São Paulo, segunda, 31 de maio de 1999

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ATLETISMO
Ex-recordista do salto triplo vai ser sepultado em Pindamonhangaba
João do Pulo é enterrado hoje

da Reportagem Local

O ex-recordista mundial do salto triplo João Carlos de Oliveira, o João do Pulo, será enterrado hoje às 9h no cemitério de Pindamonhangaba (140 km a nordeste de São Paulo), sua cidade natal.
João do Pulo morreu anteontem, por volta das 22h, no hospital Beneficência Portuguesa, vítima de broncopneumonia e hepatite C, causada por uma cirrose. Na sexta, ele havia completado 45 anos.
Segundo a equipe médica que o atendia desde a internação, em 29 de abril, houve falência múltipla de órgãos, em decorrência da cirrose e de infecção generalizada.
O corpo do ex-atleta foi transferido na madrugada de ontem para a Assembléia Legislativa de São Paulo, onde foi velado durante a manhã e parte da tarde.
O quadro clínico do ex-recordista apresentara oscilações durante o período de internação.
Mas complicara-se muito nos últimos dias, quando passou a ter sangramentos pela boca e vias aérea e digestiva. Respirava por aparelhos e passou a responder apenas a estímulos dolorosos.
Há mais de uma semana, seu grau de consciência era baixo. A circulação sanguínea era mantida com auxílio de drogas, e ele foi submetido a hemodiálise.
Em 7 de outubro de 1975, durante os Jogos Pan-Americanos do México, João do Pulo estabeleceu o recorde mundial do salto triplo (17,89 m), que só seria batido uma década depois. Conquistou o bronze nos Jogos Olímpicos de Montreal-76 e de Moscou-80.
A final da prova em Moscou-80 até hoje gera polêmica: 9 de seus 12 saltos foram anulados. O ouro e a prata foram para dois soviéticos.
João do Pulo manteve a tradição brasileira no salto triplo. Antes dele, o país havia conquistado medalhas olímpicas com Adhemar Ferreira da Silva, ouro em 52 e 56, e Nélson Prudêncio, prata em 68 e bronze em 72.

Tristeza e solidão
Em 22 de dezembro de 1981, João do Pulo sofreu um acidente que pôs fim a sua carreira. Retornava da formatura de uma turma de educação física em Campinas, quando seu carro colidiu com outro veículo. Em setembro de 82, após 22 cirurgias (16 na perna), teve que amputar a perna direita.
Depois, tentou a vida política e foi eleito deputado estadual de São Paulo em 1986. E reeleito em 90. Mas não obteve sucesso em 94 e 98.
Nos últimos quatro anos de vida, viu os amigos se afastarem e sua vida pessoal e negócios ruírem.
Antes de ser internado, sua rotina se resumia a tomar cerveja num bar no bairro da Ponte Grande, em Guarulhos, onde vivia, e passar o resto do dia trancado, quase sempre em jejum. Em final de 98, chegou a ser preso por não conseguir pagar pensão alimentícia à filha Thaís, de 11 anos.
Malsucedido num negócio com uma transportadora e, depois com uma padaria, vivia da pensão (cerca de R$ 1.200) do Exército, em que era sargento reformado.
Apesar de suas conquistas na década de 70, poucas pessoas compareceram ontem ao velório do ex-atleta na Assembléia Legislativa. Segundo o cerimonial, cerca de 2.000 pessoas estavam presentes, mas o Serviço Funerário Municipal, que controlava as listas de presença, falava em 500 pessoas.
O jogador de basquete Oscar Schmidt, que ganhou a medalha de ouro nos jogos Pan-americanos de 87, era um dos mais revoltados com a ausência de fãs.
"De manhã, havia 50 mil pessoas no Ibirapuera. Eles poderiam ter atravessado a rua e prestado sua homenagem", dizia, referindo-se ao público do show da cantora Rita Lee, que tocou pela manhã no parque, ao lado da Assembléia.
Além de Oscar e da família de João do Pulo, foram ao velório Adhemar Ferreira da Silva, o prefeito de São Paulo, Celso Pitta, o governador Mário Covas, e o judoca Aurélio Miguel. O ex-jogador Paulão representou o ministro dos Esportes, Rafael Greca.
Em Pindamonhangaba, cerca de 800 pessoas receberam o corpo de João do Pulo.




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