São Paulo, segunda-feira, 30 de agosto de 2004

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Retomada cobra caro ao corpo

MÁRVIO DOS ANJOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Vanderlei Cordeiro de Lima pagou um alto preço em seu desempenho para retomar o ritmo. Ante o incidente, os especialistas consultados pela Folha avaliam como ótima a reação do maratonista.
Com a queda brusca, o atleta se sujeitou a alterações em funções como o débito cardíaco (fluxo de sangue bombeado pelo coração a cada minuto) e o consumo de oxigênio, além de um desequilíbrio hormonal, causado pelo susto.
Reencontrar o equilíbrio demanda tempo. "Para se recuperar do ônus fisiológico e retomar o ritmo dessas funções, o organismo precisaria de dois a três minutos", afirma Turíbio Leite de Barros, fisiologista do São Paulo.
Para Adauto Domingues, técnico do fundista Marílson dos Santos, a parada traz ainda um outro ônus. "Quando você pára, todas as sensações de dor e cansaço vêm de uma vez", declara.
Já a descarga hormonal -principalmente de adrenalina, que prepara o organismo para se defender- é incompatível com o estado do atleta após todo o esforço de uma competição desse tipo.
"Numa situação normal, a pessoa fica com mais força, mas no fim da maratona você não tem mais força, está no limite", diz Jorge Agostinis, preparador físico da maratonista Márcia Narloch.
A última perda seria psicológica. Tanto Agostinis quanto o médico da equipe Pé de Vento Henrique Viana crêem que a maior parte dos atletas desistiria.
"Aquilo era para sentar na calçada e chorar", disse Agostinis. "Ele retomou muito próximo do ritmo anterior, isso valorizou a medalha de bronze", disse Viana, que acompanha em sua equipe o maratonista Frank Caldeira, último vencedor da modalidade em São Paulo e na Pampulha.
Alguns acham exagero dizer que Lima venceria não fosse o incidente, que lhe tomou oito segundos. Para Viana e Domingues, sua expressão de cansaço contrastava com a de Stefano Baldini, "mais inteiro", na visão de ambos.
"Ele ia acabar ficando com o bronze mesmo. A tática dele foi perfeita, mas ao fim da prova seus adversários pareciam em melhor estado que ele", afirmou Viana, que lembra que a diferença de Lima para Baldini havia caído de 47 segundos para 26 segundos antes mesmo da invasão do irlandês.
Agostini discorda. "Ele [Lima] não estava morto, tanto que conseguiu voltar no mesmo ritmo. O Baldini poderia até tirar a vantagem, mas eles iam entrar juntos, e ia ter briga no final. Para mim, ele é ouro", afirma o preparador.


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