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FUTEBOL
Otimista, técnico compara escolha dos grupos da Copa a bingo gaúcho
Scolari vê "sorteio viciado" e já aceita seleção na Coréia
JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
ENVIADO ESPECIAL À CORÉIA DO SUL
O Brasil não irá à Copa-2002 para ser mero coadjuvante. Técnico
mais assediado pela imprensa internacional em Busan, onde está
desde quarta-feira para acompanhar o sorteio dos grupos do
Mundial, que será amanhã, Luiz
Felipe Scolari decidiu adotar um
discurso otimista na Coréia.
""É para honrar o nome do Brasil. A seleção brasileira é e sempre
será a seleção brasileira. Nunca
pode pensar em ir para uma Copa
só querendo participar. Tem que
ir para chegar à final. E vencer.
Não vai ser diferente em 2002",
disse o técnico à Folha, no saguão
do hotel em que está hospedado
na Coréia, após ter sido entrevistado pela imprensa chinesa.
""Quando se fala em futebol, todo mundo quer saber do Brasil.
Não fosse assim, poderíamos ter
ficado no Japão [para disputar a
primeira fase do Mundial". Mas
os coreanos bateram o pé que
queriam porque queriam ver a seleção, então vamos ter que encarar o sorteio", comentou.
"Caso a bolinha coloque o Brasil
na Coréia, o que posso fazer? Vamos jogar na Coréia", lamentou
Scolari, que tinha planejado hospedar a seleção no Japão.
Segundo a Confederação Brasileira de Futebol havia informado,
o país encabeçaria o Grupo F, jogando no Japão. Mas, sem nenhum representante na reunião
que definiu os critérios do sorteio,
a CBF foi surpreendida com a
chance de ver a seleção atuando
na Coréia a maior parte do tempo.
Às pressas, o treinador foi ontem mesmo conversar com o Kowoc, o Comitê Organizador da
Coréia, para visitar os principais
centros de treinamento do país, a
partir de segunda, caso o Brasil jogue pelo menos parte da Copa do
Mundo em solo coreano.
E acha que a seleção não vai escapar da Coréia. ""Escutei um zunzunzum de que o Brasil e a Argentina vão cair em grupos [C, E ou
G" que jogam um pouco no Japão, um pouco na Coréia. Acho
que vai ser um sorteio viciado,
pior que bingo no Rio Grande do
Sul", brincou o treinador.
Folha - O que esperar do sorteio
de amanhã?
Luiz Felipe Scolari - Vamos esperar para ver o que vai dar, né? Mas
o melhor agora é torcer para o
Brasil cair no Grupo B ou no F. Se
cairmos no B, fazemos seis jogos
na Coréia, só a final no Japão. Se
formos para o F, jogamos a Copa
no Japão [só a disputa pelo terceiro lugar seria na Coréia". Seria o
melhor cenário, porque não faríamos tantas viagens e poderíamos
nos concentrar em um só lugar.
Folha - Mas no Grupo B o time não
teria o carinho da torcida japonesa,
que idolatra o futebol brasileiro...
Scolari - O coreano também gosta muito da gente e admira nosso
futebol. Tenho até uma coisa gozada com a Coréia, porque me
lembra do início da minha carreira [de técnico". Em 1981, eu estive
aqui mesmo em Busan, dirigindo
o Juventude. Foram dois jogos
contra a seleção da Coréia, um
aqui, que ganhamos por 1 a 0, o
outro em Seul, que, se eu não estiver enganado, vencemos por 2 a 1.
São boas recordações.
Folha - Se a seleção brasileira tiver que jogar parte da Copa na Coréia, parte no Japão, vocês vão optar por dois locais diferentes para
concentrar o time?
Scolari - Vai ter que ser. Não tínhamos pensado nessa hipótese
porque estávamos certos de que
jogaríamos no Japão, mas, se formos jogar nos dois países, vou
procurar duas concentrações.
Folha - Como desde a primeira fase os times fazem jogos em cidades
diferentes, embora dentro do mesmo país, pelo menos duas seleções
européias não terão concentração
fixa, irão de hotel em hotel a cada
jogo que tiverem de fazer. O Brasil
pode seguir o exemplo?
Scolari - Não, acho importante
ter uma sede, um lugar que seja
nosso, a nossa casa...
Folha - A maioria está apontando
França e Argentina como as grandes favoritas para ganhar a Copa...
Scolari - Acho ótimo, o Brasil
pode correr por fora, sem toda
aquela pressão. E tenham certeza
de que vai entrar para ganhar,
nunca pensando em ser um simples participante.
Folha - Seis meses são suficientes
para fazer um bom trabalho?
Scolari - É o tempo que temos
pela frente. O que vou precisar é
da colaboração dos clubes. Parece
que tem torneio, acho que até a
Libertadores, que vai até 15 de
maio [a Copa começa no dia 31",
aí não dá. Vou conversar com os
times para pedir a liberação dos
jogadores pelo menos 20 dias antes da Copa. Quem for à final, pode ficar desfalcado de um ou dois
jogadores, mas é hora de pensar
um pouco na seleção, no sucesso
do futebol brasileiro.
Folha - E a idéia de fazer jogos-treinos contra times ou seleções estaduais, só com atletas brasileiros?
Scolari - Está de pé. Quero ver se
reúno pelo menos uma vez por
mês só os atletas que atuam no
Brasil para fazer os jogos-treinos.
Aí, chego para uma federação ou
um clube e peço para eles imitarem a forma de jogar dos nossos
rivais na primeira fase, pode ser
uma boa experiência. Se formos
enfrentar a Croácia, peço para o
adversário jogar como a Croácia.
É um jeito de envolver mais gente,
até quem não for selecionado, na
preparação do time para a Copa e
observar dois ou três atletas que
ainda não foram chamados.
Folha - E os jogadores que atuam
no exterior?
Scolari - Virão apenas para os
três amistosos oficiais que vamos
fazer. Mas já está bom.
Folha - Sobre convocação de jogadores, não está cansado sempre
das mesmas perguntas? Vai chamar o Romário, não vai, o Kaká vai
ter uma chance ou ainda é cedo...
Scolari - É o jeito. Um chinês me
perguntou do Kaká, do Júnior
Baiano. Outro, do Romário. Um
jornalista português quer saber se
o Jardel não merece outra chance... É assim em todo lugar. As
mesmas perguntas, as mesmas
respostas... Eu posso chamar
qualquer um, não estou fechando
o leque, não.
Folha - Quando assumiu a seleção, você falou que a Regina Brandão [psicóloga" trabalharia com a
comissão técnica. Até agora ela
não foi chamada. Ainda pensa em
chamá-la para a Copa?
Scolari - Sem a menor dúvida.
Ela é uma excelente profissional,
supercompetente, conto com seu
trabalho no Mundial. A princípio,
trabalhando para mim mesmo,
porque vou pagá-la do meu próprio bolso, para fazer o perfil psicológico dos jogadores. Se a CBF
quiser, ela será incorporada ao
grupo. Mas não vou abrir mão do
trabalho dela, não. Faço questão.
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