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EM FAMÍLIA
Paulo de Moraes Jr. disputa pela 13ª vez prova que uniu seus pais
Durante mais de meio século, corrida cria e cativa projetista
PAULO SAMPAIO
DA REVISTA DA FOLHA
A paixão do projetista Paulo
de Moraes Jr., 43, pela corrida
de São Silvestre nasceu antes
mesmo dele. Seus pais se conheceram na edição de 1950 da
prova, e isso transformou o
evento público em uma efeméride particular da família.
"A corrida passou a ser uma
referência em casa", conta Moraes, cujas tias-avós davam força para que ele e outros sobrinhos corressem a São Silvestre
na esperança de que conquistassem um primeiro lugar
-nenhum brasileiro alcançou
este feito entre 1946 e 1980.
Na ocasião em que os pais de
Moraes se conheceram, o trajeto tinha deixado de passar numa transversal da rua onde morava sua mãe, dona Glaudy, 70,
no bairro do Bom Retiro, e por
isso ela (na época com 16 anos)
pediu à avó do projetista que
fosse ver a chegada da prova na
avenida Paulista.
Lá, conheceu Paulo pai.
"Minha primeira irmã nasceu
em 25 de janeiro de 1954, quando São Paulo completou 400
anos. Por coincidência, meu pai
era porteiro do parque Ibirapuera e trabalhava na avenida
Quarto Centenário", afirma
Moraes, que, sem ter nenhuma
data particular para chamar de
sua, resolveu seguir o conselho
da tia-avó e foi suar a camisa.
Começou de leve.
"Eu e meu compadre vimos
uma placa da prova Tiradentes,
que passa pelo Horto, e nos inscrevemos." Moraes tinha 30
anos. Hoje, 150 provas depois,
incluindo oito maratonas, ele se
prepara para correr a octogésima edição da São Silvestre
-para ele, a décima terceira.
A melhor colocação foi obtida
em 1995. Morares completou o
percurso de 15 km em 1h06min
e ocupou o 2.159º lugar na lista
dos 7.500 participantes.
O projetista não foi o único a
estabelecer um recorde pessoal
naquela edição.
O queniano Paul Tergat registrou 43min12s na prova de 1995
-é o melhor tempo da história
da São Silvestre.
Estar perto de atletas tão proeminentes no cenário internacional era um desejo acalentado
desde a época em que a principal competição de rua do país
não passava de entretenimento
no último dia do ano.
"Assistir à corrida era sagrado
no Réveillon, sabe como é, programa de pobre. Eu sempre
pensei em participar, mas só
com 30 anos me inscrevi."
Antes, só o futebol fazia parte
da lista de esportes que praticava. "No máximo, apostava corrida com a turma do bairro pelo
quarteirão", conta Moraes.
Agora a rotina de treinos é
cumprida com rigor. Quatro vezes por semana -às terças, às
quintas, aos sábados e aos domingos-, Moraes corre depois
do trabalho. "Tenho amigos que
fazem esforço, correm às quatro
da manhã, mas eu não consigo
render a essa hora. O corpo não
responde", explica.
Em 2004, ele terá o número
1.103 na camiseta. Seu objetivo:
completar a prova em 1h10min.
"No começo, eu treinava para
fazer cada quilômetro em quatro minutos. Hoje, embora mais
preparado, estou mais velho, já
não sei se consigo", diz.
Está, também, mais experiente, com bagagem para narrar as
principais mudanças que a São
Silvestre sofreu. Uma das que
mais ajudaram Moraes foi a introdução de postos com água
para os atletas ao longo do percurso. No passado, ele era obrigado a cobrar ajuda dos familiares para conseguir se hidratar na
corrida. "Eu colocava meu irmão com água na Brigadeiro, na
altura da Treze de Maio, meus
pais e minha mulher na avenida
Rudge e meu cunhado na São
João, antes do Minhocão."
Com todos os aparatos hoje
oferecidos, sua única preocupação é a condição do tempo. Explica-se: Moraes não gosta de
correr na chuva. "É muito ruim
porque entra água no tênis, e a
gente chafurda", relata.
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