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FUTEBOL
Só a ilusão nos salva
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
Na análise do coração de
um atleta, é preciso diferenciar os problemas vasculares das
arritmias primárias (graves ou
não), das hipertrofias fisiológicas
dos atletas (não é doença) e das
hipertrofias que aparecem em
doenças cardíacas e que podem
ocasionar graves arritmias. Seria
o caso do Serginho, segundo os
noticiários.
Mas nem sempre é fácil avaliar
os riscos de um atleta. Nesse caso,
é necessário escutar outra opinião
mais qualificada. Profissionais de
todas as áreas não costumam ter
essa humildade. Medicina não é
também ciência exata. Além disso, todas as pessoas, atletas e até
médicos bem preparados cientificamente, agem às vezes como se
as coisas ruins nunca fossem
acontecer com elas. É a onipotência do pensamento.
Tudo precisa ser apurado para
que se evite a morte de outros
atletas.
Serviços especializados de urgência com pessoas treinadas e
com desfribilador facilmente
acessível (não é indicado em todos os pacientes), deveria ser obrigatório em todos os lugares públicos com grande número de pessoas.
Apesar de ter trabalhado e dado
aulas durante anos em serviços de
urgência e ter visto muitos jovens
que eram aparentemente saudáveis chegarem ao hospital como o
Serginho, não me acostumei com
a morte. Por não conviver bem
com essa realidade e por outros
motivos, retornei ao esporte e
continuo assistindo a essas
tragédias.
Viver é perigoso, como disse
João Guimarães Rosa, e também
emocionante e trágico. Diante da
fragilidade humana e da finitude
da vida, só a ilusão, o sentimento
e o bom humor nos salvam.
A lógica dos palpites
Neste momento do Campeonato
Brasileiro, todos os técnicos, os jogadores, os torcedores e a imprensa esportiva têm diferentes palpites e argumentos lógicos e ilógicos
para indicar o provável campeão,
os quatro classificados para a Taça Libertadores da América e os
quatro rebaixados.
Os poucos que vão acertar dirão: "Não falei?". O sonho de todo
analista, em qualquer área, é antecipar os fatos. Os que vão errar
as previsões, a maioria absoluta,
vão falar que o futebol é uma caixinha de surpresas.
As nossas previsões e a dos comentaristas de economia têm a
mesma média de acerto do que as
das cartomantes e as dos que não
entendem nada de futebol. São
tantas as variáveis e os imprevistos que a melhor lógica para fazer
uma boa previsão é não usar nenhuma lógica.
Mas como sou um animal racional, acredito que os times que
perderam mandos de campo serão os que terão mais dificuldades para conseguirem os seus objetivos. Óbvio! Toda lógica é obvia. Se não fosse óbvia, não seria
lógica.
Já era previsto
Apesar de todos os jogadores da
seleção terem atuado mal contra
a Colômbia, Alex não aproveitou
a chance e perdeu a posição de reserva do Kaká. Adriano merece
ser o substituto dos dois Ronaldinhos e do Kaká. Nesse caso, Ronaldinho Gaúcho faria a função
do jogador do Milan.
Isso é um fato. Outro foi o Parreira chamar o Júlio Baptista para o lugar do Alex, além do Kleberson, que não joga nada há
muito tempo.
A justificativa do técnico de dar
mais força física ao banco de reservas por causa da altitude é risível. No futebol, há explicação para tudo.
Parreira aproveitou a chance
para fazer o que desejava havia
muito tempo. O técnico quis dizer
também que o Brasil jogou mal
contra a Colômbia por causa da
má atuação do Alex e da ausência do Kaká.
Kaká fez falta (o time jogou mal
também várias vezes com ele),
mas a não-convocação do Alex
serve ainda para encobrir os antigos erros coletivos da equipe.
O Brasil assistiu à Colômbia tocar a bola e jogou durante 90 minutos com três armadores marcando mais atrás para proteger
quatro defensores contra um único atacante. Ter sete jogadores
atrás da linha da bola é um dos
dogmas do Parreira.
Apesar de ter mais craques do
que nas últimas eliminatórias e
uma base formada desde a Copa
do Mundo de 2002, o Brasil tem
os mesmos 20 pontos que tinha no
mesmo momento da competição.
Na época, a seleção era muito criticada. Hoje, por causa da liderança, falam que o time vive uma
grande fase.
E-mail
tostao.folha@uol.com.br
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