São Paulo, sexta-feira, 31 de agosto de 2007

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XICO SÁ

Que bonito é


Na Segundona não há deslumbre, a Segundona se aproxima da linguagem dos melhores faroestes


AMIGO TORCEDOR , amigo secador, baixou um Cândido rápido, uma Polyana ludopédica, e este ranheta que vos preza começou a ver o futebol, mais uma vez, com as lentes esverdeadas do otimismo e da graça.
Foi a Segundona, como sempre, que devolveu, com a demão épica das suas batalhas, o gosto pela nossa maior arte. Como anda jogando bonito, por exemplo, a Portuguesa, mesmo com os azares que a perseguem, mesmo com o fado ao longe que insiste colar no ouvido dos seus craques, mesmo que alguns jogos se tornem mais trágicos do que despedidas de parentes nas gares lisboetas. A Lusa tem, entre outros heróis, o Tiago, goleiro que bate falta como o Rogério Ceni. Pena que o Américo esteja tão longe, lá em Londres, e não possa testemunhar a beleza de futebol do time. Sorte do Flávio Gomes e do Duarte, que vêem um toque do Eça no estilo da fabulosa.
O Brasiliense é outro clube que enche os olhos, como joga esse Chuchu, o Iranildo. Como bem disse o amigo Azoubel, cidadão do Cajueiro, ninguém hoje no Brasil tem melhor compreensão do jogo. Sabe tudo. Na Segundona não há deslumbre, a Segundona é o que se aproxima da linguagem dos melhores faroestes.
A Segundona é dirigida por John Huston. Os melhores homens que ali estão não possuem mais o sonho óbvio da Europa, eles têm, como Joãozinho do Vitória, cavaleiro solitário, a última bala no coldre.
Noves fora alguns jovens, a segundona é um saloon de homens destemidos, que sabem, mais do que ninguém, que só uma gangorra pode explicar a vida. Amigo, derramei à vera o tinteiro da rabugem, ora, nossas várzeas têm mais flores.
Claro que a distância de Edgar, o corvo, que passa férias na casa da sogra, ajuda a ver o mundo sem as lentes sujas da eterna ressaca. Ao ponto de me comover até com uns aspectos da primeirona, senão vejamos: Muricy Ramalho é um fenômeno.
Como este senhor, que parece sempre a mascar o jiló da eterna vigília, mantém o tricolor à mão, com a mesma eficiência, mesmo depois de perder vários boleiros de renome? E como jogam esses meninos da sua defesa.
Sim, falemos do Botafogo, independentemente de resultados, ora, por que escravizar-se diante da sarna neoliberal de ganhos fáceis? Mais vale duas, três fagulhas de jogo bonito do time da estrela solitária do que uma taça empoeirada no armário.
Outro fenômeno do campeonato é o Zidane dos Aflitos, o uruguaio Acosta, do Náutico. Como joga! E o Flamengo, senhores, que está reinventando o prazer de um Maraca aos domingos?! Tem algo mais sagrado do que o feijão preto, o amasso no portão e o Maraca aos domingos?
Sim, faltou uma cerveja gelada, tomemos, pois, seu Ailton, mais uma. E aquele gol de letra do Alex Dias, amigo, na goleada do Flu contra o Inter? Há quem veja beleza até na eterna crise do Corinthians. Não é o meu caso. Perdeu graça. Sim, há beleza em cinco minutos de Petkovic, não importa a soma de pontos, o Peixe voltou a jogar bonito.
Outra maravilha é o Rosembrick, do Sport Recife. Como baila à moda antiga essa criatura. Em campo, dá a impressão que todos os feios, sujos e malvados já nasceram de terno italiano e gravata.

xico.folha@uol.com.br

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