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São Paulo, domingo, 31 de agosto de 2003

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TÊNIS

Ex-número um afirma que busca "dias gostosos" e que perseguir sempre conquistas é "maneira errada de encarar a vida"

Guga anuncia que vencer não é preciso

ROBERTO DIAS
DE NOVA YORK

Gustavo Kuerten não quer saber de cobranças por resultados.
A pressão que se formou após a derrota no Aberto dos EUA, acha ele, é "uma maneira errada de encarar a vida". Se um dia voltar a ser o primeiro do mundo, bom. Se não der, bom também.
"Tenho o direito de jogar tênis, não é?", disse Guga à Folha numa entrevista na tarde de quinta-feira, após sair da quadra onde fora novamente eliminado na primeira rodada do torneio, agora nas duplas, com John van Lottum.
Antes, na terça-feira, ele havia sido derrotado em simples, encerrando sua pior passagem pela temporada de quadras rápidas da América do Norte. Pela primeira vez, perdeu mais que ganhou (cinco derrotas e quatro vitórias).
Após a primeira eliminação, diante do desconhecido russo Dmitry Tursunov, 20 anos e 206º do ranking deste ano, Guga, 14º, afirmou que não consegue mais jogar como antigamente -culpa, apontou, da cirurgia no quadril direito que sofreu há 19 meses.
À explicação que ele sustenta, porém, logo se somaram outras, como a de que estaria abatido com problemas na família, o que ele nega. Ao mesmo tempo, indica que não se sente pressionado a voltar ao nível de antigamente.
"Também faz parte acordar de manhã e desfrutar do que é um dia gostoso", filosofa Guga, que chegou ontem a Florianópolis.
Aos 26 anos, o tenista já acumulou mais de US$ 14 milhões só em premiações oficiais dos torneios.
 

Folha - Há uma boataria grande no Brasil sobre o que está acontecendo com você. Existe alguma coisa além do que você falou na terça à noite?
Gustavo Kuerten -
Eu adoro jogar tênis, estou feliz jogando tênis e tenho todo o direito, acho, de jogar tênis, não é? Vai continuar sendo a minha vida.
Para mim, é um prazer hoje entrar na quadra e jogar um Grand Slam, gente vindo do Japão até aqui [Nova York] para me ver, tem cara que vem da Europa só para assistir às minhas partidas. Isso faz eu ter muito prazer de ir à quadra. É o meu direito: desfrutar enquanto eu posso jogar esses torneios grandes. Ganhar ou perder é um direito meu também.
Indiferente do resultado, acho que faz parte, mais que tudo, eu me satisfazer, como num sonho. Acordar de manhã, jogar tênis, ir para a quadra bater na bola. Isso é o que eu mais gosto hoje em dia. Por isso vou continuar fazendo até não dar mais.

Folha - Tem alguma coisa na sua família que esteja te atrapalhando agora?
Kuerten -
Nada. Isso é assim só se acontecer um fato de saúde, o resto é tudo chacrinha. O jornal tem que escrever linhas, a televisão tem que encher as matérias também, então têm que falar de alguma coisa. Minha família é supersaudável. Está todo mundo bem. Eu estou feliz também.
Acho que é uma maneira errada de encarar a vida, de o brasileiro querer o tempo todo vencer, ganhar, ganhar, [ser] o primeiro. Acho que também faz parte a gente acordar de manhã e desfrutar um dia gostoso, vir aqui, jogar um Grand Slam, ficar tranquilo. Isso também faz parte da minha vida. É o mais importante para mim.
A derrota: pô, já perdi aqui duas vezes na primeira rodada, sem contar este ano. Se continuar jogando do mesmo jeito no ano que vem vou jogar de novo [o Aberto dos EUA], e mais um ano, e mais um ano. Um dia vai acabar, isso aqui é uma passagem.

Folha - Você se vê voltando a ser número um ou não é uma coisa que tire nenhum minuto do seu sono? O que der para jogar deu?
Kuerten -
Os objetivos vêm aos poucos. Faz seis meses que eu não chego à final de um campeonato. Não vou pensar em ser número um do mundo antes de ir cada vez mais próximo, alcançar resultados mais reais.
Mas, da mesma forma, no começo fui o 50 do mundo e era um cara feliz. Fui 70 do mundo e fui um cara superfeliz. Fui número um do mundo e era superfeliz também. Então é isso que eu nunca vou deixar de ser: um cara contente, alegre, feliz na quadra, que eu acho que é fundamental.
O resto... Resultado vai vir, uma hora ou outra. Se for o número 25 do mundo por mais três anos, pô, vou ficar minha carreira inteira entre os 50 primeiros do mundo. Já sou um cara super-respeitado no circuito, como jogador e como pessoa. No tênis, não tenho que pedir mais nada. Tenho que ser feliz com o que eu tenho. Uma derrota, passou um dia, já esqueci. Hoje [quinta] era uma partida de duplas. Agora já começo a preparação para o [Torneio do] Sauípe. Quando for a minha hora de jogar, eu vou lá tentar cada vez aproveitar e curtir mais.


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