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FUTEBOL
Torneio tem 16 times de cidades que se destacam na produção do grão, que deu US$ 10 bi para o país em 2004
Soja pinta de verde a Série C do Nacional
PAULO COBOS
ENVIADO ESPECIAL A RONDONÓPOLIS (MT)
A riqueza criada pela soja chegou ao futebol. O mais valioso
item da pauta de exportações brasileiras tirou do ostracismo uma
legião de clubes das regiões do
país onde é plantada.
Prova disso acontece na Série C,
que começa hoje recheada de times bancados ou sediados em cidades da sojicultura nacional. São
16 clubes de municípios que aparecem na lista dos maiores produtores de soja do país, segundo o
IBGE. Há dez anos, quando o grão
não tinha a magnitude atual, não
chegavam a cinco dos inscritos na
terceirona do Brasileiro.
E eles só estão na competição
por méritos esportivos, já que superaram em seus Estados rivais
de muito mais tradição.
O Vila Aurora trouxe para Rondonópolis, um dos principais centros do agronegócio brasileiro
(exporta quase US$ 1 bilhão por
ano, o recorde do Estado), o primeiro título mato-grossense da
história da cidade. "A soja é que
faz o futebol do Mato Grosso renascer", afirma Tarcisio Sachetti,
dono de 70 mil hectares de plantações no Estado e maior mecenas
do clube, apelidado de "Tigrão".
A outra vaga do Estado é do Luverdense, de Lucas do Rio Verde,
que produziu no ano passado 528
mil toneladas da oleaginosa, ou
mais de 1% de toda a produção
nacional, que mais do que dobrou
de tamanho nos últimos dez anos.
"A soja é o combustível do futebol de Mato Grosso", reconhece
Helmute Lawisch, presidente do
clube e grande fazendeiro.
Além de Mato Grosso, outros
Estados fortes na sojicultura só
têm representantes interioranos,
onde estão as fazendas, na Série C.
São os casos, por exemplo, de
Rondônia e Tocantins.
Em Goiás, com o apoio de José
Mario Schreiner, dono de mais de
5.000 hectares de lavouras de soja
e que faz parte do governo goiano,
o Mineiros deixou alguns dos
grandes de Goiânia para trás e garantiu uma vaga na Série C.
Mesmo em Estados onde a sojicultura é mais antiga, como Paraná e Rio Grande do Sul (desses locais saíram os agricultores que
desbravaram o cerrado e parte da
Amazônia), as vagas na Série C ficaram com times onde a produção é forte, como Campo Mourão, Vacaria e Passo Fundo.
Novas fronteiras
O mesmo acontece nas novas
fronteiras para o "ouro verde".
No Maranhão, Imperatriz, que
não produz mas é a base para as
exportações das colheitas da região de Balsas, ganhou o Estadual
pela primeira vez na história, superando os empobrecidos clubes
da capital São Luiz e do sertão do
Estado nordestino.
No Sul do Pará, Santarém conseguiu colocar o seu São Raimundo na competição nacional.
Maior produtor de soja de Rondônia, outra zona do país em que
o produto está em franca ascensão, Vilhena teve o time do município em 2005 ganhando o Estadual pela primeira vez, mas a
equipe abriu mão da participar do
campeonato nacional.
Com a força da soja, a Série C toma um rumo ainda mais forte para o interior do país. Na edição
que começa hoje e vai até o final
do ano, só 24% dos participantes
são de capitas de Estado. Em 1981,
na primeira vez que a terceira divisão foi disputada, esse índice era
de expressivos 46%.
Sem experiência, a turma da soja desconfia das chances de sucesso. "Ainda estamos saindo do
amadorismo", diz Sachetti. "Veremos o que podemos fazer na
competição", afirma Lawisch.
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