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ATLETISMO
Ex-recordista do salto triplo vai ser sepultado em Pindamonhangaba
João do Pulo é enterrado hoje
da Reportagem Local
O ex-recordista mundial do salto
triplo João Carlos de Oliveira, o
João do Pulo, será enterrado hoje
às 9h no cemitério de Pindamonhangaba (140 km a nordeste de
São Paulo), sua cidade natal.
João do Pulo morreu anteontem,
por volta das 22h, no hospital Beneficência Portuguesa, vítima de
broncopneumonia e hepatite C,
causada por uma cirrose. Na sexta,
ele havia completado 45 anos.
Segundo a equipe médica que o
atendia desde a internação, em 29
de abril, houve falência múltipla de
órgãos, em decorrência da cirrose
e de infecção generalizada.
O corpo do ex-atleta foi transferido na madrugada de ontem para
a Assembléia Legislativa de São
Paulo, onde foi velado durante a
manhã e parte da tarde.
O quadro clínico do ex-recordista apresentara oscilações durante o
período de internação.
Mas complicara-se muito nos últimos dias, quando passou a ter
sangramentos pela boca e vias aérea e digestiva. Respirava por aparelhos e passou a responder apenas
a estímulos dolorosos.
Há mais de uma semana, seu
grau de consciência era baixo. A
circulação sanguínea era mantida
com auxílio de drogas, e ele foi
submetido a hemodiálise.
Em 7 de outubro de 1975, durante os Jogos Pan-Americanos do
México, João do Pulo estabeleceu o
recorde mundial do salto triplo
(17,89 m), que só seria batido uma
década depois. Conquistou o
bronze nos Jogos Olímpicos de
Montreal-76 e de Moscou-80.
A final da prova em Moscou-80
até hoje gera polêmica: 9 de seus 12
saltos foram anulados. O ouro e a
prata foram para dois soviéticos.
João do Pulo manteve a tradição
brasileira no salto triplo. Antes dele, o país havia conquistado medalhas olímpicas com Adhemar Ferreira da Silva, ouro em 52 e 56, e
Nélson Prudêncio, prata em 68 e
bronze em 72.
Tristeza e solidão
Em 22 de dezembro de 1981, João
do Pulo sofreu um acidente que
pôs fim a sua carreira. Retornava
da formatura de uma turma de
educação física em Campinas,
quando seu carro colidiu com outro veículo. Em setembro de 82,
após 22 cirurgias (16 na perna), teve que amputar a perna direita.
Depois, tentou a vida política e
foi eleito deputado estadual de São
Paulo em 1986. E reeleito em 90.
Mas não obteve sucesso em 94 e 98.
Nos últimos quatro anos de vida,
viu os amigos se afastarem e sua vida pessoal e negócios ruírem.
Antes de ser internado, sua rotina se resumia a tomar cerveja num
bar no bairro da Ponte Grande, em
Guarulhos, onde vivia, e passar o
resto do dia trancado, quase sempre em jejum. Em final de 98, chegou a ser preso por não conseguir
pagar pensão alimentícia à filha
Thaís, de 11 anos.
Malsucedido num negócio com
uma transportadora e, depois com
uma padaria, vivia da pensão (cerca de R$ 1.200) do Exército, em que
era sargento reformado.
Apesar de suas conquistas na década de 70, poucas pessoas compareceram ontem ao velório do ex-atleta na Assembléia Legislativa.
Segundo o cerimonial, cerca de
2.000 pessoas estavam presentes,
mas o Serviço Funerário Municipal, que controlava as listas de presença, falava em 500 pessoas.
O jogador de basquete Oscar
Schmidt, que ganhou a medalha de
ouro nos jogos Pan-americanos de
87, era um dos mais revoltados
com a ausência de fãs.
"De manhã, havia 50 mil pessoas
no Ibirapuera. Eles poderiam ter
atravessado a rua e prestado sua
homenagem", dizia, referindo-se
ao público do show da cantora Rita
Lee, que tocou pela manhã no parque, ao lado da Assembléia.
Além de Oscar e da família de
João do Pulo, foram ao velório
Adhemar Ferreira da Silva, o prefeito de São Paulo, Celso Pitta, o
governador Mário Covas, e o judoca Aurélio Miguel. O ex-jogador
Paulão representou o ministro dos
Esportes, Rafael Greca.
Em Pindamonhangaba, cerca de
800 pessoas receberam o corpo de
João do Pulo.
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