São Paulo, domingo, 31 de agosto de 1997.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

AUTOMOBILISMO
Piloto italiano pode sair hoje de Vancouver, no Canadá, como campeão antecipado da temporada 97
Zanardi, ex-F-1, tenta agradar ego na Indy

FÁBIO SEIXAS
enviado especial a Vancouver

Quando começou a correr de kart na Itália, há 17 anos, Alessandro Zanardi aprendeu uma lição.
"Ao acordar, pense em um objetivo a ser cumprido naquele dia. Metas de longo prazo podem tirar a concentração de um piloto."
Ao longo da carreira, porém, pensou em mudar sua tática.
Tanto no kart quanto na F-3 e na F-3.000 conseguiu resultados expressivos, mas nunca chegou ao título de uma categoria.
Na F-1, teve poucas chances. Pilotou para a Lotus e para a Minardi e não passou de um sexto lugar, no GP Brasil de 93.
Hoje, Zanardi tem a chance de provar que estava certo. Dependendo de uma combinação de resultados, pode terminar o GP de Vancouver, 15ª etapa da Indy, como campeão da temporada, com duas provas de antecipação.
"Seria o meu primeiro título importante no automobilismo", diz Zanardi, 30. "Não esperava esse sucesso tão rápido na Indy. Fiquei um pouco surpreso."
Leia, a seguir, trechos de sua entrevista à Folha.

Folha - O que o título da Indy significaria na sua carreira?
Alessandro Zanardi -
Se eu ganhar o título, isso não vai mudar minha vida drasticamente. É claro, seria chamado de campeão, e isso é bom para o ego de qualquer um. Mas não sou completamente obcecado pelo título. Se não vier neste ano, posso tentar novamente no próximo.
Folha - No início do ano, uma pesquisa com os pilotos mostrou que você era o favorito ao título. Você esperava esse sucesso logo na segunda temporada na Indy?
Zanardi -
Quando você pilota, há sempre milhares de pontos de interrogação na sua cabeça. A sorte do piloto também é muito importante, pode mudar a cor de toda uma temporada.
Eu fiquei surpreso com meu sucesso rápido, mas não me assustei. Temos um bom carro, temos o talento. A equipe é muito profissional e comprometida a oferecer o melhor aos seus pilotos.
Folha - Como você está sendo visto hoje no seu país?
Zanardi -
Tenho que agradecer à Barilla (marca de macarrão que o patrocina), que tem feito um trabalho muito forte de divulgação na Itália.
A mídia na Europa normalmente é insensível ao automobilismo nos Estados Unidos. Agora, com um europeu, e principalmente um italiano, na liderança do campeonato, todos estão ficando muito mais animados.
Folha - Como você analisa a atual geração de pilotos italianos? Na F-1, há o Giancarlo Fisichella, o Jarno Trulli...
Zanardi -
Você vai entender o que vou dizer porque isso acontece no seu país. No Brasil, como na Itália, há muitos pilotos bons. Todos ficam orgulhosos de poder defender sua bandeira. Mas cada piloto quer ser o melhor. Quer ser aquele que carrega a bandeira no carro após uma vitória. É algo inerente ao ser humano.
Eu fico contente pelo Fisichella, mas não o vejo da mesma maneira que um fã o vê. Fico feliz por ele, mas hoje eu quero ser o número um no meu país.
Folha - O que você planeja na sua carreira para o futuro?
Zanardi -
O mais importante é estar pilotando com prazer. Aqui, os carros são muito agradáveis de pilotar. Na F-1, os carros são ainda mais gostosos. Mas não sei o que vou fazer no futuro.
Tenho um compromisso com a Ganassi por mais um ano. Depois que o contrato acabar, vamos nos reunir e discutir o que fazer. É claro que, sendo campeão neste ano, terei algo a mais nas mãos para negociar. Eu seria estúpido se não fizesse isso.
Folha - Você voltaria para a F-1?
Zanardi -
Não descarto retornar para a F-1. Seria bom, porque voltaria para a Europa e ficaria mais perto de casa. Quero que meus filhos falem italiano. Mas essa não é uma questão fundamental para mim.
Folha - Você considera a F-1 uma categoria mais avançada?
Zanardi -
Não sei. Tecnologicamente, é lógico que está à nossa frente. Quando chegar a hora de decidir, vou esperar propostas de equipes da F-1. Mas não iria para lá só porque se trata da F-1. Iria para lá se recebesse uma proposta melhor de trabalho.
Folha - Você é considerado um piloto agressivo. Vai mudar seu estilo aqui para garantir o título?
Zanardi -
Só vou pensar na corrida na hora que acordar, no domingo cedo. Não penso nas coisas com antecipação, senão me atropelo. É uma lição que aprendi quando estava no kart, bem no início da minha carreira.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice



Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita do Universo Online ou do detentor do copyright.