São Paulo, sexta-feira, 31 de dezembro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

EM FAMÍLIA

Paulo de Moraes Jr. disputa pela 13ª vez prova que uniu seus pais

Durante mais de meio século, corrida cria e cativa projetista

PAULO SAMPAIO
DA REVISTA DA FOLHA

A paixão do projetista Paulo de Moraes Jr., 43, pela corrida de São Silvestre nasceu antes mesmo dele. Seus pais se conheceram na edição de 1950 da prova, e isso transformou o evento público em uma efeméride particular da família.
"A corrida passou a ser uma referência em casa", conta Moraes, cujas tias-avós davam força para que ele e outros sobrinhos corressem a São Silvestre na esperança de que conquistassem um primeiro lugar -nenhum brasileiro alcançou este feito entre 1946 e 1980.
Na ocasião em que os pais de Moraes se conheceram, o trajeto tinha deixado de passar numa transversal da rua onde morava sua mãe, dona Glaudy, 70, no bairro do Bom Retiro, e por isso ela (na época com 16 anos) pediu à avó do projetista que fosse ver a chegada da prova na avenida Paulista.
Lá, conheceu Paulo pai.
"Minha primeira irmã nasceu em 25 de janeiro de 1954, quando São Paulo completou 400 anos. Por coincidência, meu pai era porteiro do parque Ibirapuera e trabalhava na avenida Quarto Centenário", afirma Moraes, que, sem ter nenhuma data particular para chamar de sua, resolveu seguir o conselho da tia-avó e foi suar a camisa. Começou de leve.
"Eu e meu compadre vimos uma placa da prova Tiradentes, que passa pelo Horto, e nos inscrevemos." Moraes tinha 30 anos. Hoje, 150 provas depois, incluindo oito maratonas, ele se prepara para correr a octogésima edição da São Silvestre -para ele, a décima terceira.
A melhor colocação foi obtida em 1995. Morares completou o percurso de 15 km em 1h06min e ocupou o 2.159º lugar na lista dos 7.500 participantes.
O projetista não foi o único a estabelecer um recorde pessoal naquela edição.
O queniano Paul Tergat registrou 43min12s na prova de 1995 -é o melhor tempo da história da São Silvestre.
Estar perto de atletas tão proeminentes no cenário internacional era um desejo acalentado desde a época em que a principal competição de rua do país não passava de entretenimento no último dia do ano.
"Assistir à corrida era sagrado no Réveillon, sabe como é, programa de pobre. Eu sempre pensei em participar, mas só com 30 anos me inscrevi."
Antes, só o futebol fazia parte da lista de esportes que praticava. "No máximo, apostava corrida com a turma do bairro pelo quarteirão", conta Moraes.
Agora a rotina de treinos é cumprida com rigor. Quatro vezes por semana -às terças, às quintas, aos sábados e aos domingos-, Moraes corre depois do trabalho. "Tenho amigos que fazem esforço, correm às quatro da manhã, mas eu não consigo render a essa hora. O corpo não responde", explica.
Em 2004, ele terá o número 1.103 na camiseta. Seu objetivo: completar a prova em 1h10min. "No começo, eu treinava para fazer cada quilômetro em quatro minutos. Hoje, embora mais preparado, estou mais velho, já não sei se consigo", diz.
Está, também, mais experiente, com bagagem para narrar as principais mudanças que a São Silvestre sofreu. Uma das que mais ajudaram Moraes foi a introdução de postos com água para os atletas ao longo do percurso. No passado, ele era obrigado a cobrar ajuda dos familiares para conseguir se hidratar na corrida. "Eu colocava meu irmão com água na Brigadeiro, na altura da Treze de Maio, meus pais e minha mulher na avenida Rudge e meu cunhado na São João, antes do Minhocão."
Com todos os aparatos hoje oferecidos, sua única preocupação é a condição do tempo. Explica-se: Moraes não gosta de correr na chuva. "É muito ruim porque entra água no tênis, e a gente chafurda", relata.


Texto Anterior: Memória: Primeira prova teve apenas 48 homens nas ruas
Próximo Texto: Atletismo: União e desarranjo movem Brasil na SS
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.