São Paulo, segunda-feira, 01 de julho de 2002

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MÚSICA

Jota Quest resgata funk e soul em "Discotecagem Pop Variada"

Black music cor de laranja

Tuca Vieira/Folha Imagem
Da esq. para a dir., PJ, Paulinho Fonseca, Rogério Flausino, Marcos Tulio e Márcio Buzelin, do Jota Quest


FERNANDA MENA
DA REPORTAGEM LOCAL

Se você é daqueles que conheceram o quinteto mineiro Jota Quest a partir do hit "Fácil" e que gostaram dele, deve ser um sujeito no mínimo acomodado, daqueles que ligam o rádio e têm preguiça de mudar de estação. A canção é uma das mais babas que a banda já produziu em sua carreira, sua letra não tem pé nem cabeça, e a melodia poderia estar embalando os sucessos saltitantes da Xuxa.
Toda essa "facilidade" do hit acabou escondendo as origens da banda, que surgiu tocando pop com forte influência da música negra norte-americana e dos gritos da black music que ecoaram por aqui com Jorge Benjor, Tim Maia, Cassiano, Toni Tornado, Hyldon e Banda Black Rio.
Pois, desde "Jota Quest", o primeiro álbum do grupo lançado em 96, os rapazes trilharam um caminho ladeira acima na escala do sucesso e ladeira abaixo no quesito pretensão versus resultado.
Açucararam suas canções, venderam a alma para a Fanta, tropeçaram no rock de "Oxigênio" e deixaram de lado as letras de temática social e ecológica.
Se, por um lado, sobram apenas farelos de qualquer tipo de relevância nas fracas letras de "Discotecagem Pop Variada", novo disco do Jota Quest, por outro, os mineiros tiveram peito para retomar a maior virtude de sua carreira. O acento na referência funk retorna bem quando se esperaria um "Fácil 2" camuflado de novidade.
"Quem conhece o Jota Quest desde o início da nossa carreira vai gostar muito do disco porque ele foi feito de modo muito semelhante ao primeiro CD", avisa o vocalista Rogério Flausino, 30, em entrevista ao Folhateen. "Se existe um desvio na nossa carreira ele foi "Oxigênio'", admite PJ.
"Na nossa salada, a black music tem duas pitadas. Esse disco vem na contramão de todo o pop rock que está rolando hoje. Foi um processo inevitável e sincero", explica o guitarrista Marco Túlio Lara, 31.

Pop variado
O título escolhido para o álbum faz jus a seu conteúdo. O funk-soul de outros tempos surge em boa forma no casamento do baixo, muito bem executado por PJ, com a bateria de Paulinho. Mas ele vem acompanhado de um clima disco -como em "A Gente", faixa turbinada pela contribuição do produtor Apollo 9- e de canções pop grudentas, como "Mais uma Vez", perfeita para as rádios.
"Discotecagem Pop Variada" vem também com um espírito "começar de novo" confesso. "Estamos começando tudo outra vez, e daí?", brada Flausino. "Estamos na moral", diz, em alusão à faixa, composta por Wilson Sideral, que já toca por aí.
Com a posição de destaque que ocupa no universo pop brasileiro, o Jota Quest poderia arriscar mais. No entanto o revival de sua veia "black" pode ser o prenúncio de que "dias melhores virão" quando o assunto é a qualidade de sua música.



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