São Paulo, segunda, 1 de março de 1999

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campanha da Aids
Jovem é chamado para mudar a cena

BELL KRANZ
Editora do Folhateen

Peter Piot (pronuncia-se Piô), médico belga, doutor em microbiologia, ganhador de vários prêmios, diretor-executivo do Programa das Nações Unidas para a Aids (Unaids), em suma, um bambambã em HIV, foi na última sexta ao morro da Mangueira para lançar a campanha mundial de luta contra a Aids para este ano.
Ele não subiu o morro, permaneceu no sopé, na vila olímpica da comunidade, onde daria uma entrevista para a imprensa. Em volta das quadras, uma moçada da Mangueira do Amanhã esquentava os tamborins para uma canja rápida oferecida ao ilustre visitante.
Antonio Carlos Costa da Silva, 17, era um dos garotos que integravam a bateria. Sobre o assunto que seria discutido logo mais, ele soltou um comentário de quem sabe das coisas: "Tem de andar arrrrrmado" (com camisinha a postos). Mas, interrogado sobre a reação das meninas nas preliminares, quando é preciso parar e sacar do bolso o preservativo, ele se entregou: "Eu sei as meninas que eu pego", ou seja, das garotas conhecidas não é preciso se "defender".
Por causa desse e de vários outros enganos é que a cada minuto cinco jovens (garotos e garotas) são infectados em todo o mundo. Dos 30 milhões de pessoas com Aids, pelo menos um terço são jovens. Só no ano passado, mais de 2,5 milhões de garotos e garotas entre 15 e 24 anos contraíram o HIV. Ou seja, o jovem é o maior atingido pelo vírus, mas também provou ser capaz de promover mudanças com atitudes práticas e criativas. Por isso foi escolhido para ser o alvo da nova campanha.
"É preciso ouvir os jovens, aprender com eles, oferecer assistência, criar programas especiais para eles", disse Peter Piot em relação aos mais velhos. Para os jovens, o Unaids propõe atitude (confira ao lado a declaração sobre direitos sexuais ).
No mundo todo, há experiências de jovens engajados na prevenção do HIV, seja com apoio emocional e ajuda prática a pessoas infectadas ou na função de agentes multiplicadores. É o que faz um grupo de estudantes do Ginásio Público Mangueirense e que inspirou a Unaids a lançar a campanha lá. Eles trabalham com prevenção por meio da música e da dança. Aliás, um exemplo que poderia ser seguido pelos universitários veteranos carentes de idéias originais para substituir o trote selvagem.
A reclamação do leitor do Folhateen, publicada na semana passada na coluna de Rosely Sayão, foi levada para a entrevista. Para quem não leu, o garoto, como tantos outros, reclamava que seu pênis era pequeno para as camisinhas do mercado brasileiro. Ao contrário de outros países, o Brasil não dispõe de camisinhas para adolescentes porque o nosso controle de qualidade tem uma medida padrão para os preservativos. O que quer dizer, não se adaptou, ficou de fora.
Pedro Chequer, coordenador nacional de DST (doença sexualmente transmissível) do Ministério da Saúde, comprometeu-se a se reunir com os fabricantes para discutir a questão. Vamos cobrar.


A jornalista x Bell Kranz viajou ao Rio a convite do Ministério da Saúde.




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