São Paulo, quinta-feira, 30 de novembro de 2000

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FUTEBOL
CPI pode investigar Jimmy Martins após fraude descoberta na Itália
Empresário é suspeito em caso de passaporte falso

SOLANO NASCIMENTO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Testemunhas que serão ouvidas na próxima semana pela CPI da CBF/Nike, aberta na Câmara, afirmam que o agente Jimmy Martins, que tem um escritório no bairro de Moema, em São Paulo, participou do esquema de falsificação do passaporte usado pelo atacante Jeda para atuar na Itália.
O passaporte falsificado dava a Jeda cidadania portuguesa. Com isso, o clube italiano não preencheria com o jogador uma de suas vagas para atletas de fora da CEE (Comunidade Econômica Européia) e poderia contratar mais um estrangeiro.
Vendido no início de maio pelo União São João, de Araras, para o Vicenza, Jeda chegou a usar o passaporte na Itália, mas a fraude foi descoberta pelas autoridades daquele país, e o documento acabou sendo apreendido.
O italianos se interessaram por Jeda em fevereiro, quando o atacante e outros quatro atletas do União São João foram emprestados para um time montado pelos ex-jogadores e empresários Careca e Edmar Bernardes, sócios da Careca Sport Center, para disputar um torneio na Itália.
Em maio, Edmar e Jeda foram até a Itália acompanhados por Eliseu de Oliveira, o Tiroga, empresário do jogador, e pelo presidente do União São João, José Mário Pavan, para acertar a venda do atleta por US$ 1 milhão.
Segundo o relato de Tiroga, ele, Jeda e Pavan só souberam na reunião com dirigentes do Vicenza que o jogador estava sendo negociado como um atleta que tivesse passaporte da CEE.
"Fomos para lá negociar um jogador extracomunitário", lembra Tiroga. Ele disse que na Itália soube que um agente chamado Jimmy Martins estava participando da operação para conseguir um passaporte para Jeda.
Pavan conta que foi da Itália a Portugal e, orientado por Edmar, procurou Martins em Lisboa. "Foi ele quem me entregou o passaporte no aeroporto", diz Pavan.
Edmar afirma que sabia da participação do agente na obtenção do passaporte antes mesmo da viagem à Europa.
"Os documentos (de Jeda) estavam sendo passados para Jimmy Martins", revela Edmar. De acordo com o empresário, a explicação que ele ouvia era de que Martins tinha contatos em Portugal e tentaria buscar a cidadania naquele país para Jeda com base na suposta descendência de portugueses que o jogador teria.
"Ele (Martins) era o despachante e pegou os papéis para fazer (o documento)", afirma. Segundo Edmar, quem conversava sobre o assunto com Martins era Careca.
Tiroga também responsabiliza Careca pelos contatos. De acordo com o procurador de Jeda, fotos e documentos que serviram para a confecção do passaporte falso foram entregues a Careca.
O empresário não nega nem confirma suas relações com Martins. "Foi contratado um pessoal em São Paulo (para conseguir o passaporte). Não posso adiantar nada", afirma Careca, dizendo que vai esperar sua convocação para depor na CPI da CBF/Nike e contar a história.
Como as demais testemunhas, Careca vai depor sob juramento e poderá ser processado por perjúrio se mentir na CPI.
Jeda voltou ao Brasil depois de o passaporte falso ter sido apreendido, mas já retornou ao Vicenza para jogar como atleta de fora da CEE.
A falsificação do passaporte gerou, além dos problemas legais, alguns econômicos.
Pelo contrato assinado entre o Vicenza e o União São João, o clube italiano pagou 30% do passe do jogador como entrada. O restante do pagamento estava condicionado à apresentação de um passaporte "idôneo".
A falsificação está sendo usada como motivo para o clube não pagar os US$ 700 mil restantes.

Repetição
Jeda não é o primeiro nem o mais famoso jogador brasileiro a ser flagrado com passaporte falso.
Em julho, o volante Edu, do Corinthians, foi negociado com o Arsenal, mas não conseguiu entrar na Inglaterra pois seu passaporte português também era falsificado. Depois, outros, como o atacante Warley, o lateral-esquerdo Jorginho e o goleiro Dida também enfrentaram o problema.
A CPI da CBF/Nike mandou dois deputados à Europa para buscar informações sobre o caso de Jeda e de outros jogadores brasileiros que usam e utilizaram passaportes falsificados.
A falsificação já vem sendo investigada por autoridades italianas e portuguesas. Se a CPI comprovar a participação de brasileiros na fraude, o caso será encaminhado também ao Ministério Público no Brasil.


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