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FUTEBOL
Quatro fenômenos em campo
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
Se o Paraguai recuar demais para marcar no seu
campo e priorizar o contra-ataque, como faz a maioria das seleções que enfrenta o Brasil, o time
nacional terá menos problemas
na defesa, não sofrerá pressão,
não haverá tantas bolas cruzadas
na sua área e será mais fácil vencer. Os times que marcam mais
na frente e não deixam o Brasil
tocar muito a bola no meio-campo são os que têm mais chances de
surpreender.
A principal jogada do Paraguai
ainda é o cruzamento do Arce. O
Brasil terá de evitar excesso de
faltas na sua intermediária. Em
vez de deixar o Arce receber a bola na lateral do campo brasileiro,
Zé Roberto deveria marcá-lo
mais na frente.
Parreira disse ao repórter Sérgio
Rangel, da Folha, que Kaká vai
atuar mais pela direita, fazendo
dupla ofensiva com Cafu. Isso é
bom. Os três do meio-campo não
podem também ficar muito distantes dos três da frente. Se Kaká
e Ronaldinho Gaúcho estiverem
muito marcados e não receberem
a bola dos três armadores, um dos
dois deveria recuar para iniciar
as jogadas no campo do Brasil.
Apesar de a seleção brasileira
ser quase a mesma da Copa e dos
atletas atuarem juntos há dois
anos, insistem na falta de entrosamento. A ausência de treinamentos foi um grande problema
na eliminatória anterior, quando
o Brasil tinha de formar uma
equipe. Além disso, todas as outras seleções têm a mesma dificuldade para treinar. Os principais
jogadores do Paraguai só chegaram no final de semana.
Ganhar no Paraguai é sempre
difícil, mas uma equipe que tem
quatro dos melhores jogadores do
mundo (Roberto Carlos, Kaká e
os dois Ronaldinhos), dois excepcionais (Dida e Cafu), além de
outros bons e excelentes atletas, é
sempre favorita contra qualquer
time, mesmo fora de casa.
Tempos da ditadura
Há 40 anos foi instalada a ditadura e a tortura no Brasil. Nos
preparativos para a Copa de 66, a
seleção viajou por várias cidades
e participou de muitas festas, só
para agradar aos políticos locais
que apoiaram o golpe militar de
64. O futebol se tornou o circo dos
governantes.
Nas eliminatórias de 69, disse
numa entrevista que era contra a
ditadura e um grande admirador
do bispo Dom Helder Câmara,
que era perseguido pelo governo
por causa de sua atuação política
e social. Recebi um telefone de
uma pessoa que se dizia meu admirador e que me aconselhou a
não falar de política. Tenho dúvidas se não foi alguém do governo.
Na Copa de 70, não houve nenhuma ordem para não se falar
de política, porém não havia ambiente para isso. Quase todos os
jogadores não se interessavam pelo assunto e só se pensava na conquista do título.
Alguns militares, que tinham
muitos conhecimentos na área esportiva, participaram da comissão técnica. Cláudio Coutinho foi
preparador físico, depois supervisor e o grande planejador da seleção. A equipe fez uma longa e ótima preparação. Era importante
para a ditadura que o Brasil ganhasse a Copa.
Assim como me surpreendeu a
escolha do saudoso e humanista
João Saldanha para técnico em
69, já que ele era um conhecido
comunista, não ficaram claros os
motivos de sua saída antes da Copa. Ao mesmo tempo que o técnico tinha condutas que sugeriam o
seu desejo de sair e provavelmente não queria colaborar indiretamente com a ditadura, parecia
haver um desejo de afastá-lo.
Dias antes da saída do Saldanha, havia um sussurro que dizia
que o Cláudio Coutinho teria ido
à Brasília para conversar com o
presidente sobre o técnico. Ninguém afirmou isso, com provas.
Após o Mundial, fomos recebidos com grandes festas no Brasil.
Eu não queria ir a Brasília, pois
seria uma boa chance de protestar contra a ditadura, mas racionalizei que não deveria misturar
política com esporte. Estava também com 23 anos, eufórico com a
glória e o título, não tinha a consciência dos fatos que tenho hoje e
poderia ser duramente punido.
Hoje, me arrependo de ter ido.
Quando ficamos mais velhos, percebemos que deixamos de fazer
muitas coisas importantes e que
fizemos outras que não deveríamos fazer. Só os santos passam
pela vida sem cometer erros.
Felizmente, vivemos hoje numa
democracia. Mas isso não basta.
Os problemas de educação, saúde
publica, violência, desemprego,
saneamento básico, distribuição
de renda e muitos outros continuam graves. Até quando?
E-mail
tostao.folha@uol.com.br
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