São Paulo, sábado, 30 de julho de 2005

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MOTOR

Assassinaram a lógica

FÁBIO SEIXAS
DA REPORTAGEM LOCAL

Já dizia o velho Newton: dois corpos não ocupam ao mesmo tempo o mesmo lugar no espaço.
Por isso, a não ser que o inglês tenha errado, é evidente que o Pan-07 vai destruir Jacarepaguá.
O terreno é aquele ali, onde desde os anos 60 há uma pista, as arquibancadas e os boxes. Nessa mesma área, querem enfiar um ginásio, um velódromo, um estádio de futebol, um shopping center, um centro aquático e um hotel de 22 andares. Não dá, certo?
Não dá, é impossível, não cabe. Mas nós, brasileiros, somos mesmo fantásticos. Somos mestres em burlar leis. Inclusive as da física.
Vamos começar contratando um arquiteto estrangeiro de renome. Aquele alemão! Isso vai impressionar a patuléia... É só não dizer que a maioria das pistas que ele fez ou reformou é uma chatice.
Então, construímos tudo isso que está no contrato, partindo quem sabe do hotel e do shopping. Isso dá dinheiro. Depois levantamos as instalações do Pan, afinal há um prazo para isso, 2007. E o automobilismo? Ah, vamos desenhar um traçadinho de três quilômetros para o pessoal se divertir e parar de torrar nossa paciência.
Ah, a CBA e os pilotos não engoliram nossa conversa? Perceberam que nosso croqui não passava de um... croqui? Vai complicar.
E ainda bem que vai complicar.
Porque, se deixassem, o consórcio Rio Sport Plaza já estaria colocando tratores e retroescavadeiras onde deveriam estar karts, monopostos, carros de turismo, fusquinhas envenenados e afins.
E se é verdade que agora o consórcio quer usar da esperteza para começar logo a escavar o autódromo, é realidade também que o pecado original é da Prefeitura do Rio, que deu chance para esse estupro no edital de concorrência.
Não importa para o governo que Jacarepaguá seja o único circuito do país que já recebeu MotoGP, Indy e F-1. Não importa que seja, depois da desfiguração de Interlagos, a pista preferida dos pilotos brasileiros. Não importa que o Rio ficará sem um autódromo. Não importa, e isso dói, mas era esperado, toda a história.
Foi lá que Emerson obteve o 2º lugar com o Copersucar, em 78, o melhor resultado da equipe de sonhos -e quase não chega aos boxes, a pista invadida, em festa.
Foi naquele autódromo que Reutemann ignorou uma ordem da Williams, em 81, e não deu passagem para Jones, iniciando o racha no time que deu o primeiro título a Piquet, da rival Brabham.
Foi em Jacarepaguá que Senna virou piloto de F-1, treinando como um louco com a Toleman antes de estrear em Kyalami, em 84.
Foi no circuito carioca que o pau quebrou entre Piquet e Senna, em 88, depois que o primeiro concedeu entrevista duvidando da masculinidade do segundo.
Foi no Rio que a Ferrari desenvolveu o câmbio com uma borboleta atrás do volante, em 89; que o Piquet fez uma ultrapassagem em Villeneuve, em 82, antes da reta; que Piquet e Rosberg foram desclassificados, em 86, depois de o brasileiro ter apagado no pódio.
Jacarepaguá, enfim, ainda desperta saudades da F-1, que torce o nariz para a feia São Paulo. E se é para assassinar algo, que seja essa saudade. Não a lógica, ou a pista.

Estresse
Com toda a razão do mundo, Raikkonen já começa a chiar contra a McLaren. Para satisfação de Jean Todt, que vê no finlandês o único capaz de suceder Schumacher a partir de 2007.

Coragem
Zanardi, aquele mesmo que perdeu as pernas num oval na Alemanha, capotou nos treinos do Mundial de Turismo em Spa, mas só não deve correr hoje "por culpa do carro", que ficou arrasado. A pole é de um brasileiro, Augusto Farfus Júnior.

Diagnóstico
De Piquet: "O problema da Ferrari é pneu. Desenvolver motor e aerodinâmica é fácil. Mas desenvolver pneu pode levar anos".

E-mail fseixas@folhasp.com.br


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