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FUTEBOL
Amarelar jamais
JORGE KAJURU
ESPECIAL PARA A FOLHA
O Azulão amarelou nas
duas últimas finais que disputou? Para alguns, sim. Mas, para mim, não. Em 2000, o Vasco
ganhou mais fora do que em
campo.
O São Caetano era "verde" nos
bastidores, com jogadores viajando nas férias, enquanto o Vasco
treinava, sabendo que haveria a
segunda final. Talvez em 2001 a
melhor justificativa seja: "Futebol
é, antes de tudo, uma guerra psicológica", como definiu Sócrates,
quando voltava da Copa-82. Assim o Atlético-PR usou o antídoto
que era trunfo do rival. Mais de
60% apostavam no time de Jair
Picerni. E Geninho tomou o remédio de que poderia vencer. Sua
equipe jogou com o cérebro.
Enfim, 2002 chegou para o São
Caetano buscar um título diferente. Fosse um Brasileiro tudo
poderia acontecer, mas hoje a cabeça azul está em outro continente. Ninguém merece mais jogar
em Tóquio do que esse clube. O
Azulão atingiu em apenas dois
anos, duas finais seguidas, experiência que demorou 15, 20 anos
para muitos. Perder hoje só mesmo se amarelar. Do contrário, vai
lavar a alma de um povo que vê
no mais fraco a esperança de que
é possível sonhar, chegar lá, nesse
país de tão raras oportunidades.
Simplificar sempre
Temos visto pela TV times de todo o mundo. O São Caetano não
tem o que temer. O esquema de
Picerni não mostra novidade tática ou técnica, mas, como poucos,
seu time se desdobra para superar
dificuldades. Vence pelo esforço
coletivo. O individualismo surge
em momentos de excepcionalidade. Vai ao ataque de forma agressiva. Com o mesmo vigor luta pela (re)tomada da bola. Desperta e
revigora o jogador que existe em
cada um de nós. Afinal, como diz
a canção: "Quem nunca sonhou
ser um jogador de futebol?".
É a materialização da vocação
da criança brasileira, que, no ventre da mãe, já chuta bolas imaginárias e, depois de nascida, ensaia os primeiros passos como
quem vai bater pênaltis diante de
olhos ternos e de expectativa.
O São Caetano apaixona pelo
ABC da simplicidade. Nos dá um
lugar na geral no campo de várzea da imaginação. Seja contra
quem for, lembre-se de seu xará
Caetano, acredite ser o mais valente nessa luta do rochedo com o
mar. É hoje o dia da alegria.
Bê-á-bá do ABC
Alguém precisa ganhar mais do
que R$ 50 mil por mês para viver
no Brasil? Entre salários e prêmios, todos recebem esse mínimo
como média. Pagamento em duas
vezes, 40% e 60%, nos dias 5 e 20.
Até nesse campo, o São Caetano
joga no equilíbrio. Nunca fica no
vermelho. No campo, uma capacidade rara para repor peças. E
peças usadas, na maioria das posições. Encaixa o jogador que deseja provar algo mais. Muller não
precisava. Já Aílton, Adãozinho,
Robert e outros...
Nasceu em 1989. Convenhamos:
cresceu na competitiva escola
paulista. Convivendo no meio de
grandes, foi mais fácil perder o
complexo de inferioridade. Por
fim, poucos cartolas. E daí? Eles
não são apaixonados, torciam
por outros times. De pés no chão,
são profissionais antes de tudo.
Hoje os grandes se acomodam,
ficam endividados. Acham que a
fama de rico basta. Com o pobre é
diferente, só tem o nome a preservar. O pequeno pode ser mais rápido e ousado, se superar e passar
por cima. E atingir o azul...
Felipão x Ronaldo
Em assunto de família, não
me meto. Depois, eles se
abraçam, se esquecem de tudo. Menos do que a gente escreveu. O rancor é guardado
no freezer. Eles que se entendam, são brancos e pentas.
Um mais do que o outro.
Justiça à raça
Ainda escrevendo a quatro
mãos, Laércio Zanini, de Garça (SP), capricha nas cores:
"Há uma singularidade na seleção brasileira que só foi
quebrada na Copa-2002: em
todas as anteriores, ganhas
pelo Brasil, havia mais jogadores brancos do que negros.
Na Suécia-58, a maioria foi de
7 a 4. Os negros eram apenas
Pelé, Didi, Garrincha e Djalma Santos. Agora, na Coréia
do Sul e no Japão, o placar foi
8 a 3. Dos titulares, apenas
Edmilson, Marcos e Lúcio
são brancos. Ou alguém acha
que Cafu, Rivaldo, Roberto
Carlos e Ronaldo Cascão não
são negros?".
E-mail kajuru@terra.com.br
Tostão, em férias, volta a escrever
neste espaço em 4 de setembro
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