São Paulo, quinta-feira, 31 de janeiro de 2002

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No 1º jogo do ano da Copa, sombra de Romário e nervosismo perturbam Brasil

Seleção carrega tensão de 2001 para amistoso

FÁBIO VICTOR
ENVIADO ESPECIAL A GOIÂNIA

A seleção brasileira faria hoje o seu primeiro jogo no ano da Copa do Mundo com a convicção de que, sem a responsabilidade de classificação que a perseguiu durante todas as eliminatórias, poderia enfim mostrar um futebol eficiente e convincente.
Mas a pressão popular pela convocação do atacante Romário, que inclusive rendeu ao técnico Luiz Felipe Scolari um caso de polícia, ontem -leia texto ao lado-, resgatou o clima tenso de 2001 e transformou em uma panela de pressão o simples amistoso preparatório desta noite.
Para começar, o adversário na partida que começa às 21h50, no estádio Serra Dourada, em Goiânia, é a Bolívia, um dos tantos algozes brasileiros na campanha traumática das eliminatórias.
O Brasil teve o pior desempenho de sua história no torneio qualificatório, que se arrastou por quase dois anos, e obteve a vaga na Copa do Mundo só na última rodada, após seis derrotas e apresentações pífias.
Embora o grupo convocado por Luiz Felipe Scolari esteja desfalcado dos craques que atuam no futebol europeu e repleto de novatos em seleção (oito atletas foram convocados pela primeira vez), a maioria do time titular que vai a campo hoje sentiu na pele a pressão das eliminatórias.
"Quem viveu aquela época sabe como era difícil. Com pressão, você faz jogadas sem pensar, quer decidir de qualquer jeito. Agora estamos mais conscientes", disse o zagueiro Juan.
Segundo o meia-atacante Juninho, a mudança no "astral" da seleção ("hoje é completamente diferente do ano passado, está muito melhor") terá reflexos positivos para o time no gramado.
Scolari deu a senha, num tom entre demagogo e ameaçador. "Acabou aquela história de que é possível perder uma ou outra partida. Quero todos os jogadores pensando que uma derrota pode representar nossa desclassificação na Copa do Mundo", afirmou ao chegar a Goiânia.
Se o fardo das eliminatórias terminou, foi substituído por um outro, que atormenta a seleção desde sua chegada a Goiânia, no último domingo: Romário.
Em ótima fase, o atacante vascaíno foi desprezado por Scolari, mas não sai da boca do povo. Desconfortável com os pedidos por Romário nos primeiros treinos, a seleção vetou a presença da torcida no coletivo de anteontem.
Os jogadores desconversam, mas sabem que, ao primeiro chute torto de Belletti ou escorregão de Cris, o artilheiro de 36 anos será evocado aos berros pela torcida. "Pedimos aos torcedores que não apupem nossos jogadores. Que procurem ajudar nosso time. Nós precisamos do público", disse, quase numa súplica, o coordenador técnico, Antônio Lopes.
Scolari, que manterá o esquema 3-5-2, deve escalar apenas três dos novatos como titulares (o zagueiro Ânderson Polga, que atuará como líbero, o lateral-esquerdo Paulo César e o meia Kléberson).
A consciência de que um bom desempenho hoje será crucial para agarrar uma vaga na Copa move calouros e "veteranos". E pode fazer de um jogo teoricamente insosso uma partida movimentada.
"O rival pode não estar na Copa, mas, queira ou não, nos venceu há pouco tempo. Então, tem um clima de rivalidade", disse Juninho. Pelas eliminatórias, o Brasil venceu a Bolívia por 5 a 0, no Rio, e perdeu por 3 a 1, em La Paz.


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