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FUTEBOL
Pesos e medidas
SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA
Talvez os dirigentes dos clubes não possam reclamar do
regulamento da João Havelange,
mas técnicos, jogadores e torcedores podem. E eu também posso.
Eu disse talvez porque imagino
o peso de um veto da Ponte Preta,
por exemplo, na reunião do Clube
dos 13: "Ah, vocês discordam do
regulamento? Tudo bem, podem
pedir para sair. Tá "assim" de times querendo a sua vaga". Mais
ou menos o que o (mau) patrão
diz para o empregado descontente no país do desemprego a 10%.
Várias hipóteses tinham sido
formuladas para demonstrar as
distorções possíveis com esse regulamento "único" das oitavas-de-final, e os fatos consumados se encarregaram de confirmar algumas delas. Digamos que os seguintes resultados fossem apresentados: time A perde uma partida para o time B por 1 a 0, mas
ganha a segunda por 2 a 1. Time
A tem campanha melhor do que o
time B. Quem se classifica?
Na JH, o de campanha pior,
porque um de seus gols foi marcado fora de casa. Tem cabimento?
O time A precisaria ter feito 3 a 1
no jogo em casa para compensar
a derrota por 1 a 0 no jogo fora.
Essa equivalência é ridícula.
Se o gol sofrido em casa tem peso maior do que o gol marcado,
jogar em casa é desvantagem! Esse critério, além de injusto, provoca uma inversão nos princípios do
futebol e favorece o jogo feio, afinal o mais importante em casa é
não tomar gols. Defender bem é
mais importante do que atacar.
Claro que essa é a história de
"A" e "B" aconteceu com o Grêmio e a Ponte. O Grêmio se recuperou espetacularmente no torneio e não tem culpa de ter sido
favorecido em detrimento da melhor campanha da Ponte, mas é
uma pena que se jogue no lixo tão
facilmente o bom desempenho
conseguido em 24 longas rodadas.
A sétima posição conquistada
na primeira fase não serviu para
quase nada, e a Ponte não ficou
sequer entre os oito melhores times. Uma tristeza.
Eu também lamentei a eliminação do Goiás, mas uma derrota
por 3 a 0 é inapelável, seja qual
for o regulamento. Se bem que 1 a
0 já era o suficiente para classificar o Paraná... Aliás, para o Goiás
só interessava a vitória ou o empate em 0 a 0. Para o Paraná,
qualquer vitória servia, e todos os
empates a partir de 2 a 2. Ou seja:
o fato de o Goiás empatar em 1 a 1
fora de casa deixou o Paraná com
mais resultados a seu favor!
Outro exemplo de distorção: os
resultados de 3 a 3 no primeiro jogo entre Bahia e Vasco e 2 a 2 no
segundo dariam a vaga ao Vasco.
Os mesmos dois empates, em ordem inversa, dariam a vaga ao
Bahia! Como os mesmos placares
podem ter significado diferente?
Só mais uma hipótese: se dois times do mesmo Estado se enfrentassem nessa fase em dois jogos no
mesmo estádio não estariam todos "em casa"? O tamanho e a localização da torcida na arquibancada seriam a única diferença entre os jogos. O que isso tem a
ver com o que acontece no campo? Nada, mas determinaria o peso do gol marcado em cada jogo.
Chorar sobre o leite derramado
não vai mudar os resultados deste
ano, mas muitas mudanças só
são conseguidas na base da choradeira. Quem sabe no ano que
vem tenhamos um campeonato
mais lógico e decente.
Mas, afinal de contas, mesmo
que os jogos sejam disputados em
estádios (ou até Estados) diferentes, qual é a grande diferença do
"gol-marcado-fora-de-casa"?
Se é para cada gol ter um valor
diferente, então vamos caprichar
nos critérios. Gol contra vale
meio. "Gol-de-goleiro-em-linda-cobrança-de-falta", um e meio.
Golaço vale dois, mas há que se
chegar a um acordo. Chute de bico fora da área, daqueles que estufam as redes com gosto, vale a
mesma coisa que um chapéu no
zagueiro? "Gol-relâmpago-fora-de-casa" conta o mesmo que gol
de pênalti? Gol de cabeça e gol de
bicicleta têm pesos iguais? E o
"gol-no-último-minuto"?
Vamos parar de palhaçada. Gol
é gol e vale um, acabou.
Em jogo do Campeonato Italiano esta semana, Batistuta não
quis comemorar o gol que marcou contra a Fiorentina, em respeito à torcida que já o aplaudiu
tanto. Pode ser romantismo meu
(ou "coisa de mulher"), mas achei
a atitude comovente. Ele não precisaria fazer média com o ex-time
e ainda corria o risco de desagradar a torcida da Roma, mas, mesmo assim, preferiu não ferir os
sentimentos dos ex-aliados nem
esconder os próprios sentimentos.
Atitude hipócrita (porque marcou um gol assim mesmo) e antiprofissional (porque agora defende outras cores)? De jeito nenhum. Ele cumpriu sua obrigação
de goleador, mas sem perder a
ternura. Em época de prazeres sádicos, sinais de "coração mole" e
humanidade destoam.
Não por isso, mas será que Batistuta nunca vai ser candidato a
"melhor do ano"?
E-mail
soninha.folha@uol.com.br
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