São Paulo, segunda-feira, 01 de maio de 2000


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Jovem deixaria tráfico por família


da Reportagem Local

Márcio (nome falso), 21, foi outro que entrou na "profissão" quase sem perceber. "Quando tinha sete anos, já ajudava meus irmãos. Guardava as armas deles, esse tipo de coisa. Hoje, um deles está preso, o outro saiu dessa vida." Como já deu para perceber, Márcio é um jovem que vive no submundo: "Até já assaltei, mas é muito arriscado. Hoje só vendo maconha para os conhecidos", diz, enquanto se diverte jogando sinuca em um botequim.
Ele não parece estar muito preocupado com a situação. É falador, simpático, e não se importa em contar suas experiências, mesmo as mais dramáticas, como sua passagem pela Febem. "Uma vez a polícia entrou na minha casa e encontrou umas "paradas" dos meus irmãos. Como eu ainda era menor de idade, assumi a culpa."
Apesar da violência a que era submetido, diz que o período que passou na instituição (dos 15 aos 18 anos) teve um lado positivo: "Tive tempo para pensar na vida. Foi quando larguei o crack, por exemplo. O problema é que lá é tudo na base da porrada. É como querer ensinar um rato a não comer queijo", filosofa. Também garante que nessa época conheceu muita gente boa, que só estava na vida de crimes por pura necessidade financeira.
Márcio estudou em um colégio público até o segundo colegial. Diz que não volta para a escola porque "não dá dinheiro", e não pensa em fazer faculdade. Gasta boa parte dos R$ 2.000 que ganha por mês em roupas, video games e baladas. Pensa em comprar uma moto ou um carro, mas diz que não pode porque chamaria a atenção da polícia.
O que sobra, guarda para quando resolver largar a vida de crimes. "Quando ficar mais velho, quero ter meu teto, casar com uma mulher legal e ter filhos. Daí não vou querer mais essa vida. Não vou me importar se tiver de trabalhar o mês inteiro para ganhar R$ 500, porque já vou ter curtido a balada."
Ele garante que, se pudesse escolher, não entraria para a bandidagem novamente: "É uma vida muito sofrida. Já perdi muitos amigos que foram fazer um assalto e não voltaram", reflete. "Mas pelo menos não falta nada em casa, nem para minha mãe nem para meus sobrinhos." (GG)


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