São Paulo, segunda-feira, 01 de maio de 2000


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Hoje é Dia do Trabalho


Lalo de Almeida/Folha Imagem
Apesar das condições desumanas de trabalho e da pouca grana que ganha, Andréa não perde o bom humor e sonha em conhecer outros países



Você curte seu emprego? O Folhateen acompanhou o dia-a-dia de cinco jovens que ganham a vida de maneiras diferentes
GABRIEL GAIARSA
da Reportagem Local
Aterro sanitário de Carapicuíba. São 11 horas da manhã, e a temperatura é de quase 30 graus. Cheiro insuportável, e moscas tão grandes que parecem ter saído de um filme de ficção científica. Entre os enormes caminhões que quase atropelam os menos atentos, correm crianças, jovens, adultos e velhos, à procura daquilo que foi considerado inútil, velho ou podre pelos moradores de uma das maiores metrópoles do mundo.
O local é popularmente conhecido por Lixão de Carapicuíba. Em meio a esse caos, circula Andréa Oliveira,19 anos.
Andréa nasceu na favela do Porto, vizinha do Lixão. Desde pequena, fez do local o seu "jardim". Aos sete anos, começou a trabalhar catando lixo. Sua rotina é procurar papelão e plásticos na imundície que os caminhões descarregam. Chega ao Lixão às seis da manhã e não volta para casa antes das sete da noite.
Andréa se posiciona perto da caçamba do caminhão que acaba de chegar, e disputa com os outros as embalagens e caixas. Depois, junta o papelão que conseguiu num monte e vende tudo no final do dia. Cada grupo tem seu próprio monte, e ninguém de outro grupo mexe. "Se outra pessoa roubar, dá problema", diz ela. É a lei do Lixão.
Com os R$150 que faz por mês, a garota sustenta o filho de três anos e ajuda a mãe, com quem mora. Aos domingos, sua única folga na semana, cuida da criança e sai para se divertir.
"Meu filho nunca vai pisar aqui. Quero que ele estude e tenha tudo que eu não tive."
Andréa diz que gostaria de ser empregada doméstica, mas que não consegue emprego. "Trabalhar aqui é muito sofrido, mas pelo menos é honesto. É melhor que sair por aí roubando os outros."
O filho passa o dia com uma vizinha, enquanto a mãe garante o sustento da casa. "O pai dele era um folgado, não queria saber de trabalhar. Um dia me cansei e botei o vagabundo pra correr."
Quando sobra um tempinho, ela desafia os garotos no fliperama, onde gasta cerca de R$ 20 por mês, e vai dançar nos bailes da região. Não frequenta shopping centers e não se lembra da última vez em que foi ao cinema. Em casa, não tem TV, só um rádio, onde escuta seus grupos de rap e pagode favoritos. "Gosto do movimento hip hop. Eles falam sobre coisas que nós vemos no nosso dia-a-dia". Seu grupo preferido é o Faces da Morte.
Andréa está namorando um rapaz que também trabalha no Lixão, mas não quer nem ouvir falar em casamento. "Sou muito nova, e os homens são muito folgados. Só faltava arrumar mais um para sustentar", brinca.
Apesar da rotina dura, Andréa está sempre sorridente. "Queria fazer medicina para ajudar os outros. E meu sonho mesmo é conhecer Nova York."


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