São Paulo, domingo, 31 de julho de 2005

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FUTEBOL

Torneio tem 16 times de cidades que se destacam na produção do grão, que deu US$ 10 bi para o país em 2004

Soja pinta de verde a Série C do Nacional

PAULO COBOS
ENVIADO ESPECIAL A RONDONÓPOLIS (MT)

A riqueza criada pela soja chegou ao futebol. O mais valioso item da pauta de exportações brasileiras tirou do ostracismo uma legião de clubes das regiões do país onde é plantada.
Prova disso acontece na Série C, que começa hoje recheada de times bancados ou sediados em cidades da sojicultura nacional. São 16 clubes de municípios que aparecem na lista dos maiores produtores de soja do país, segundo o IBGE. Há dez anos, quando o grão não tinha a magnitude atual, não chegavam a cinco dos inscritos na terceirona do Brasileiro.
E eles só estão na competição por méritos esportivos, já que superaram em seus Estados rivais de muito mais tradição.
O Vila Aurora trouxe para Rondonópolis, um dos principais centros do agronegócio brasileiro (exporta quase US$ 1 bilhão por ano, o recorde do Estado), o primeiro título mato-grossense da história da cidade. "A soja é que faz o futebol do Mato Grosso renascer", afirma Tarcisio Sachetti, dono de 70 mil hectares de plantações no Estado e maior mecenas do clube, apelidado de "Tigrão".
A outra vaga do Estado é do Luverdense, de Lucas do Rio Verde, que produziu no ano passado 528 mil toneladas da oleaginosa, ou mais de 1% de toda a produção nacional, que mais do que dobrou de tamanho nos últimos dez anos.
"A soja é o combustível do futebol de Mato Grosso", reconhece Helmute Lawisch, presidente do clube e grande fazendeiro.
Além de Mato Grosso, outros Estados fortes na sojicultura só têm representantes interioranos, onde estão as fazendas, na Série C. São os casos, por exemplo, de Rondônia e Tocantins.
Em Goiás, com o apoio de José Mario Schreiner, dono de mais de 5.000 hectares de lavouras de soja e que faz parte do governo goiano, o Mineiros deixou alguns dos grandes de Goiânia para trás e garantiu uma vaga na Série C.
Mesmo em Estados onde a sojicultura é mais antiga, como Paraná e Rio Grande do Sul (desses locais saíram os agricultores que desbravaram o cerrado e parte da Amazônia), as vagas na Série C ficaram com times onde a produção é forte, como Campo Mourão, Vacaria e Passo Fundo.

Novas fronteiras
O mesmo acontece nas novas fronteiras para o "ouro verde". No Maranhão, Imperatriz, que não produz mas é a base para as exportações das colheitas da região de Balsas, ganhou o Estadual pela primeira vez na história, superando os empobrecidos clubes da capital São Luiz e do sertão do Estado nordestino.
No Sul do Pará, Santarém conseguiu colocar o seu São Raimundo na competição nacional.
Maior produtor de soja de Rondônia, outra zona do país em que o produto está em franca ascensão, Vilhena teve o time do município em 2005 ganhando o Estadual pela primeira vez, mas a equipe abriu mão da participar do campeonato nacional.
Com a força da soja, a Série C toma um rumo ainda mais forte para o interior do país. Na edição que começa hoje e vai até o final do ano, só 24% dos participantes são de capitas de Estado. Em 1981, na primeira vez que a terceira divisão foi disputada, esse índice era de expressivos 46%.
Sem experiência, a turma da soja desconfia das chances de sucesso. "Ainda estamos saindo do amadorismo", diz Sachetti. "Veremos o que podemos fazer na competição", afirma Lawisch.


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