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FUTEBOL
Após 30 anos, praça memorial da conquista no México vira banheiro público, e hotel apaga autógrafos
Guadalajara "esquece" símbolos do tri
FÁBIO VICTOR
enviado especial a Guadalajara
Após quase 30 anos, Guadalajara já não trata a memória do tricampeonato brasileiro de 1970
com o cuidado correspondente à
idolatria que seus habitantes ainda mantêm pela seleção.
"Casa" do Brasil no México, sede da seleção nas Copas de 70 e 86,
a cidade desprezou os dois mais
significativos vestígios da primeira passagem brasileira.
A praça Brasil, mais imponente
homenagem oficial de Guadalajara à seleção tricampeã em 70 e um
dos principais cartões-postais da
cidade, virou banheiro público e
pousada de indigentes.
Outra relíquia da conquista,
uma parede com autógrafos de
todos os jogadores tricampeões
no hotel onde a seleção ficou em
70, já não existe mais -foi abaixo
numa reforma feita há oito anos.
No caso da praça Brasil, um vistoso jardim em frente ao estádio
Jalisco, o esforço da prefeitura em
embelezar o local para a Copa das
Confederações não foi suficiente
para esconder o problema.
Quem passa em frente à praça
se impressiona com a beleza dos
roseirais, canteiros de flores coloridas, árvores bem podadas em
forma de arcos e com a estátua em
bronze de cerca de cinco metros
de altura -que reproduz três jogadores (entre eles um goleiro)
disputando um bola.
Por sua beleza, a praça virou objeto de superstição das noivas da
cidade: é para lá que elas vão, devidamente vestidas, após seus casamentos, para tirar fotos.
Uma placa -que estava totalmente pichada na véspera da
abertura do torneio, mas depois
foi limpa-, traz os dizeres: "Homenagem da cidade ao povo-irmão por motivo do IX Campeonato Mundial de Futebol. Guadalajara, nov, 3, 1970".
Até aí, tudo muito bonito. Basta
fazer uma visita ao interior do jardim, no entanto, para descobrir o
outro lado.
Cercado por uns arbustos, e tendo uma pequena cerca como porta, há um espaço que foi transformado em banheiro público. Dois
buracos cavados no chão servem
de vaso, dando ao lugar cheiro e
aspecto insuportáveis.
A partir do meio-dia, quando
termina o expediente dos jardineiros da prefeitura, não há qualquer funcionário cuidando ou vigiando o local. Assim, a praça
também serve de abrigo para os
sem-teto. Próximo à estátua, embaixo de umas árvores, eles fazem
fogueiras para cozinhar e abandonam objetos pessoais.
Minutos após o jogo Brasil 4 x 0
Alemanha, no sábado, um mendigo dormia no chão, à sombra da
estátua, com uma garrafa vazia de
aguardente a seu lado.
O diretor de parques e jardins
da Prefeitura de Guadalajara, Sergio Nuño Cuevas, transferiu parte
da responsabilidade à polícia,
mas garantiu que tomaria as providências para mudar a situação.
"Já fechamos várias vezes os buracos, mas tornam a cavá-los. É
responsabilidade da polícia retirar essas pessoas, não é nossa jurisdição", afirmou à Folha.
"Isso decorre de um problema
social em nível mundial. Obrigado por ter me alertado. Farei uma
petição oficial à polícia e asseguro
que em dois dias o problema será
solucionado", completou Cuevas.
Igualmente atração turística da
cidade durante anos, o hotel Suites del Caribe mudou de nome, de
direção e de fachada.
O local da concentração brasileira em 70 agora chama-se Guadalajara Plaza e ganhou, há oito
anos, um prédio em frente aos
quartos que abrigaram a equipe
brasileira.
Na reforma, por descuido dos
operários, segundo a direção
atual, a parede autografada desmoronou. Hoje, a suíte 154, onde
estava gravada a lembrança, é
mais uma entre as 144 do hotel.
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