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FUTEBOL
Complôs
SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA
Sem querer forçar a amizade com Nelson Rodrigues, comecemos com o óbvio ululante:
Romário não é unanimidade nacional (o que, segundo Nelson, seria burrice).
Muitos acham que ele está velho, que "some" em alguns jogos,
que simula a tal dor na coxa
quando o panorama não é dos
melhores, que é mau-caráter, que
nem é tão bom assim.
Eu já disse que entendo esses argumentos (concordo com alguns),
mas tenho opinião diferente.
Para mim, Romário é um fora-de-série, com habilidade incrível
e esperteza idem.
Só que alguns críticos de Romário têm visto segundas intenções
nos que o defendem, falando em
"lobby pró-Romário", "campanha orquestrada pela mídia" ou
coisa parecida.
Por que defender uma idéia é,
necessariamente, "fazer lobby"?
Comentarista nenhum está sussurando o nome do Romário no
ouvido do técnico, tentando se beneficiar com isso. E jornais, rádios
e TVs não levam vantagem com
sua presença na seleção.
Pior: há quem acredite na existência de um "complô" entre Rio
e São Paulo para promover o jogador e derrubar o técnico gaúcho. Putz!
Em São Paulo, Felipão já foi
amado pela torcida do Palmeiras
e muito desejado pelas outras
(unanimidade também não foi,
claro). No Rio, não sei qual é a
sua aceitação. Mas sei que assumiu a seleção com bastante apoio
no país inteiro, e que as críticas a
ele não têm nada a ver com seu
Estado natal.
Além disso, a rivalidade entre
paulistas e cariocas pode ser menor que a de Vasco e Flamengo,
mas existe. Rio e São Paulo não
estariam juntos em um "complô"!
Essa idéia de São Paulo e Rio x o
resto do Brasil é um saco.
No futebol, é injustificável: os
jogadores que brilham aqui vêm
de todas as partes.
Uma campanha pró-França ou
Rogério seria classificada como
lobby de paulista, não? Mas um é
maranhense, e o outro, paranaense.
(Cabe aqui um mea-culpa: em
São Paulo, os defensores do Jardel
-cearense- seriam chamados
de "fãs do futebol gaúcho"...)
Os não-sudestinos têm razão
quando reclamam da pouca
atenção que se dá, aqui, aos times
e campeonatos de outras regiões.
Sediadas no Rio ou em São
Paulo, as principais emissoras de
TV falam muito mais dos seus Estados que dos outros (embora tenham "braços" no Brasil todo).
Ou seja: as TVs do país são nacionais no alcance, mas não na
representatividade.
Por isso há muito de Flamengo
e Corinthians e pouco de Bahia,
Paysandu, Inter, Atléticos...
Com isso, São Paulo também
não consegue ver jogos de outras
regiões do país.
Podemos assistir à TV Árabe,
mas não a Santa Cruz x Vitória!
Esse problema não é só do esporte. A TV em rede nacional integra o Brasil, mas "monolitiza" a
cultura e enfraquece a cena local,
bem ao gosto do governo militar
(militares gostam de uniformidade e controle). Eu não, eu gosto de
diversidade. Dos sotaques e gírias,
dos nomes incomuns, dos cantos e
festas de cada lugar.
Para encerrar: já fui "zoada"
pelo próprio Romário no Rio, só
por ser paulista (ele não me conhecia). Por isso, garanto aos brasileiros de Norte a Sul: o fato de
ele ser carioca não faz a menor diferença, contra ou a favor.
Eu só voto no Romário porque
ele é craque.
"Ostensivamente"
Vale a pena ler de novo a declaração publicada ontem, na
Folha, de um funcionário da
Federação Goiana preocupado com a segurança da seleção: "Hoje, havia um sujeito
exibindo ostensivamente
uma bandeira do PT na arquibancada. Não se sabe o
que ele pode fazer". O perigoso artefato era um pano vermelho de 30 cm, mais ou menos. Detalhe: o prefeito de
Goiânia é do PT. Bom, depois
que George W. Bush foi a nocaute com um salgadinho, já
sabemos que o perigo vem de
onde menos se espera. E se o
torcedor atira a bandeira no
gramado, e alguém tropeça e
cai? Assim se justifica a presença, nos treinos, de 80 policiais e um helicóptero. Tomara (sinceramente!) que não
façam falta em outro lugar.
Parabéns
Viva o fim da concentração
do Vasco.
E-mail: soninha.folha@uol.com.br
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