São Paulo, segunda-feira, 01 de maio de 2000


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Ataques de estrelismo! Egos descontrolados! O rock é ridículo!


ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
colunista da Folha



"Quando os astros do rock enlouquecem." A chamada de capa não deixa dúvidas: a edição de maio da revista inglesa "Q" está nas bancas para ridicularizar nomes estabelecidos e, de quebra, nos fazer dar boas risadas. Melhor, impossível.
A "Q" traz uma compilação dos cem momentos mais ridículos da história do rock: delírios de auto-importância, ataques de estrelismo, megalomanias generalizadas, loucura terminal.
Não escapa ninguém. De bandas esquecidas, como o pós-punk Killing Joke, às ultracomerciais Spice Girls, passando, é claro, pelas grandes estrelas do rock progressivo, esse gênero que, vitimado por suas pretensões "artísticas", se transformou em sinônimo da palavra ridículo.
Sobra até para os sacrossantos Beatles, que surgem na centésima posição com seu filme malogrado "Magical Mistery Tour".
O incriticável Marvin Gaye também está lá, na posição 98, por causa de sua tentativa, nos anos 70, de se tornar jogador de futebol americano.
Em 96º, vem a maior banda de todos os tempos na opinião de "Escuta Aqui", o Clash. Tudo porque esses punks ingleses encasquetaram de lançar um álbum triplo, "Sandinista!". Por um motivo parecido (álbum quádruplo), o grupo americano Chicago emplaca a 90ª posição.
A lista é de morrer de rir. Grateful Dead toca nas pirâmides (92ª); os Beach Boys ficam amigos do assassino Charles Manson, achando que ele era um cara legal (79ª); Jimmy Page, guitarrista do Led Zeppelin, se envolve com bruxaria (85ª); Mel C, das Spice Girls, vira "punk" (74ª).
Um tanque de guerra em forma de tatu foi a maior atração da turnê de 1971 de Emerson, Lake and Palmer e, tantos anos depois, levou seus mentores ao 22º lugar da relação da "Q". Caso parecido com o do tecladista Rick Wakeman, que lhe garantiu um formidável segundo posto graças a seu espetáculo inspirado nas lendas do rei Artur, em 1975, com uma orquestra completa, coral de 46 pessoas e 26 figurantes fantasiados de cavaleiros.
Pink Floyd, a banda predileta de brasileiros saudosos, também foi lembrada (62ª), pela "genial" idéia do líder Roger Waters, em 1977, de construir um muro gigantesco entre os músicos e a platéia.
Falando em preferências verde-amarelas, não poderiam faltar os metaleiros do Deep Purple (56ª), pelas gravações com a Orquestra Real Filarmônica de Londres. Diz o verbete que, em certo momento, uma violoncelista se retirou em protesto, acusando os cabeludos de "Beatles de segunda categoria".
O Brasil aparece com destaque na 43ª posição, reservada a Sting e suas pretensões de salvar a floresta amazônica. Ele posa ao lado do índio Raoni, chamado de "o homem com um CD no beiço".
É justamente o caráter de metralhadora giratória o ponto mais elogiável da compilação da "Q". Fazer piada com os cachorros mortos do rock progressivo é fácil, então eles estendem suas bordoadas a muitos intocáveis: David Bowie, os alternativos Flaming Lips, o reggaeman Lee Perry, Jim Morrison (dos Doors), Bob Dylan e muitos outros.
Pena que revistas estrangeiras custem preços indecentes no Brasil, porque a "Q" de maio é uma aula de como analisar música pop com conhecimento e bom humor. Para quem tem Internet, vale uma conferida no site: www.qonline.co.uk.
Ah, você quer saber quem ficou em primeiro? O insuperável Michael Jackson, que mandou construir uma estátua de si mesmo e a botou para flutuar no rio Tâmisa.

Aconteceu na semana passada uma das mais importantes reviravoltas no mundo da música, desde o surgimento da Internet. O milionário grupo americano Limp Bizkit, o rei do chamado rap metal, anunciou uma turnê de quatro semanas com ingresso grátis!
Tudo graças ao patrocínio de ninguém menos que a empresa Napster, a mesma que bolou o programa de computador mais odiado pela indústria da música.
Com o Napster, computadores do mundo inteiro compartilham suas memórias. Assim, para baixar uma música, você não precisa entrar num site (que pode cobrar para liberar a canção). Você procura o que quer dentro dos computadores de outras pessoas, e faz o download diretamente.
É uma rede infinita e sem controle. Ninguém paga ou recebe direito autoral nessa história.
Metallica e Dr. Dre já entraram na justiça contra a Napster, e várias faculdades, com medo de processos, já proibiram o acesso ao Napster em seus potentes computadores.
E o que o Limp Bizkit acha? Com a palavra, o líder, Fred Durst: "Não estamos nem aí se a velha geração quer manter tudo como está. Estamos preocupados com nossos fãs e sabemos que eles querem música pela Internet".

Com graus variados de fúria, três leitores escreveram para corrigir "Escuta Aqui", que, na semana passada, chamou de "rock experimental americano" a banda alemã Mouse on Mars.
OK, reparo registrado.
Mas isso me lembra uma história do Chacrinha, há uns 20 anos. Sem saber qual era a próxima atração, ele deu uma olhada furtiva nos bastidores e avisou: "Vamos receber... Fernaaaaando Mendeeeees!".
Mas o rapaz que entrou, apesar de certa semelhança, não era o cantor de "Cadeira de Rodas" . Meio sem jeito, alertou o Velho Guerreiro.
Sem titubear, Chacrinha devolveu: "Ah, não é? Mas tu é a cara do Fernando Mendes!".
O mesmo vale para o Mouse on Mars: não é rock experimental americano, mas que parece, parece.


Álvaro Pereira Júnior, 37, é jornalista e mora em San Francisco. E-mail: cby2k@uol.com.br.



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