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FUTEBOL
Nada a ver
MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
EDITOR DE OPINIÃO
Um dos mentores de uma
das piores propostas de calendário jamais imaginadas para
o futebol do país está agora conspirando contra a fórmula dos
pontos corridos no Campeonato
Brasileiro.
Ainda ontem o Painel FC publicava nota informando que
Marcelo Campos Pinto anda procurando presidentes de clubes para fazer campanha pela volta do
sistema de mata-mata.
Campos Pinto é o executivo da
Globo Esportes, empresa que negocia direitos para a emissora,
adianta dinheiro a clubes e participa ativamente dos bastidores da
politicagem futebolística.
Por ora, dedica-se a solapar a
fórmula com a qual se comprometera (depois que seu calendário pifou) no grupo de trabalho
que fez sugestões para o Estatuto
do Torcedor.
Pode-se argumentar que esse
comportamento errático seria na
verdade um saudável reconhecimento de enganos, e que o homem da Globo Esportes estaria
fazendo sua enésima autocrítica,
pois ainda não descobriu qual o
formato ideal para um campeonato nacional de futebol.
Esse é um drama que, estranhamente, só acomete o Brasil, onde
nas últimas décadas utilizaram-se duas dezenas de fórmulas diferentes de disputa.
Países onde o futebol é levado
um pouco mais a sério, ou seja,
todos os da Europa, usam os pontos corridos (o formato esportivamente mais justo) para definir
seus campeões nacionais. Fórmulas com grupos, eliminação e mata-mata ficam para as copas continentais e nacionais.
É um modelo equilibrado, que
atende também a uma exigência
de mercado. Um Nacional por
pontos corridos garante os clubes
em atividade, ou seja, que não fiquem parados ao serem eliminados das copas, como ocorreu com
vários deles no formidável calendário de Campos Pinto.
O mata-mata, segundo se diz,
beneficiaria a Globo. Não creio.
O que beneficia uma emissora é
a credibilidade. E não existe fórmula boa para a televisão, parece
claro, se não for também boa para a atividade a ser por ela explorada.
O futebol brasileiro é um espetacular exemplo de potenciais
desperdiçados. Há inúmeras explicações para essa situação estúpida, mas elas podem ser resumidas no seguinte:
"Não se consegue implantar
aqui no bananal um modelo de
negócio sustentável para um espetáculo de massas que tem os
melhores "artistas" da face da terra, um público apaixonado para
vê-los, além de marcas e patrocinadores interessados em investir,
desde que, obviamente, existam
regras claras e estáveis (ufa!) e
que o ambiente não seja sinônimo de mediocridade e sujeira".
É uma pena que a Globo, capaz
da extraordinária façanha de
barrar a invasão de enlatados estrangeiros, criando teledramaturgia e entretenimento nacionais competitivos, exportados para o mundo inteiro, não consiga
produzir uma estratégia um pouco mais firme, inteligente e ambiciosa para o show do futebol.
Por que não melhorar?
Seria muito mais produtivo para o futebol brasileiro se o calendário atual, que já teve seus
avanços, fosse melhorado. Primeiramente, seria necessário
reduzir o número de participantes na Série A do Nacional.
Depois, fazer com que as férias
coincidissem com as européias.
Até o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, já entendeu isso.
Não faz sentido, também, que
as duas copas mais importantes, a Libertadores da América e
a do Brasil sejam realizadas
juntas no primeiro semestre,
excluindo da segunda os participantes da primeira, que são
em tese os melhores clubes do
país. A Copa do Brasil tem que
contar com a participação das
equipes mais fortes. É uma
competição que deu certo e que
pode saciar a fome de mata-mata da televisão.
E-mail mag@folhasp.com.br
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