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Retomada cobra caro ao corpo
MÁRVIO DOS ANJOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Vanderlei Cordeiro de Lima pagou um alto preço em seu desempenho para retomar o ritmo. Ante
o incidente, os especialistas consultados pela Folha avaliam como
ótima a reação do maratonista.
Com a queda brusca, o atleta se
sujeitou a alterações em funções
como o débito cardíaco (fluxo de
sangue bombeado pelo coração a
cada minuto) e o consumo de oxigênio, além de um desequilíbrio
hormonal, causado pelo susto.
Reencontrar o equilíbrio demanda tempo. "Para se recuperar
do ônus fisiológico e retomar o
ritmo dessas funções, o organismo precisaria de dois a três minutos", afirma Turíbio Leite de Barros, fisiologista do São Paulo.
Para Adauto Domingues, técnico do fundista Marílson dos Santos, a parada traz ainda um outro
ônus. "Quando você pára, todas
as sensações de dor e cansaço vêm
de uma vez", declara.
Já a descarga hormonal -principalmente de adrenalina, que
prepara o organismo para se defender- é incompatível com o
estado do atleta após todo o esforço de uma competição desse tipo.
"Numa situação normal, a pessoa fica com mais força, mas no
fim da maratona você não tem
mais força, está no limite", diz
Jorge Agostinis, preparador físico
da maratonista Márcia Narloch.
A última perda seria psicológica. Tanto Agostinis quanto o médico da equipe Pé de Vento Henrique Viana crêem que a maior
parte dos atletas desistiria.
"Aquilo era para sentar na calçada e chorar", disse Agostinis.
"Ele retomou muito próximo do
ritmo anterior, isso valorizou a
medalha de bronze", disse Viana,
que acompanha em sua equipe o
maratonista Frank Caldeira, último vencedor da modalidade em
São Paulo e na Pampulha.
Alguns acham exagero dizer
que Lima venceria não fosse o incidente, que lhe tomou oito segundos. Para Viana e Domingues,
sua expressão de cansaço contrastava com a de Stefano Baldini,
"mais inteiro", na visão de ambos.
"Ele ia acabar ficando com o
bronze mesmo. A tática dele foi
perfeita, mas ao fim da prova seus
adversários pareciam em melhor
estado que ele", afirmou Viana,
que lembra que a diferença de Lima para Baldini havia caído de 47
segundos para 26 segundos antes
mesmo da invasão do irlandês.
Agostini discorda. "Ele [Lima]
não estava morto, tanto que conseguiu voltar no mesmo ritmo. O
Baldini poderia até tirar a vantagem, mas eles iam entrar juntos, e
ia ter briga no final. Para mim, ele
é ouro", afirma o preparador.
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