São Paulo, sexta-feira, 30 de novembro de 2001

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Empresa de Pelé ajudou Santos a contratar Giovanni

FAUSTO SIQUEIRA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SANTOS

O Santos obteve no final de 1994 um empréstimo da Pelé Sports & Marketing Ltda. de metade do valor que necessitava para comprar o passe do meia-atacante Giovanni, segundo o então presidente do clube, Samir Jorge Abdul-Hak.
Na ocasião, Giovanni estava emprestado ao Santos pelo Tuna Luso, do Pará, com o passe fixado em R$ 300 mil. Segundo Abdul-Hak, como o prazo do empréstimo se encerrava em 31 de dezembro de 1994 e o clube não tinha dinheiro para a compra, a empresa de Pelé emprestou R$ 150 mil.
Os outros R$ 150 mil teriam vindo de um empréstimo do então diretor do departamento amador, Vincenzo di Gregorio, empresário do ramo da pesca, que cedeu R$ 50 mil, e de um empréstimo bancário de R$ 100 mil.
Segundo o vice-presidente à época, Clodoaldo Tavares Santana, Abdul-Hak e o ex-presidente do clube Antonio Aguiar foram os avalistas do empréstimo.
Abdul-Hak diz não poder afirmar se o dinheiro emprestado por Pelé seja parte dos US$ 700 mil que a PS&M Inc. (Pelé Sports & Marketing Inc), empresa ligada a Pelé, ganhou na organização de um evento -nunca realizado- do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância).
""Quem emprestou foi a empresa do Pelé. Quem pode garantir que aquele dinheiro era esse, que serviu para esse fim?", indagou Abdul-Hak, advogado e grande amigo de Pelé.
No fim de 1994, a diretoria santista era apoiada por Pelé, que informalmente era o homem-forte do clube. Abdul-Hak, que já era advogado de Pelé, era o vice-presidente do clube e assumiu o Santos em outubro daquele ano, após a renúncia do então presidente Miguel Kodja. Implantou a chamada ""política pés no chão", sob orientação do ""Atleta do Século".
Abdul-Hak diz que, embora tenha emprestado por meio de sua empresa dinheiro para a compra de Giovanni, Pelé não se beneficiou, em 1996, da venda do atleta, oficialmente por US$ 8 milhões, para o Barcelona, maior transação do futebol brasileiro à época.
""O dinheiro do Pelé foi devolvido dois meses depois [do empréstimo" por meio de cheque nominal à empresa [PS&M Ltda.". Essa documentação está toda no clube", disse Abdul-Hak, que contou que contratou Giovanni inicialmente por empréstimo após vê-lo atuando pelo Sãocarlense, equipe do interior paulista.
Para Clodoaldo Santana, Pelé ""prestou um grande serviço" ao vislumbrar que Giovanni viria a ser um atleta de destaque e ao ajudar o Santos a comprar o passe.
A PS&M Ltda. tem como sócios Pelé (dono de 60% das cotas) e Hélio Viana (40%), que estão rompidos. Pelé disse que, após a conclusão de uma auditoria interna em curso, fechará a empresa.
Juntos, Pelé e Viana participaram de uma operação em que a PS&M Inc. se comprometeu com a seção argentina do Unicef, em 1995, a realizar de graça um evento beneficente.
Num contrato paralelo com uma empresa dos EUA, também assinado por Pelé e Viana, a PS&M Inc. passou ter direito a receber US$ 3 milhões, originários de um banco argentino, pelo trabalho que antes seria gratuito.
O banco quebrou, não houve evento, e a PS&M Inc. ficou com os US$ 700 mil que chegou a receber para organizar a festa. Não entregou nenhum tostão ao Unicef.
Os advogados de Pelé dizem que o dinheiro saiu de contas bancárias de Nova York para contas pessoais de Viana, que nega.
Hélio Viana afirma que Pelé ficou com o dinheiro e o empregou para comprar Giovanni para o Santos. Pelé nega. Giovanni hoje atua no futebol grego.
A informação sobre o uso de dinheiro da PS&M Ltda. para comprar o passe de Giovanni não permite conclusões sobre a afirmação de Hélio Viana.
Sem documentos, não é possível saber se os R$ 150 mil -equivalentes a cerca de US$ 150 mil à época- tiveram origem no faturamento com o evento não realizado para o Unicef ou se saíram de outras fontes de receita da PS&M Ltda.


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