São Paulo, quarta, 30 de dezembro de 1998

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Ainda falta uma solução para o Brasileiro

ALBERTO HELENA JR.
da Equipe de Articulistas

Até mesmo os mais ferrenhos defensores do sistema de pontos corridos se curvaram diante do êxito que foi o último Campeonato Brasileiro. Principalmente, porque a fórmula de melhor- de-três adotada para a fase final do torneio não só serviu para avaliar o melhor, com justeza, como empolgou o torcedor, que acorreu aos estádios mesmo nas horas mais impróprias estabelecidas pela TV, a dona da bola.
É bem verdade que tudo acabou bem porque tudo acabou bem. Isto é: venceu o Corinthians, que, ao longo de todo o certame, foi o que deteve a liderança por mais tempo, quase de cabo a rabo. Como, aliás, quase sempre acontece, qualquer que seja o sistema adotado.
Além do mais, o vice, o Cruzeiro -embora tenha entrado pelo funil, na última vaga-, era o outro time que praticava o melhor futebol. Assim, conjuminou, como diz o caipira.
Mas, pergunto: e se o campeão tivesse sido, digamos, o Grêmio, que se classificou ali, na fita, mas, ao contrário do Cruzeiro, exibia um futebol opaco, ainda que aguerrido? Os aplausos ao sistema adotado seriam os mesmos?
Digo isso na cômoda condição de quem não defende a fórmula de pontos corridos para o futebol brasileiro, por razões aqui expostas já à exaustão. Entre elas, talvez a mais poderosa é a de que somos presas atávicas da cultura do campeão, para a qual o vice é menos que nada. Por isso mesmo, se achamos neste ano a fórmula mágica para as disputas finais, carecemos ainda de uma solução, nessa mesma direção, para a fase classificatória.
Como? Simples. Basta dividir a primeira fase em grupos, dos quais sairão os campeões que irão disputar o título na segunda fase, no jeitinho que foi neste ano.
Assim, incrementa-se a disputa da primeira fase e valoriza-se ainda mais a decisão.

Está aqui, entre nós, o velho Lobo dos campos, que, no outono de sua carreira, dá mais uma demonstração de vigor e destemor. Pela primeira vez, desde que começou a correr atrás de uma bola, há meio século, Zagallo vem trabalhar em São Paulo. E logo na Lusa, onde nem mesmo Candinho, que os fados talharam para o Canindé, consegue resistir por muito tempo.
Chega com o coração dividido entre a esperança de acrescentar em sua galeria de títulos aquele que talvez venha a ser, se não o mais precioso, o mais improvável de todos, e a dor da perda do amigo Admildo Chirol.
Boa sorte, Zagallo.

Línguas ferinas espalham que a diretoria tricolor se ufana tanto do museu montado no Morumbi que resolveu levar suas peças para o campo.
Mas, cá entre nós, se o time for esse mesmo que corre à boca pequena, que os ilustres adversários se cuidem. Olhem só: Rogério; Jorginho, Aloísio, Márcio Santos e Serginho; Alexandre, Carlos Miguel, Valdo e Raí; Muller e França.
Tudo bem, é um time centenário. Mas, para jogar aí uns seis meses, em busca do bi paulista, está de bom tamanho.
Mesmo porque, neste futebol de alta rotatividade de hoje em dia, quem consegue manter um time por mais de seis meses, hein?


Alberto Helena Jr. escreve aos domingos, segundas e quartas



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