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JUCA KFOURI
Como eles roubaram
Pode um livro ser fraudulento, preconceituoso, impreciso,
mal traduzido e obrigatório ao
mesmo tempo?
Pois pode -e é o caso de
"Como eles Roubaram o Jogo", sobre os subterrâneos da
Fifa, do inglês David A. Yallop, lançado no Brasil pela
Record, 365 páginas.
O autor é o mesmo de "Em
nome de Deus", de 1984, com
mais de seis milhões de cópias
vendidas pelo mundo afora,
no qual ele tenta provar que o
papa João Paulo 1º foi assassinado, e de "Até o fim do mundo", em 1993, fruto de uma entrevista feita com Carlos Chacal, então o terrorista mais
procurado do mundo.
O livro é fraudulento porque
se apropria, sem citar nomes e
veículos, de reportagens e de
depoimentos de outros jornalistas.
O caso mais berrante é o do
perfil de João Havelange publicado pelo jornalista brasileiro Roberto Pereira de Souza, em 1994, na "Playboy",
com quem Yallop esteve longamente, prometeu até a co-autoria do livro e simplesmente deixou de mencionar
-apesar de transcrever a reportagem.
O livro é preconceituoso porque elege a América do Sul, a
África e a Ásia os continentes
quase exclusivos da corrupção, reservando a sua Inglaterra um papel sempre impoluto, a ponto de negar qualquer irregularidade na Copa
do Mundo de 1966.
É inegável que os cartolas
dos três continentes são o que
há de pior, mas o mundo do futebol sabe que duas Copas foram feitas para seus anfitriões
ganharem: a da Inglaterra, em
1966, e a da Argentina, em
1978.
O livro é impreciso ao inventar um gol de falta de Garrincha contra a Inglaterra, em
1962, uma "folha seca", além
de errar datas, como por
exemplo a da gestão de Giullite Coutinho na CBF.
Mas, apesar do plágio, o livro
é mesmo obrigatório -a má
tradução nem é novidade.
Porque a fraude é bem feita,
isto é, o que Yallop copia sem
citar é de muito boa qualidade, fruto de um trabalho sério
e demorado de Roberto Pereira de Souza.
David A. Yallop, numa palavra, é um bom plagiador.
E reúne num só livro as mazelas de Havelange a Joseph
Blatter, passando por cartolas
menos votados internacionalmente, como Ricardo Teixeira.
Yallop, digamos assim, é
uma espécie de Robin Hood,
apesar de nem sempre roubar
dos ricos (como no caso da
apropriação indébita da matéria de "Playboy"), mas está
do lado certo ao revelar com
detalhes a corrupção no futebol mundial.
Ele mostra como Havelange
se elegeu pela primeira vez à
custa de Pelé e de um rombo
nas contas da antiga CBD em
1974 e, 24 anos depois, agora
na França, revela o tráfico de
dinheiro para que Joseph Blatter derrotasse o sueco Lennart
Johansson, um homem mesmo
de bem até segundo seus opositores.
Imperdível também, e só no
bom sentido, é "Futebol-Arte",
da editora Senac, de São Paulo, dos jornalistas Lucia Rito e
Sérgio Sá Leitão e brilhantemente editado pelo diretor de
arte Jair de Souza.
O livro, que só estará nas livrarias em março, reúne imagens maravilhosas do futebol
brasileiro e alguns dos melhores textos sobre a maior paixão do brasileiro.
Cada página é uma surpresa.
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