São Paulo, quarta, 30 de dezembro de 1998

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ATLETISMO
Paul Tergat pede aos torcedores brasileiros que não voltem a jogar baldes de água, como na São Silvestre-97
Atrás do tri, queniano quer correr 'seco'

da Reportagem Local

O queniano Paul Tergat, 29, afirma não guardar ressentimentos dos banhos de água que recebeu de torcedores brasileiros nos trechos finais da corrida de São Silvestre do ano passado.
De volta a São Paulo para a disputa da 74ª edição da prova, que acontece amanhã, Tergat tentará garantir desta vez o tricampeonato, que deixou escapar em 1997, quando foi o segundo colocado -atrás do paranaense Émerson Iser Bem, 25.
Tergat, que não compete desde setembro e treina desde outubro para a corrida paulistana, é o dono do recorde da São Silvestre, estabelecido em 1995, com 43min12s.
No ano seguinte, o atleta, dono de quatro títulos mundiais em cross-country (corrida em terreno acidentado) e do recorde mundial em meia maratona (59min17s), também foi campeão.
Tergat é o principal nome internacional na prova de amanhã.
"O Brasil é um de meus lugares preferidos. O público sempre me deu força no percurso. Até gritavam "Paul"', contou o fundista.
A concorrência com um atleta nacional, entretanto, fez com que a simpatia tenha virado uma certa hostilidade, segundo Tergat.
"Quando o Iser Bem se aproximou (em 1997), começaram a jogar baldes de água sobre mim. Não sei se para refrescar ou atrapalhar", afirmou Tergat.
"Eu me assustei um pouco com uma pessoa que saiu do meio do público para jogar a água. Tirou um pouco da minha concentração quando estava lado a lado com o brasileiro e perdi um pouco do ritmo", completou o queniano.
Tergat lembra que preferiu não falar muito sobre o assunto após a corrida, no ano passado, pois Iser Bem tinha os méritos da vitória.
E comenta que, dias depois, na corrida de San Fernando, no Uruguai, a falta de torcida contra fez as coisas diferentes -Tergat venceu.
"Não quero reclamar do público de jeito nenhum. O bom de correr aqui é a participação, o envolvimento das pessoas na rua", disse o ex-recordista mundial dos 10.000 m, acostumado a correr nos principais e mais organizados campeonatos do mundo.
Segundo Tergat, correr em São Paulo é tão bom quanto correr em sua cidade, Nairóbi, no Quênia.
"Fanáticos pelos atletas locais há em todo lugar. Eu não trocaria o Brasil por nada. Se tivesse um apartamento aqui, viria sempre", afirmou Tergat.
"Em muitos lugares, só pensam em negócios. No Brasil, as pessoas sabem curtir a vida", completou.
A corrida de São Silvestre marca o início da temporada de 1999 do fundista queniano.
Ele vê a prova brasileira como uma preparação para seus principais objetivos, que incluem a tentativa do pentacampeonato no Mundial de Cross Country e a recuperação de seu recorde mundial nos 10.000 m.
Ele perdeu a marca mundial para o etíope Haile Gebreselassie, que fez 26min22s75, em junho de 98.
"O importante não é vencer o tempo todo, mas estar preparado para vencer e também para perder", disse. "Recordes existem para serem quebrados."



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