|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Trote tem quase mil anos
da Reportagem Local
O trote, para a maior parte dos
calouros e veteranos , "é questão
de tradição". Nisso eles têm toda
razão. A brincadeira (brincadeira
mesmo, sem violência) com os novos alunos tem cerca de mil anos.
Tudo começou na Idade Média,
por volta do século 11, quando as
primeiras universidades se formaram na Europa. Na época, elas
eram associações entre professores e seus alunos mais antigos, os
veteranos (nome dado aos soldados romanos mais velhos, que estavam para deixar a milícia).
Os candidatos (palavra derivada
do latim candidus, branco, puro) a
uma nova vaga no grupo não podiam assistir a aulas na mesma sala
que os veteranos. Eles eram obrigados a ficar em uma ante-sala,
com as bolsas e os casacos dos alunos mais velhos. Essa sala se chamava vestíbulo. A palavra vestibular vem daí, ou seja, a passagem
obrigatória para se chegar à sala de
aula da universidade.
Quando o candidato finalmente
era aceito, os veteranos o recebiam
com uma série de brincadeiras. O
calouro (a origem da palavra é
controversa, mas pode vir de calor,
já que o novato está sempre nervoso, suado e esbaforido) era acolhido de maneira afetiva.
Suas roupas eram retiradas e
queimadas por questão de higiene,
e seus cabelos, raspados, para eliminar piolhos (lembre-se de que
na Idade Média pestes proliferavam na Europa).
Estava criada a instituição do
trote. O nome da brincadeira vem
do germânico trotton (caminhar
depressa), que era usado para os
cavalos. O termo passou a ser usado também para designar as pessoas que passavam por gozações e
humilhações e fugiam correndo.
Rito de passagem
Todas as sociedades têm seus ritos de passagem, e trote é um deles,
explica Mario Sergio Cortella, professor do Departamento de Teologia e Ciências da Religião da PUC-SP. Esses ritos servem para marcar
a passagem para um novo grupo
ou um novo status social.
"Na nossa sociedade, os ritos
sempre tiveram mostras de coragem e força", diz ele. "O problema
é que, numa sociedade que banaliza a violência no cotidiano, esses
ritos acabam em agressão."
Para ele, o trote é válido, desde
que seja com o consentimento do
calouro e sem violência. "Nesse
sentido, temos muito a aprender
com os medievais."
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|