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FUTEBOL
Em meio a homenagens a camaronês que morreu em campo, anfitriões são bicampeões da Copa das Confederações
França ganha na morte súbita e não vibra
PAULO COBOS
ENVIADO ESPECIAL A PARIS
Na morte súbita, a França ganhou ontem, no Stade de France,
o bicampeonato da Copa das
Confederações, na mais amarga
vitória de uma seleção em um torneio organizado pela Fifa.
Não havia ambiente algum para
comemorar o triunfo sobre Camarões. Sob o clima pesado depois da morte em campo do africano Marc-Vivien Foe, na última
quinta-feira, o máximo que se podia fazer era dar abraços tímidos,
esperar que a entrega de medalhas e troféus fosse bem rápida e
continuar a chorar pelo mais trágico acontecimento da bola mundial nos últimos anos.
O mais aplaudido na noite francesa não foi Henry, que, aos 7min
do primeiro tempo da prorrogação, marcou o gol do título.
Na constrangedora entrega de
medalhas, os aplausos mais fortes
foram para o momento que o zagueiro Song pendurou o adereço
em um painel com a foto de Foe.
No meio do drama da morte,
pouco parecia importar quem havia vencido e quem havia perdido,
como ficou claro na entrega da taça, passada ao mesmo tempo para
os capitães de França (Desailly) e
Camarões (Song).
Isso continuou na tímida "volta
olímpica", com os jogadores dos
dois países juntos, como se a partida fosse apenas uma homenagem ao companheiro morto. "Jogamos pelo Foe. Ele gostaria que
fosse assim", disse Song.
Pouco importava se Camarões
havia perdido a chance de tornar-se a primeira equipe africana
campeã de uma competição adulta da Fifa. Muito menos se a França, depois do fiasco da Copa do
Mundo de 2002, recuperava o
prestígio de um time campeão.
Ninguém se importou com a
fortaleza de Camarões, que sofreu
apenas um gol em cinco jogos.
Pouca gente deu bola para o grande campeonato de Henry, artilheiro da Copa das Confederações
com quatro gols, eleito ontem
melhor jogador do evento -Foe
ficou em terceiro na listagem.
Pela reação dos torcedores nas
arquibancadas, os únicos perdedores da noite foram os cartolas.
Quando focalizado pelas câmeras, Joseph Blatter, presidente da
Fifa, que minutos depois da morte de Foe já defendia que Camarões entrasse em campo ontem,
recebeu uma sonora vaia.
Durante a semana, a bola também vai ficar em segundo plano.
No lugar de festas e sessões de fotos dos campeões, o que vale é saber a causa real da morte de Foe.
Resultados preliminares da autópsia não foram precisos -a
suspeita maior continua a ser um
problema no coração, mas alguns
médicos cogitam um aneurisma.
Para quem vai lembrar o que
aconteceu ontem pelo lado esportivo, fica a memória de um jogo
fraco no primeiro tempo e da superioridade de Camarões em boa
parte do confronto. Foi um jogo
com poucas infrações (31) e em
que os donos da casa se mostraram mais uma vez implacáveis jogando no Stade de France.
Porém, assim como a vencedora e ao mesmo tempo triste França, isso vai virar nota de rodapé na
história do campeonato em que
um jovem de apenas 28 anos despencou, sozinho no meio-de-campo, e morreu.
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