São Paulo, segunda, 1 de março de 1999

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Trote Cidadão Veteranos dão lição de cidadania

SILVIA RUIZ
da Reportagem Local

A morte do calouro de medicina Edison Tsung Chi Hsueh, 22, aconteceu no dia do lançamento oficial da campanha Trote Cidadão, na última terça-feira em São Paulo.
"Ninguém sabe o que aconteceu com ele, mas todo mundo sabe que nessas festas as pessoas passam dos limites com a bebida e sempre alguém acaba mal. Essa forma tradicional de trote tem de ser revista", diz Ângela Lucas, aluna da FEA (Faculdade de Economia e Administração da USP).
Ela é uma das veteranas das cerca de 60 universidades que participam da campanha este ano. O objetivo é substituir as brincadeiras e a violência do trote tradicional por trotes que envolvam os calouros em ações de cidadania.
Na semana passada, várias faculdades deram início a esses trotes, que incluíram a limpeza de praças e margens de rios, visita a creches e orfanatos, o plantio de árvores e até um encontro com os sem-terra de um acampamento do MST.
A maior parte das faculdades manteve a doação de alimentos e de sangue de anos anteriores, mas algumas ampliaram as tarefas e criaram ações inusitadas.
Os calouros de geografia da USP, por exemplo, passaram a manhã de quinta-feira com as mãos na terra, preparando mudas de árvores que serão plantadas em São Paulo pela ONG São Paulo Verde.
Já a turma de enfermagem da USP foi conhecer a Fundação Pró-Sangue, onde também fez doações.
Uma das faculdades mais organizadas para o Trote Cidadão em São Paulo foi a FEA, cujos veteranos, em parceria com o centro acadêmico, prepararam três opções de trote para seus bichos: visitar um orfanato, um acampamento do MST ou um projeto que alguns alunos mantêm na favela Paraisópolis, no bairro do Morumbi.
"Eu nunca tinha entrado em uma favela. É legal conhecer essa realidade. Acho que mais tarde também vou trabalhar no projeto que existe aqui", disse o calouro de administração Paulo Savioli, 21.
Os calouros tiveram um encontro com jovens da favela que trabalham no projeto Trajetória, uma microempresa de "silk-screen" (pintura em camisetas) montada por alunos da FEA em Paraisópolis.
"Uma simples visita como essa pode abrir os olhos de muita gente para uma realidade que eles só vêem pela TV", diz Rafael Inácio De Faria e Souza, veterano e um dos criadores do Trajetória.
O calouro Thiago Mansur, 18, aprovou o trote. "A gente tem a obrigação de dar o exemplo. Quem faz universidade pública tem de retornar alguma coisa para a sociedade."



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