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São Paulo, terça-feira, 30 de setembro de 2003

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FUTEBOL

Nada a ver

MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
EDITOR DE OPINIÃO

Um dos mentores de uma das piores propostas de calendário jamais imaginadas para o futebol do país está agora conspirando contra a fórmula dos pontos corridos no Campeonato Brasileiro.
Ainda ontem o Painel FC publicava nota informando que Marcelo Campos Pinto anda procurando presidentes de clubes para fazer campanha pela volta do sistema de mata-mata.
Campos Pinto é o executivo da Globo Esportes, empresa que negocia direitos para a emissora, adianta dinheiro a clubes e participa ativamente dos bastidores da politicagem futebolística.
Por ora, dedica-se a solapar a fórmula com a qual se comprometera (depois que seu calendário pifou) no grupo de trabalho que fez sugestões para o Estatuto do Torcedor.
Pode-se argumentar que esse comportamento errático seria na verdade um saudável reconhecimento de enganos, e que o homem da Globo Esportes estaria fazendo sua enésima autocrítica, pois ainda não descobriu qual o formato ideal para um campeonato nacional de futebol.
Esse é um drama que, estranhamente, só acomete o Brasil, onde nas últimas décadas utilizaram-se duas dezenas de fórmulas diferentes de disputa.
Países onde o futebol é levado um pouco mais a sério, ou seja, todos os da Europa, usam os pontos corridos (o formato esportivamente mais justo) para definir seus campeões nacionais. Fórmulas com grupos, eliminação e mata-mata ficam para as copas continentais e nacionais.
É um modelo equilibrado, que atende também a uma exigência de mercado. Um Nacional por pontos corridos garante os clubes em atividade, ou seja, que não fiquem parados ao serem eliminados das copas, como ocorreu com vários deles no formidável calendário de Campos Pinto.
O mata-mata, segundo se diz, beneficiaria a Globo. Não creio.
O que beneficia uma emissora é a credibilidade. E não existe fórmula boa para a televisão, parece claro, se não for também boa para a atividade a ser por ela explorada.
O futebol brasileiro é um espetacular exemplo de potenciais desperdiçados. Há inúmeras explicações para essa situação estúpida, mas elas podem ser resumidas no seguinte:
"Não se consegue implantar aqui no bananal um modelo de negócio sustentável para um espetáculo de massas que tem os melhores "artistas" da face da terra, um público apaixonado para vê-los, além de marcas e patrocinadores interessados em investir, desde que, obviamente, existam regras claras e estáveis (ufa!) e que o ambiente não seja sinônimo de mediocridade e sujeira".
É uma pena que a Globo, capaz da extraordinária façanha de barrar a invasão de enlatados estrangeiros, criando teledramaturgia e entretenimento nacionais competitivos, exportados para o mundo inteiro, não consiga produzir uma estratégia um pouco mais firme, inteligente e ambiciosa para o show do futebol.

Por que não melhorar?
Seria muito mais produtivo para o futebol brasileiro se o calendário atual, que já teve seus avanços, fosse melhorado. Primeiramente, seria necessário reduzir o número de participantes na Série A do Nacional. Depois, fazer com que as férias coincidissem com as européias. Até o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, já entendeu isso. Não faz sentido, também, que as duas copas mais importantes, a Libertadores da América e a do Brasil sejam realizadas juntas no primeiro semestre, excluindo da segunda os participantes da primeira, que são em tese os melhores clubes do país. A Copa do Brasil tem que contar com a participação das equipes mais fortes. É uma competição que deu certo e que pode saciar a fome de mata-mata da televisão.

E-mail mag@folhasp.com.br


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