São Paulo, domingo, 31 de dezembro de 2000

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TÊNIS
Quase a metade dos tenistas situados entre os top 100 do ranking se muda para países que têm tributação suave
Paraísos fiscais se tornam "quadra central" para elite

PAULO COBOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Em 2001, quando forem declarar imposto de renda, 44% dos cem melhores tenistas do mundo irão entregar a documentação e pagar os tributos devidos, quando existirem, em países diferentes de onde nasceram.
Nunca na história da modalidade, conhecida como o "esporte branco", a procura por paraísos fiscais foi tão grande como agora, quando, só em prêmios, o circuito distribui quase US$ 70 milhões por temporada disputada.
Em 1992, por exemplo, menos de 20% dos jogadores situados entre os cem melhores do mundo tinham domicílio fiscal diferente do país de origem.
Na lista dos paraísos fiscais procurados pelos tenistas aparecem, com destaque, Mônaco, Andorra e Bermudas, países onde as alíquotas do imposto de renda se aproximam de zero ou estão entre as mais baixas do planeta.
A maioria das novas moradas da elite do tênis está numa lista negra da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico), que ameaça com sanções econômicas caso esses países não mudem logo suas regras tributárias.
Na lista dos jogadores que procuram nova residência para fugir de altos impostos estão três tenistas situados entre os dez melhores da última temporada -o russo Marat Safin, segundo colocado na Corrida dos Campeões, e os suecos Magnus Norman (quarto) e Thomas Enqvist (nono).
Essa pequena amostragem, aliás, revela que os tenistas europeus são os principais fregueses dos paraísos fiscais.
Dos 44 top 100 que moram fora de seus países de origem, 36 são do continente que tem o costume de cobrar os mais altos impostos de seus cidadãos.
Dentro da Europa, ninguém gosta tanto de pagar menos impostos quanto os suecos.
Dos oito melhores jogadores do país, um dos mais ricos e com melhor qualidade de vida do mundo, sete têm residência em Mônaco.
Com isso, tenistas como Norman e Enqvist economizam milhares de dólares.
Se ainda tivesse endereço fiscal na Suécia, Enqvist, por exemplo, teria que pagar US$ 1,38 milhão de imposto de renda apenas com o dinheiro que ganhou em prêmios na temporada 2000 (um total de US$ 2,381 milhão), sem contar o que foi arrecadado com contratos publicitários -que é uma das maiores fontes de renda.
Em Mônaco, Enqvist vai poder embolsar praticamente todo esse valor, já que o principado não cobra imposto de renda.
Além dos suecos, os franceses são outros que fogem de pagar impostos na pátria de origem em grande número.
No total, só entre os que estão na lista dos cem melhores do mundo, sete preferiram trocar os encantos de Paris e outras cidades por lugares menos exigentes em relação aos impostos.
Só que, ao contrário dos suecos, os franceses variam mais na escolha do paraíso fiscal.
Cedric Pioline, Nicolas Escude e Arnaud Clement, por exemplo, são alguns que preferiram Genebra, na Suíça, terra de poucos impostos e férreo sigilo bancário.
Em alguns casos, vale até a Inglaterra, que teve seu imposto de renda reduzido bruscamente durante o governo da ex-primeira ministra Margaret Thatcher, conhecida como "Dama de Ferro".
Esse é o caso de Fabrice Santoro, que já ganhou cerca de US$ 4 milhões em sua carreira (US$ 652,1 mil só neste ano) e preferiu cruzar o Canal da Mancha para trocar a França e seu imposto de renda com alíquotas que superam, em alguns casos, os 50% pela Inglaterra e suas menores taxas.


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