São Paulo, quarta-feira, 31 de julho de 2002

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FUTEBOL

Amarelar jamais

JORGE KAJURU
ESPECIAL PARA A FOLHA

O Azulão amarelou nas duas últimas finais que disputou? Para alguns, sim. Mas, para mim, não. Em 2000, o Vasco ganhou mais fora do que em campo.
O São Caetano era "verde" nos bastidores, com jogadores viajando nas férias, enquanto o Vasco treinava, sabendo que haveria a segunda final. Talvez em 2001 a melhor justificativa seja: "Futebol é, antes de tudo, uma guerra psicológica", como definiu Sócrates, quando voltava da Copa-82. Assim o Atlético-PR usou o antídoto que era trunfo do rival. Mais de 60% apostavam no time de Jair Picerni. E Geninho tomou o remédio de que poderia vencer. Sua equipe jogou com o cérebro.
Enfim, 2002 chegou para o São Caetano buscar um título diferente. Fosse um Brasileiro tudo poderia acontecer, mas hoje a cabeça azul está em outro continente. Ninguém merece mais jogar em Tóquio do que esse clube. O Azulão atingiu em apenas dois anos, duas finais seguidas, experiência que demorou 15, 20 anos para muitos. Perder hoje só mesmo se amarelar. Do contrário, vai lavar a alma de um povo que vê no mais fraco a esperança de que é possível sonhar, chegar lá, nesse país de tão raras oportunidades.

Simplificar sempre
Temos visto pela TV times de todo o mundo. O São Caetano não tem o que temer. O esquema de Picerni não mostra novidade tática ou técnica, mas, como poucos, seu time se desdobra para superar dificuldades. Vence pelo esforço coletivo. O individualismo surge em momentos de excepcionalidade. Vai ao ataque de forma agressiva. Com o mesmo vigor luta pela (re)tomada da bola. Desperta e revigora o jogador que existe em cada um de nós. Afinal, como diz a canção: "Quem nunca sonhou ser um jogador de futebol?".
É a materialização da vocação da criança brasileira, que, no ventre da mãe, já chuta bolas imaginárias e, depois de nascida, ensaia os primeiros passos como quem vai bater pênaltis diante de olhos ternos e de expectativa.
O São Caetano apaixona pelo ABC da simplicidade. Nos dá um lugar na geral no campo de várzea da imaginação. Seja contra quem for, lembre-se de seu xará Caetano, acredite ser o mais valente nessa luta do rochedo com o mar. É hoje o dia da alegria.

Bê-á-bá do ABC
Alguém precisa ganhar mais do que R$ 50 mil por mês para viver no Brasil? Entre salários e prêmios, todos recebem esse mínimo como média. Pagamento em duas vezes, 40% e 60%, nos dias 5 e 20.
Até nesse campo, o São Caetano joga no equilíbrio. Nunca fica no vermelho. No campo, uma capacidade rara para repor peças. E peças usadas, na maioria das posições. Encaixa o jogador que deseja provar algo mais. Muller não precisava. Já Aílton, Adãozinho, Robert e outros...
Nasceu em 1989. Convenhamos: cresceu na competitiva escola paulista. Convivendo no meio de grandes, foi mais fácil perder o complexo de inferioridade. Por fim, poucos cartolas. E daí? Eles não são apaixonados, torciam por outros times. De pés no chão, são profissionais antes de tudo.
Hoje os grandes se acomodam, ficam endividados. Acham que a fama de rico basta. Com o pobre é diferente, só tem o nome a preservar. O pequeno pode ser mais rápido e ousado, se superar e passar por cima. E atingir o azul...

Felipão x Ronaldo
Em assunto de família, não me meto. Depois, eles se abraçam, se esquecem de tudo. Menos do que a gente escreveu. O rancor é guardado no freezer. Eles que se entendam, são brancos e pentas. Um mais do que o outro.

Justiça à raça
Ainda escrevendo a quatro mãos, Laércio Zanini, de Garça (SP), capricha nas cores: "Há uma singularidade na seleção brasileira que só foi quebrada na Copa-2002: em todas as anteriores, ganhas pelo Brasil, havia mais jogadores brancos do que negros. Na Suécia-58, a maioria foi de 7 a 4. Os negros eram apenas Pelé, Didi, Garrincha e Djalma Santos. Agora, na Coréia do Sul e no Japão, o placar foi 8 a 3. Dos titulares, apenas Edmilson, Marcos e Lúcio são brancos. Ou alguém acha que Cafu, Rivaldo, Roberto Carlos e Ronaldo Cascão não são negros?".

E-mail kajuru@terra.com.br


Tostão, em férias, volta a escrever neste espaço em 4 de setembro



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