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MOTOR
Assassinaram a lógica
FÁBIO SEIXAS
DA REPORTAGEM LOCAL
Já dizia o velho Newton: dois
corpos não ocupam ao mesmo
tempo o mesmo lugar no espaço.
Por isso, a não ser que o inglês
tenha errado, é evidente que o
Pan-07 vai destruir Jacarepaguá.
O terreno é aquele ali, onde desde os anos 60 há uma pista, as arquibancadas e os boxes. Nessa
mesma área, querem enfiar um
ginásio, um velódromo, um estádio de futebol, um shopping center, um centro aquático e um hotel de 22 andares. Não dá, certo?
Não dá, é impossível, não cabe.
Mas nós, brasileiros, somos mesmo fantásticos. Somos mestres em
burlar leis. Inclusive as da física.
Vamos começar contratando
um arquiteto estrangeiro de renome. Aquele alemão! Isso vai impressionar a patuléia... É só não
dizer que a maioria das pistas que
ele fez ou reformou é uma chatice.
Então, construímos tudo isso
que está no contrato, partindo
quem sabe do hotel e do shopping.
Isso dá dinheiro. Depois levantamos as instalações do Pan, afinal
há um prazo para isso, 2007. E o
automobilismo? Ah, vamos desenhar um traçadinho de três quilômetros para o pessoal se divertir e
parar de torrar nossa paciência.
Ah, a CBA e os pilotos não engoliram nossa conversa? Perceberam que nosso croqui não passava de um... croqui? Vai complicar.
E ainda bem que vai complicar.
Porque, se deixassem, o consórcio Rio Sport Plaza já estaria colocando tratores e retroescavadeiras onde deveriam estar karts,
monopostos, carros de turismo,
fusquinhas envenenados e afins.
E se é verdade que agora o consórcio quer usar da esperteza para começar logo a escavar o autódromo, é realidade também que o
pecado original é da Prefeitura do
Rio, que deu chance para esse estupro no edital de concorrência.
Não importa para o governo
que Jacarepaguá seja o único circuito do país que já recebeu MotoGP, Indy e F-1. Não importa
que seja, depois da desfiguração
de Interlagos, a pista preferida
dos pilotos brasileiros. Não importa que o Rio ficará sem um autódromo. Não importa, e isso dói,
mas era esperado, toda a história.
Foi lá que Emerson obteve o 2º
lugar com o Copersucar, em 78, o
melhor resultado da equipe de sonhos -e quase não chega aos boxes, a pista invadida, em festa.
Foi naquele autódromo que
Reutemann ignorou uma ordem
da Williams, em 81, e não deu
passagem para Jones, iniciando o
racha no time que deu o primeiro
título a Piquet, da rival Brabham.
Foi em Jacarepaguá que Senna
virou piloto de F-1, treinando como um louco com a Toleman antes de estrear em Kyalami, em 84.
Foi no circuito carioca que o
pau quebrou entre Piquet e Senna, em 88, depois que o primeiro
concedeu entrevista duvidando
da masculinidade do segundo.
Foi no Rio que a Ferrari desenvolveu o câmbio com uma borboleta atrás do volante, em 89; que o
Piquet fez uma ultrapassagem em
Villeneuve, em 82, antes da reta;
que Piquet e Rosberg foram desclassificados, em 86, depois de o
brasileiro ter apagado no pódio.
Jacarepaguá, enfim, ainda desperta saudades da F-1, que torce o
nariz para a feia São Paulo. E se é
para assassinar algo, que seja essa
saudade. Não a lógica, ou a pista.
Estresse
Com toda a razão do mundo, Raikkonen já começa a chiar contra a
McLaren. Para satisfação de Jean Todt, que vê no finlandês o único
capaz de suceder Schumacher a partir de 2007.
Coragem
Zanardi, aquele mesmo que perdeu as pernas num oval na Alemanha, capotou nos treinos do Mundial de Turismo em Spa, mas só não
deve correr hoje "por culpa do carro", que ficou arrasado. A pole é de
um brasileiro, Augusto Farfus Júnior.
Diagnóstico
De Piquet: "O problema da Ferrari é pneu. Desenvolver motor e aerodinâmica é fácil. Mas desenvolver pneu pode levar anos".
E-mail fseixas@folhasp.com.br
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