São Paulo, domingo, 31 de maio de 2009

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PAULO VINICIUS COELHO

A morte das revelações


A vitória do Barcelona mostra que o futebol brasileiro tem perdido a característica de formar os atletas nos clubes


A VITÓRIA do Barcelona com sete jogadores formados em casa força a comparação com o futebol brasileiro. Na Europa, não havia um campeão tão caseiro desde o Ajax-1995. No Brasil, não há um campeão com tantos jogadores formados em casa desde que o Flamengo ficou com a taça pela última vez, em 1992. Naquela equipe, entravam e saíam da formação titular atletas como Júnior Baiano, Rogério, Piá, Júnior, Zinho, Paulo Nunes e Nélio.
Foi em 2001 que se criou o marco. A partir da promulgação da Lei Pelé e da polêmica saída de Ronaldinho Gaúcho para o Paris Saint-Germain -o Grêmio julgava que ainda detinha seu passe, a Justiça disse que não-, muitos dirigentes partiram para a estúpida ideia de que formar é caro e não dá retorno.
O campeão do novo pensamento era Eurico Miranda, e o exemplo do que aconteceu com o Vasco dá o sinal claro da importância de revelar, especialmente para quem não tem dinheiro. Do título da Copa João Havelange para cá, o Vasco deixou de ter poder aquisitivo para comprar jogadores de ponta e abandonou o investimento certeiro na formação de jogadores.
Em 1997, o time foi campeão brasileiro com Carlos Germano, Felipe e Edmundo, todos jogadores de seleção nascidos em São Januário. Em 2003, ganhou seu último estadual com Léo Lima e Souza, comprados ainda juniores do Madureira. Em 2009, os titulares disputam a Série B com um elenco mediano no qual o zagueiro Vilson é o único titular formado em São Januário. Há três anos, o São Paulo é campeão brasileiro com um número restrito de jogadores formados em casa. Em 2006, ganhou o título com o menor número de pratas da casa na comparação com todos os seus outros títulos. Em 2008, o índice aumentou. Rogério Ceni, Hernanes e Jean eram os três representantes da escola são-paulina, que, no passado, revelou Bauer, Serginho, Zé Sérgio, Muller, Silas... Todos campeões criados nas divisões de base. A queda do número de jogadores formados na base dos principais clubes brasileiros coincide com a ideia, no Brasil e no exterior, de que a geração atual não carrega no DNA o talento de outras épocas. No passado, havia times formados à custa de compras de desconhecidos em clubes do interior. Assim nasceu o Palmeiras da segunda academia, de Leão (ex-Comercial), Eurico (ex-Botafogo de Ribeirão), Luís Pereira (ex-São Bento), Edu e Nei (ex-Ferroviária).
Mas quantos não foram os craques de primeira linha nascidos nos clubes grandes? Rivellino, no Corinthians, Jairzinho e Paulo César, no Botafogo, Zico, no Flamengo. Com o passar dos anos, o Brasil e a América do Sul passaram a ter para o mundo o papel que as cidades do interior tinham para os grandes clubes. É o canteiro de revelação de craques. Basta dizer que a lista dos canteranos do Barcelona campeão inclui Messi, nascido em Rosário mas que joga na Catalunha desde os 13. Com o passar dos anos, o interior deixou de mandar jogadores para os grandes clubes. Hoje, eles vêm dos agentes de jogadores. Com o passar dos anos, o risco é que aconteça com o país o que aconteceu com os times do interior. Que deixe de ser o canteiro de formação de craques.
pvc@uol.com.br


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