São Paulo, sexta-feira, 30 de novembro de 2001

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FUTEBOL

Otimista, técnico compara escolha dos grupos da Copa a bingo gaúcho

Scolari vê "sorteio viciado" e já aceita seleção na Coréia

JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
ENVIADO ESPECIAL À CORÉIA DO SUL

O Brasil não irá à Copa-2002 para ser mero coadjuvante. Técnico mais assediado pela imprensa internacional em Busan, onde está desde quarta-feira para acompanhar o sorteio dos grupos do Mundial, que será amanhã, Luiz Felipe Scolari decidiu adotar um discurso otimista na Coréia.
""É para honrar o nome do Brasil. A seleção brasileira é e sempre será a seleção brasileira. Nunca pode pensar em ir para uma Copa só querendo participar. Tem que ir para chegar à final. E vencer. Não vai ser diferente em 2002", disse o técnico à Folha, no saguão do hotel em que está hospedado na Coréia, após ter sido entrevistado pela imprensa chinesa.
""Quando se fala em futebol, todo mundo quer saber do Brasil. Não fosse assim, poderíamos ter ficado no Japão [para disputar a primeira fase do Mundial". Mas os coreanos bateram o pé que queriam porque queriam ver a seleção, então vamos ter que encarar o sorteio", comentou.
"Caso a bolinha coloque o Brasil na Coréia, o que posso fazer? Vamos jogar na Coréia", lamentou Scolari, que tinha planejado hospedar a seleção no Japão.
Segundo a Confederação Brasileira de Futebol havia informado, o país encabeçaria o Grupo F, jogando no Japão. Mas, sem nenhum representante na reunião que definiu os critérios do sorteio, a CBF foi surpreendida com a chance de ver a seleção atuando na Coréia a maior parte do tempo.
Às pressas, o treinador foi ontem mesmo conversar com o Kowoc, o Comitê Organizador da Coréia, para visitar os principais centros de treinamento do país, a partir de segunda, caso o Brasil jogue pelo menos parte da Copa do Mundo em solo coreano.
E acha que a seleção não vai escapar da Coréia. ""Escutei um zunzunzum de que o Brasil e a Argentina vão cair em grupos [C, E ou G" que jogam um pouco no Japão, um pouco na Coréia. Acho que vai ser um sorteio viciado, pior que bingo no Rio Grande do Sul", brincou o treinador.

Folha - O que esperar do sorteio de amanhã?
Luiz Felipe Scolari -
Vamos esperar para ver o que vai dar, né? Mas o melhor agora é torcer para o Brasil cair no Grupo B ou no F. Se cairmos no B, fazemos seis jogos na Coréia, só a final no Japão. Se formos para o F, jogamos a Copa no Japão [só a disputa pelo terceiro lugar seria na Coréia". Seria o melhor cenário, porque não faríamos tantas viagens e poderíamos nos concentrar em um só lugar.

Folha - Mas no Grupo B o time não teria o carinho da torcida japonesa, que idolatra o futebol brasileiro...
Scolari -
O coreano também gosta muito da gente e admira nosso futebol. Tenho até uma coisa gozada com a Coréia, porque me lembra do início da minha carreira [de técnico". Em 1981, eu estive aqui mesmo em Busan, dirigindo o Juventude. Foram dois jogos contra a seleção da Coréia, um aqui, que ganhamos por 1 a 0, o outro em Seul, que, se eu não estiver enganado, vencemos por 2 a 1. São boas recordações.

Folha - Se a seleção brasileira tiver que jogar parte da Copa na Coréia, parte no Japão, vocês vão optar por dois locais diferentes para concentrar o time?
Scolari -
Vai ter que ser. Não tínhamos pensado nessa hipótese porque estávamos certos de que jogaríamos no Japão, mas, se formos jogar nos dois países, vou procurar duas concentrações.

Folha - Como desde a primeira fase os times fazem jogos em cidades diferentes, embora dentro do mesmo país, pelo menos duas seleções européias não terão concentração fixa, irão de hotel em hotel a cada jogo que tiverem de fazer. O Brasil pode seguir o exemplo?
Scolari -
Não, acho importante ter uma sede, um lugar que seja nosso, a nossa casa...

Folha - A maioria está apontando França e Argentina como as grandes favoritas para ganhar a Copa...
Scolari -
Acho ótimo, o Brasil pode correr por fora, sem toda aquela pressão. E tenham certeza de que vai entrar para ganhar, nunca pensando em ser um simples participante.

Folha - Seis meses são suficientes para fazer um bom trabalho?
Scolari -
É o tempo que temos pela frente. O que vou precisar é da colaboração dos clubes. Parece que tem torneio, acho que até a Libertadores, que vai até 15 de maio [a Copa começa no dia 31", aí não dá. Vou conversar com os times para pedir a liberação dos jogadores pelo menos 20 dias antes da Copa. Quem for à final, pode ficar desfalcado de um ou dois jogadores, mas é hora de pensar um pouco na seleção, no sucesso do futebol brasileiro.

Folha - E a idéia de fazer jogos-treinos contra times ou seleções estaduais, só com atletas brasileiros?
Scolari -
Está de pé. Quero ver se reúno pelo menos uma vez por mês só os atletas que atuam no Brasil para fazer os jogos-treinos. Aí, chego para uma federação ou um clube e peço para eles imitarem a forma de jogar dos nossos rivais na primeira fase, pode ser uma boa experiência. Se formos enfrentar a Croácia, peço para o adversário jogar como a Croácia. É um jeito de envolver mais gente, até quem não for selecionado, na preparação do time para a Copa e observar dois ou três atletas que ainda não foram chamados.

Folha - E os jogadores que atuam no exterior?
Scolari -
Virão apenas para os três amistosos oficiais que vamos fazer. Mas já está bom.

Folha - Sobre convocação de jogadores, não está cansado sempre das mesmas perguntas? Vai chamar o Romário, não vai, o Kaká vai ter uma chance ou ainda é cedo...
Scolari -
É o jeito. Um chinês me perguntou do Kaká, do Júnior Baiano. Outro, do Romário. Um jornalista português quer saber se o Jardel não merece outra chance... É assim em todo lugar. As mesmas perguntas, as mesmas respostas... Eu posso chamar qualquer um, não estou fechando o leque, não.

Folha - Quando assumiu a seleção, você falou que a Regina Brandão [psicóloga" trabalharia com a comissão técnica. Até agora ela não foi chamada. Ainda pensa em chamá-la para a Copa?
Scolari -
Sem a menor dúvida. Ela é uma excelente profissional, supercompetente, conto com seu trabalho no Mundial. A princípio, trabalhando para mim mesmo, porque vou pagá-la do meu próprio bolso, para fazer o perfil psicológico dos jogadores. Se a CBF quiser, ela será incorporada ao grupo. Mas não vou abrir mão do trabalho dela, não. Faço questão.


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