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AUTOMOBILISMO
Piloto italiano pode sair hoje de Vancouver, no Canadá, como campeão antecipado da temporada 97
Zanardi, ex-F-1, tenta agradar ego na Indy
FÁBIO SEIXAS
enviado especial a Vancouver
Quando começou a correr de
kart na Itália, há 17 anos, Alessandro Zanardi aprendeu uma lição.
"Ao acordar, pense em um objetivo a ser cumprido naquele dia.
Metas de longo prazo podem tirar
a concentração de um piloto."
Ao longo da carreira, porém,
pensou em mudar sua tática.
Tanto no kart quanto na F-3 e na
F-3.000 conseguiu resultados expressivos, mas nunca chegou ao título de uma categoria.
Na F-1, teve poucas chances. Pilotou para a Lotus e para a Minardi
e não passou de um sexto lugar, no
GP Brasil de 93.
Hoje, Zanardi tem a chance de
provar que estava certo. Dependendo de uma combinação de resultados, pode terminar o GP de
Vancouver, 15ª etapa da Indy, como campeão da temporada, com
duas provas de antecipação.
"Seria o meu primeiro título importante no automobilismo", diz
Zanardi, 30. "Não esperava esse
sucesso tão rápido na Indy. Fiquei
um pouco surpreso."
Leia, a seguir, trechos de sua entrevista à Folha.
Folha - O que o título da Indy significaria na sua carreira?
Alessandro Zanardi - Se eu ganhar o título, isso não vai mudar
minha vida drasticamente. É claro,
seria chamado de campeão, e isso é
bom para o ego de qualquer um.
Mas não sou completamente obcecado pelo título. Se não vier neste
ano, posso tentar novamente no
próximo.
Folha - No início do ano, uma
pesquisa com os pilotos mostrou
que você era o favorito ao título.
Você esperava esse sucesso logo
na segunda temporada na Indy?
Zanardi - Quando você pilota,
há sempre milhares de pontos de
interrogação na sua cabeça. A sorte do piloto também é muito importante, pode mudar a cor de toda uma temporada.
Eu fiquei surpreso com meu sucesso rápido, mas não me assustei.
Temos um bom carro, temos o talento. A equipe é muito profissional e comprometida a oferecer o
melhor aos seus pilotos.
Folha - Como você está sendo
visto hoje no seu país?
Zanardi - Tenho que agradecer
à Barilla (marca de macarrão que o
patrocina), que tem feito um trabalho muito forte de divulgação na
Itália.
A mídia na Europa normalmente
é insensível ao automobilismo nos
Estados Unidos. Agora, com um
europeu, e principalmente um italiano, na liderança do campeonato, todos estão ficando muito mais
animados.
Folha - Como você analisa a atual
geração de pilotos italianos? Na
F-1, há o Giancarlo Fisichella, o Jarno Trulli...
Zanardi - Você vai entender o
que vou dizer porque isso acontece
no seu país. No Brasil, como na
Itália, há muitos pilotos bons. Todos ficam orgulhosos de poder defender sua bandeira. Mas cada piloto quer ser o melhor. Quer ser
aquele que carrega a bandeira no
carro após uma vitória. É algo inerente ao ser humano.
Eu fico contente pelo Fisichella,
mas não o vejo da mesma maneira
que um fã o vê. Fico feliz por ele,
mas hoje eu quero ser o número
um no meu país.
Folha - O que você planeja na sua
carreira para o futuro?
Zanardi - O mais importante é
estar pilotando com prazer. Aqui,
os carros são muito agradáveis de
pilotar. Na F-1, os carros são ainda
mais gostosos. Mas não sei o que
vou fazer no futuro.
Tenho um compromisso com a
Ganassi por mais um ano. Depois
que o contrato acabar, vamos nos
reunir e discutir o que fazer. É claro que, sendo campeão neste ano,
terei algo a mais nas mãos para negociar. Eu seria estúpido se não fizesse isso.
Folha - Você voltaria para a F-1?
Zanardi - Não descarto retornar para a F-1. Seria bom, porque
voltaria para a Europa e ficaria
mais perto de casa. Quero que
meus filhos falem italiano. Mas essa não é uma questão fundamental
para mim.
Folha - Você considera a F-1 uma
categoria mais avançada?
Zanardi - Não sei. Tecnologicamente, é lógico que está à nossa
frente. Quando chegar a hora de
decidir, vou esperar propostas de
equipes da F-1. Mas não iria para lá
só porque se trata da F-1. Iria para
lá se recebesse uma proposta melhor de trabalho.
Folha - Você é considerado um
piloto agressivo. Vai mudar seu estilo aqui para garantir o título?
Zanardi - Só vou pensar na corrida na hora que acordar, no domingo cedo. Não penso nas coisas
com antecipação, senão me atropelo. É uma lição que aprendi
quando estava no kart, bem no início da minha carreira.
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