos jogadores", afirma Carlos Roberto de Mello, diretor financeiro do clube paulista.
Mello faz referência às despesas que consumiram R$ 80.287,86, ou 75,8%, da receita bruta, que totalizou R$ 105.895 (9.071 pagantes).
Um dos principais gastos é com o INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), que leva 5% da arrecadação bruta e 20% dos pagamentos para a mão-de-obra, como arbitragem e antidoping. Outros 5% do total são retidos segundo o acordo para quitar as dívidas dos clubes com o órgão.
Os dirigentes reclamam ainda que existem taxas indevidas. Um clube do Sul do país que disputa a primeira divisão e pede para não ser identificado, com medo de retaliação, contesta os 5% que são retidos pelas federações estaduais, a despeito de elas não terem despesas com os jogos.
Para que possam pensar em promoções que atraiam o torcedor, alguns clubes do país, casos de São Paulo e Vitória, têm feito estudos para saber qual o público necessário para que tenham retorno de bilheteria no orçamento.
O Vitória, por exemplo, diz que para não ficar no vermelho ao jogar no Barradão tem de reunir pelo menos R$ 4.000 pagantes, com ingresso a R$ 10. Mas a regra não é universal, pois o Atlético-MG já registrou prejuízo mesmo tendo no jogo mais de 6.000 pagantes.
"Quando a renda fica em torno de R$ 100 mil, levamos só uns 22%. Para uma receita razoável, de R$ 100 mil, precisaríamos arrecadar R$ 300 mil. O que só viria com 25 mil pagantes", diz João Paulo de Jesus Lopes, diretor financeiro do São Paulo.
Jesus Lopes conta que nas cinco partidas do clube no Morumbi, pelo Brasileiro, o público somado foi de 29.537 pessoas, e a renda líquida total, de R$ 107.936. "Todo mundo ganha dinheiro com o futebol. Mas quem paga a conta é sempre o clube", reclama.
Com as novas obrigações do Estatuto do Torcedor, há ainda quem defenda que as despesas sejam divididas com o torcedor, via aumento dos ingressos.
"Subir o preço é utopia. Ninguém no país pode pagar mais do que os valores de hoje", diverge Durval Colossi, diretor financeiro do Palmeiras, em referência aos R$ 10, em média, do ingresso.
Colossi acha que a divulgação dos borderôs poderá atingir o Ministério do Esporte e convencê-lo da necessidade de auxílio do governo aos clubes. (FM E MSK)


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