São Paulo, quinta-feira, 31 de janeiro de 2002

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FUTEBOL

Complôs

SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA

Sem querer forçar a amizade com Nelson Rodrigues, comecemos com o óbvio ululante: Romário não é unanimidade nacional (o que, segundo Nelson, seria burrice).
Muitos acham que ele está velho, que "some" em alguns jogos, que simula a tal dor na coxa quando o panorama não é dos melhores, que é mau-caráter, que nem é tão bom assim.
Eu já disse que entendo esses argumentos (concordo com alguns), mas tenho opinião diferente.
Para mim, Romário é um fora-de-série, com habilidade incrível e esperteza idem.
Só que alguns críticos de Romário têm visto segundas intenções nos que o defendem, falando em "lobby pró-Romário", "campanha orquestrada pela mídia" ou coisa parecida.
Por que defender uma idéia é, necessariamente, "fazer lobby"?
Comentarista nenhum está sussurando o nome do Romário no ouvido do técnico, tentando se beneficiar com isso. E jornais, rádios e TVs não levam vantagem com sua presença na seleção.
Pior: há quem acredite na existência de um "complô" entre Rio e São Paulo para promover o jogador e derrubar o técnico gaúcho. Putz!
Em São Paulo, Felipão já foi amado pela torcida do Palmeiras e muito desejado pelas outras (unanimidade também não foi, claro). No Rio, não sei qual é a sua aceitação. Mas sei que assumiu a seleção com bastante apoio no país inteiro, e que as críticas a ele não têm nada a ver com seu Estado natal.
Além disso, a rivalidade entre paulistas e cariocas pode ser menor que a de Vasco e Flamengo, mas existe. Rio e São Paulo não estariam juntos em um "complô"!
Essa idéia de São Paulo e Rio x o resto do Brasil é um saco.
No futebol, é injustificável: os jogadores que brilham aqui vêm de todas as partes.
Uma campanha pró-França ou Rogério seria classificada como lobby de paulista, não? Mas um é maranhense, e o outro, paranaense.
(Cabe aqui um mea-culpa: em São Paulo, os defensores do Jardel -cearense- seriam chamados de "fãs do futebol gaúcho"...)
Os não-sudestinos têm razão quando reclamam da pouca atenção que se dá, aqui, aos times e campeonatos de outras regiões.
Sediadas no Rio ou em São Paulo, as principais emissoras de TV falam muito mais dos seus Estados que dos outros (embora tenham "braços" no Brasil todo).
Ou seja: as TVs do país são nacionais no alcance, mas não na representatividade.
Por isso há muito de Flamengo e Corinthians e pouco de Bahia, Paysandu, Inter, Atléticos...
Com isso, São Paulo também não consegue ver jogos de outras regiões do país.
Podemos assistir à TV Árabe, mas não a Santa Cruz x Vitória!
Esse problema não é só do esporte. A TV em rede nacional integra o Brasil, mas "monolitiza" a cultura e enfraquece a cena local, bem ao gosto do governo militar (militares gostam de uniformidade e controle). Eu não, eu gosto de diversidade. Dos sotaques e gírias, dos nomes incomuns, dos cantos e festas de cada lugar.
Para encerrar: já fui "zoada" pelo próprio Romário no Rio, só por ser paulista (ele não me conhecia). Por isso, garanto aos brasileiros de Norte a Sul: o fato de ele ser carioca não faz a menor diferença, contra ou a favor.
Eu só voto no Romário porque ele é craque.

"Ostensivamente"
Vale a pena ler de novo a declaração publicada ontem, na Folha, de um funcionário da Federação Goiana preocupado com a segurança da seleção: "Hoje, havia um sujeito exibindo ostensivamente uma bandeira do PT na arquibancada. Não se sabe o que ele pode fazer". O perigoso artefato era um pano vermelho de 30 cm, mais ou menos. Detalhe: o prefeito de Goiânia é do PT. Bom, depois que George W. Bush foi a nocaute com um salgadinho, já sabemos que o perigo vem de onde menos se espera. E se o torcedor atira a bandeira no gramado, e alguém tropeça e cai? Assim se justifica a presença, nos treinos, de 80 policiais e um helicóptero. Tomara (sinceramente!) que não façam falta em outro lugar.

Parabéns
Viva o fim da concentração do Vasco.

E-mail: soninha.folha@uol.com.br


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