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MÚSICA
Jota Quest resgata funk e soul em "Discotecagem Pop Variada"
Black music cor de laranja
Tuca Vieira/Folha Imagem
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Da esq. para a dir., PJ, Paulinho Fonseca, Rogério Flausino, Marcos Tulio e Márcio Buzelin, do Jota Quest |
FERNANDA MENA
DA REPORTAGEM LOCAL
Se você é daqueles que conheceram o quinteto mineiro Jota
Quest a partir do hit "Fácil" e que
gostaram dele, deve ser um sujeito
no mínimo acomodado, daqueles
que ligam o rádio e têm preguiça de
mudar de estação. A canção é uma
das mais babas que a banda já produziu em sua carreira, sua letra não
tem pé nem cabeça, e a melodia poderia estar embalando os sucessos
saltitantes da Xuxa.
Toda essa "facilidade" do hit acabou escondendo as origens da banda, que surgiu tocando pop com
forte influência da música negra
norte-americana e dos gritos da
black music que ecoaram por aqui
com Jorge Benjor, Tim Maia, Cassiano, Toni Tornado, Hyldon e Banda Black Rio.
Pois, desde "Jota Quest", o primeiro álbum do grupo lançado em
96, os rapazes trilharam um caminho ladeira acima na escala do sucesso e ladeira abaixo no quesito
pretensão versus resultado.
Açucararam suas canções, venderam a alma para a Fanta, tropeçaram no rock de "Oxigênio" e deixaram de lado as letras de temática social e ecológica.
Se, por um lado, sobram apenas
farelos de qualquer tipo de relevância nas fracas letras de "Discotecagem Pop Variada", novo disco do
Jota Quest, por outro, os mineiros
tiveram peito para retomar a maior
virtude de sua carreira. O acento na
referência funk retorna bem quando se esperaria um "Fácil 2" camuflado de novidade.
"Quem conhece o Jota Quest desde o início da nossa carreira vai gostar muito do disco porque ele foi feito de modo muito semelhante ao
primeiro CD", avisa o vocalista Rogério Flausino, 30, em entrevista ao
Folhateen. "Se existe um desvio na
nossa carreira ele foi "Oxigênio'",
admite PJ.
"Na nossa salada, a black music
tem duas pitadas. Esse disco vem na
contramão de todo o pop rock que
está rolando hoje. Foi um processo
inevitável e sincero", explica o guitarrista Marco Túlio Lara, 31.
Pop variado
O título escolhido para o álbum faz
jus a seu conteúdo. O funk-soul de
outros tempos surge em boa forma
no casamento do baixo, muito bem
executado por PJ, com a bateria de
Paulinho. Mas ele vem acompanhado de um clima disco -como em
"A Gente", faixa turbinada pela contribuição do produtor Apollo 9- e
de canções pop grudentas, como
"Mais uma Vez", perfeita para as rádios.
"Discotecagem Pop Variada" vem
também com um espírito "começar
de novo" confesso. "Estamos começando tudo outra vez, e daí?", brada
Flausino. "Estamos na moral", diz,
em alusão à faixa, composta por
Wilson Sideral, que já toca por aí.
Com a posição de destaque que
ocupa no universo pop brasileiro, o
Jota Quest poderia arriscar mais. No
entanto o revival de sua veia "black"
pode ser o prenúncio de que "dias
melhores virão" quando o assunto é
a qualidade de sua música.
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